Ídolos #2: Carlinhos

Ídolos #2: Carlinhos

Comecei na categoria dos Ídolos com meu ídolo particular, Obina, que também é ídolo da Nação. Agora, um ídolo que nunca vi jogar, mas que deve ser ídolo de cada flamenguista. É o Luís Carlos Nunes da Silva, o Carlinhos.

Tem jogadores que jogaram em todos os quatro clubes do Rio, como o Léo Moura ou o Paulo César Caju, que talvez um dia terão o artigo deles na categoria dos Idolos. Outros jogaram no Flamengo e no Vasco, no Flamengo e no Fluminense, outros no Flamengo e no Botafogo ou em 3 dos 4 clubes. Dessa lista, tem ídolos e menos ídolos, tem o Romário e Petkovic, que com certeza um dia terão o artigo deles na categoria. Tem jogadores que no Rio só jogaram no Flamengo como Arrascaeta e Gabigol, os novos ídolos. E tem jogadores que no Brasil só jogaram no Flamengo como Zico e Júnior, os maiores ídolos.

E tem jogadores como Carlinhos, que na carreira inteira, só jogaram no Flamengo. Ao lado deles, ainda menos jogadores, e da classe dele, só Leandro. Carlinhos é um nome a parte na lista dos ídolos de Flamengo. Meio-campista clássico, tinha tanta classe que o apelido dele, o Violino, porque seu futebol parecia música clássica. Adoro o apelido dele, acho um dos mais estilosos do futebol brasileiro. O Violino, que jogava futebol como um Mozart tocava música.

Luís Carlos Nunes da Silva nasceu no 19 de novembro de 1937 e chegou no Flamengo em 1954. Nesse ano, recebeu as chuteiras do Biguá, em fim de carreira, como símbolo, um presente de um craque antigo para o novo craque. E não foi um erro. Carlinhos começou como profissional em 1958, mas era reserva do Dequinha. Depois, Dequinha quebrou a perna e Carlinhos virou titular ao lado do Gérson, para formar um meio-campo de tanta técnica, de tanta classe, que não parecia justo para os adversários. Fez seu primeiro gol em 1959, jogou numa excursão na Europa em 1960, ganhou o Rio – São Paulo em 1961. Agora a palavra para a Revista do Esporte em agosto de 1961: “Carlinhos pode ser apontado como um dos melhores médios de apoio do futebol carioca. Clássico e inteligente, fez com que a torcida do Flamengo esquecesse mais depressa seu antigo ídolo Dequinha, de quem Carlinhos herdou muitas qualidades no manejo da pelota. Quando se fala dos nomes dos craques que irão ao Chile, em 1962, o nome do centromédio rubro-negro vem à baila, numa prova do quanto o seu futebol vem sendo apreciado”.

Foi pre-convocado para a Copa de 1962, mas finalmente não fez parte de uma lista onde tinha muitos, muitos campeões do mundo de 1958. Não vi Carlinhos jogar, nem o Zequinha do Palmeiras, que foi convocado, mas acho uma injustiça. Carlinhos merecia ser campeão do mundo, não foi, mas foi campeão carioca, em 1963, no maior Fla-Flu da história, pelo menos de ponte de vista do publico, 194.603 torcedores para admirar o futebol do Violino. Em 1970, para a revista Placar, Carlinhos falou: “Mesmo que vivo cem anos, não posso esquecer o 0 a 0 contra o Fluminense, em 63, quando fomos campeões. Foram minutos de tensão e luta. A própria torcida, normalmente tão barulhenta, só conseguiu gritar no fim da partida, e aí foi um carnaval na cidade inteira”.

Infelizmente, Carlinhos não viveu 100 anos, nos deixou em 2015. Mas teve tempo suficiente para fazer muitas coisas, ganhar um outro campeonato carioca, em 1965, ganhar o Belfort Duarte, para completar dez anos sem nenhuma expulsão, além de clássico, o futebol do Violino era limpo. Como técnico, de novo no Flamengo, ganhou o Brasileirão em 1987 e 1992. Para mim, é o maior técnico da história do Flamengo, por causa dos títulos, da ligação com o clube e com a torcida, da longevidade. Foram 830 jogos no Flamengo, 517 como jogador e 313 com técnico.

E Carlinhos fez uma coisa a mais para o Flamengo. Como Biguá deu para ele as chuteiras no fim da carreira, na sua própria fim da carreira, Carlinhos deu as chuteiras para um jovem jogador, um certo Zico. Por isso, Zico foi o escolhido para escrever o prefácio do livro Carlinhos, um maestro no meio-campo rubro-negro, de Renato Zenata e Bruno Lucena, que também vai ser o fim deste artigo: “Quando eu já estava há três anos no Flamengo, ele parou de jogar e eu fui o garoto escolhido para receber as chuteiras dele. Era um cara espetacular. Aquela tranquilidade, delicadeza, na forma como ele tratava todo mundo, envolvidos ou não no trabalho dele. Uma pessoa de diálogo. Gostava de falar sobre futebol e também era professor. Naturalmente, por dar aulas em escolas, estar toda hora diante de alunos, isso facilita, te dá muito cancha para você se relacionar com as pessoas, porque não é fácil comandar. Ser professor o ajudou muito como treinador de futebol.

