Difícil fazer um jogo tão histórico, um jogo tão eterno que esse jogo do 23 de novembro de 2019. Só pode ter o 3×0 contra Liverpool na frente, e ainda é questão de preferência. O jogo contra Liverpool já era ganhado no fim do primeiro tempo. O jogo contra River não, bem ao contrário.
Já falei que o consulado da Fla Paris foi fundado em 2019 e meu primeiro jogo com a galera foi o cincum, na casa do consulado do Grêmio. Para a final, agora a Fla Paris tinha sua própria casa, jogo foi na sala em baixo do Belushi, um bar gigante especializado com transmissão de eventos esportivos.
Em Paris, tinha muita emoção e muito estresse no pré-jogo. Mas não só em Paris, em todos os lugares do mundo onde tinha pelo menos um flamenguista, tinha estresse. Porque final de Libertadores é assim, é diferente de qualquer jogo. Ainda mais quando faz 38 anos que seu time não jogou uma final de Libertadores. Era uma anomalia e também a lembrança que antes disso foram muitos anos de sofrimento, de decepções e às vezes até de vergonha.
Mas Flamengo foi tudo diferente em 2019. Esse time obviamente merece um capítulo à parte na categoria dos times históricos. Fez coisas bonitas em muitos lugares, mas fez história em Lima. Já era um jogaço antes do primeiro minuto, contra o vencedor da última edição, River Plate. Flamengo podia ser o favorito, mas não de muito. E foi tudo pior depois de apenas quatorze minutos de jogo, com o gol de Borre. Flamengo 0x1 River Plate.
Depois foi de novo sofrimento, medo de perder, de deixar mais uma oportunidade de gritar é campeão, de ser rei da América. No intervalo, no Belushi, nós fomos da sala de baixa para a de cima. Na sala de baixa, tinha talvez 60-70 pessoas, que já era muito bom para um consulado de 2 meses de existência. Mas quando fomos na sala principal, tinha ainda mais flamenguistas, no total talvez 200 flamenguistas doentes, estressados, mas era muito bom de ver toda essa força. Apesar da derrota parcial, esse momento foi de euforia para mim, de ver o tamanho dessa torcida. Em Paris, no RJ, em Lima.
Em Lima, a torcida estava lá. Flamengo não era 11 homens, era muito mais. Em Paris, a sala virou um caldeirão, tinha gritos a cada lances de perigo, gritos de desespero, de esperanças, de ódio, de fé. E o milagre aconteceu. O gol de empate foi uma síntese do que aconteceu durante o ano, com a participação de cada jogador de um trio eternizado na história do futebol brasileiro. De Arrascaeta é uruguaio, não é só técnica, também é raça, e foi no carrinho que recuperou a bola dos pés argentinos. A bola foi nos pés do Bruno Henrique. Fez uma jogada de craque, esperou um pouco, driblou, acelerou, ficou entre quatro zagueiros e teve o tempo suficiente para achar de novo Arrascaeta, já uma lenda do futebol brasileiro. Nosso Arraxxxca fez o passe, caindo no chão, na raça, no coração. Não foi o gol mais difícil da carreira do Gabigol, mas com certeza foi o mais importante da carreira dele até esse momento. Flamengo 1×1 River Plate.
Gol foi no minuto 44 do segundo tempo. Confesso que queria ser minuto 43, porque um gol tão emocionante, talvez só o do Petkovic contra Vasco na hora do tri. E confesso também que a alegria não foi total para mim em Paris, porque no final do jogo, a retransmissão do bar travou um pouco. Então alguém foi na internet, vi que Flamengo tinha empatado, gritou, a palavra foi de boca a boca, Flamengo tinha empatado antes de ver o gol na televisão. E foi a mesma coisa com o gol da virada.
Confesso que ainda fico puto com isso. Talvez escapei de uma parada cardíaca mas queria viver esse momento ao vivo, sem saber, como se estava em Lima. Sempre que tenho a oportunidade, assisto ao segundo gol. Última vez foi anteontem, dia do terceiro aniversário da Fla Paris, lá na Gávea, na loja do Flamengo. Posso assistir da TV brasileira, prefiro a versão de João Guilherme do que a do Luís Roberto, da TV argentina ou ainda melhor, da arquibancada. Tudo foi perfeito nesse gol, da bola do Diego, não importa se foi chutão ou cruzamento, foi assistência para o anjo Gabigol, que, empurrado pela torcida, chutou, com força, com precisão, com coração, para ficar marcado na história, para fazer o gol mais importante da carreira dele. Flamengo 2×1 River Plate.
O estádio monumental de Lima agora é eternizado, sempre conectado com o espírito rubro-negro. É de arquitetura linda, mas é de história ainda maior. 23 de novembro é eterno para os rubro-negros, em 1981 com dois de Zico em Montevidéu, e em 2019 com dois de Gabigol em Lima e uma virada até hoje incrível. Flamengo, o Rei da América.








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