E vejam vocês como é o destino. Eu pude entregar a ele a camisa do meu último jogo pelo Kashima. Foi contra o Flamengo, e o Carlinhos era o técnico. Pude retribuir o que ele havia feito por mim”.

25 respostas para “Ídolos #2: Carlinhos”.

  1. Avatar de Ídolos #4: Adriano – Francesguista

    […] para colocar nesse ranking os ídolos antigos, como Leônidas, Domingos, Zizinho, Dida, Carlinhos. Prefiro fazer um ranking a partir da Era Zico, com Zico no topo claro. Na 2a colocação, como o […]

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  2. Avatar de Times históricos #5: Flamengo 1964 – Francesguista

    […] Henrique, o meio-campista Nélson, o atacante Aírton. Tinha o ídolo, Carlinhos, de quem já falei aqui. E tinha também o gringo, Espanhol, chamado assim porque nasceu na Espanha. Se mudou no Brasil com […]

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  3. Avatar de Jogos eternos #22: Gama 2×4 Flamengo 2000 – Francesguista

    […] 30 de setembro de 2000, no antigo estádio Mané Garrincha, o saudoso Carlinhos escalou Flamengo assim: Júlio César; Bruno Carvalho, Fernando, Ronaldo, Athirson; Leandro Ávila, […]

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  4. Avatar de Times históricos #10: Flamengo 2000 – Francesguista

    […] lugar de Carpegiani, chegou um outro ídolo, ainda mais ídolo, Carlinhos, sobre quem já escrevi aqui. Ídolo como jogador, onde só jogou no Flamengo, e ídolo como […]

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  5. Avatar de Jogos eternos #33: Bangu 0x2 Flamengo 1999 – Francesguista

    […] muito lindo, que tenho na minha coleção, com a camisa 11 de Romário. Lindo, muito lindo. O saudoso Carlinhos escalou Flamengo assim: Clemer; Fábio Baiano, Luís Alberto, Fabão, Athirson (Marco Antônio); […]

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  6. Avatar de Jogos eternos #40: Flamengo 2×1 Botafogo 1991 – Francesguista

    […] de outro torcedor botafoguense, este voltaria a ser personagem do jogo. Para pôr fim ao jejum, o saudoso Carlinhos escalou Flamengo assim: Gilmar, Charles Guerreiro, Wilson Gottardo, Rogério, Piá; Uidemar, […]

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  7. Avatar de Jogos eternos #46: Flamengo 7×0 Universidad de Chile 1999 – Francesguista

    […] num milagre: apenas 6.050 pagantes no Maracanã, mas 11 guerreiros em campo, escalados assim pelo saudoso Carlinhos: Róbson, Maurinho, Juan, Ronaldo, Marco Antônio; Leandro Ávila, Fábio Baiano (Marcelo Rosa), […]

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  8. Avatar de Jogos eternos #49: Flamengo 0x0 Fluminense 1963 – Francesguista

    […] o sistema defensiva do Flamengo ruiria, facilmente”. Flamengo tem o orgulho e a alegria de ter um ídolo como Carlinhos. No Jornal dos Sports, Álvaro Queirós também se curvou ao Carlinhos: “Carlinhos é um dos […]

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  9. Avatar de Jogos eternos #58: Flamengo 3×3 Racing 1992 – Francesguista

    […] estádios. Para a semifinal da Supercopa Libertadores, Flamengo optou pelo Pacaembu de São Paulo e o saudoso Carlinhos escalou Flamengo assim: Gilmar; Fabinho, Júnior Baiano, Rogério, Piá; Uidemar (Cláudio), […]

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  10. Avatar de Jogos eternos #60: Flamengo 2×0 Goiás 1983 – Francesguista

    […] o Corinthians e Guarani tinham ficado no empate, e Flamengo já podia fazer uma pequena diferença. Carlinhos, que dirigiu muitos jogos eternizados nesse blog, escalou Flamengo assim: Raul; Leandro (Gilmar […]

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  11. Avatar de Times históricos #18: Flamengo 1987 – Francesguista

    […] o primeiro turno do campeonato carioca, o técnico Sebastião Lazaroni foi mandado embora, o ídolo Carlinhos foi nomeado interino, mas Flamengo ficou no 0x0 nos três clássicos e ainda empatou ou perdeu […]

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  12. Avatar de Jogos eternos #77: Flamengo 2×0 Corinthians 1961 – Francesguista

    […] cheia de craques e de ídolos, como Gérson, Joel e Dida e sobretudo, com a classe e maestria de Carlinhos. No primeiro tempo, maior oportunidade do jogo foi de Dida, que acertou o travessão. No segundo […]

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  13. Avatar de Jogos eternos #79: Palmeiras 3×3 Flamengo 1999 – Francesguista

    […] a Era Romário. E sem seu maior craque, o time era menos impressionante. No 20 de dezembro de 1999, o saudoso técnico Carlinhos escalou Flamengo assim: Clemer; Maurinho, Célio Silva, Juan, Athirson; Leandro Ávila, Marcelo […]

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  14. Avatar de Ídolos #19: Zico – Francesguista

    […] Flamengo. Teve vários ídolos do Flamengo, ídolos de gerações, como Leônidas, Zizinho, Dida, Carlinhos, Leandro, Júnior, Romário, Julio César, Adriano, Obina, Hernane, Arrascaeta, Gabigol. Teve […]

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  15. Avatar de Jogos eternos #82: Grêmio 1×2 Flamengo 1999 – Francesguista

    […] nas fases anteriores. Jogo de ida foi no Olímpico, com 30.480 torcedores. No 21 de abril de 1999, o saudoso Carlinhos escalou Flamengo assim: Clemer; Fábio Baiano, Luis Alberto, Fabão, Athirson; Jorginho, Maurinho, […]

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  16. Avatar de Ídolos #23: Modesto Bría – Francesguista

    […] ganhou tudo no ano histórico de 1981. Também foi assistente de outro ídolo, no campo e no banco, o Violino Carlinhos, e de um ídolo apenas no banco porque era militar, Cláudio […]

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  17. Avatar de Times históricos #25: Flamengo 1955 – Francesguista

    […] e ainda reinava no meio de campo Dequinha, que substituiu Modesto Bría e será substituído pelo Carlinhos, só craques, só ídolos. Evaristo de Macedo, artilheiro da temporada com 34 gols, rompeu os […]

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  18. Avatar de Jogos eternos #118: Botafogo-PB 3×3 Flamengo 1999 – Francesguista

    […] no Nordeste, terra de flamenguistas. Foi mais uma vez o caso no 28 de fevereiro de 1999, quando o ídolo e eterno Carlinhos escalou Flamengo assim: Clemer; Pimentel, Ronaldo, Fabão, Athirson; Jorginho, Narciso, Cleisson, […]

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  19. Avatar de Ídolos #31: Dida – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] Sem Pelé, Santos levou um 5×1, com dois de Dida e três de Gérson, que formava ao lado do ídolo Carlinhos um meio de campo jovem e de alta […]

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  20. Avatar de Jogos eternos #138: Atlético Nacional 0x1 Flamengo 1993 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] 19 de fevereiro 1993, o ídolo e técnico Carlinhos escalou Flamengo assim: Gilmar; Wilson Gottardo, Júnior Baiano, Rogério, Piá; Júnior, […]

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  21. Avatar de Ídolos #33: Júnior Baiano – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] Marselha. O primeiro gol com imagens chegou também em 1991, com mais um outro mestre no banco, o Violino Carlinhos. E foi para lembrar para sempre, falta do Maestro Júnior, cabeçada do Júnior Baiano, gol do […]

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  22. Avatar de Jogos eternos #176: Flamengo 4×3 Palmeiras 1999 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] no intervalo, nosso ídolo e técnico Carlinhos, mostrou que além da classe que tinha em campo, tinha estrela como técnico. Fez entrar em campo […]

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  23. Avatar de Jogos eternos #188: Bahia 1×1 Flamengo 1971 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] as chuteiras de outro ídolo do Flamengo, um dos maiores, se não o maior, da década de 1960, o Violino Carlinhos. Em 1971, ainda nos juvenis, Zico fez de pênalti contra Botafogo, seu primeiro gol no Maracanã. […]

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  24. Avatar de Ídolos #38: Filipe Luís – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] de grandes nomes que foram técnicos do Flamengo depois de brilhar com o Manto Sagrado: Zagallo, Carlinhos, Jayme de Almeida, Paulo César Carpegiani, Andrade. Já ídolo do Flamengo, falta a Filipe Luís […]

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  25. Avatar de Jogos eternos #258: Flamengo 2×1 Vasco 2000 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] Em 2000, como hoje, Flamengo buscava o bicampeonato carioca, depois de vencer Vasco na final de 1999. Por sua vez, Vasco vivia uma temporada 2000 conturbada. Foi vice no Mundial de clubes, vice no Torneio Rio-São Paulo. Foi eliminado na Copa do Brasil pelo Fluminense, que ainda navegava entre a Série C e a Série A. Mais do que isso, tinha a dupla explosiva Romário x Edmundo, e o inesquecível “agora a corte está toda feliz: o rei, o príncipe e o bobo” de Romário. Mas Vasco tinha um grande time, no jogo decisivo da Taça Guanabara, Flamengo abriu o placar, mas com 3 gols de Romário, Vasco venceu 5×1, já na metade do segundo tempo. Pedrinho achou gracinha de fazer embaixadinhas para provocar os jogadores do Flamengo, jogo acabou em pancada, confusão, briga e 3 expulsões de cada lado. O jogo foi o fim da linha para o técnico rubro-negro Paulo César Carpegiani, chegou logo depois outro ídolo da Nação, no campo e no banco, o eterno Violino Carlinhos. […]

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”