Para hoje, um dos dias mais importantes da história do Flamengo, não vamos de um jogo eterno contra o Athletico Paranaense, até porque já escrevi sobre a última final contra o clube paranaense, o tri da Copa do Brasil em 2013. Eu vou então de uma final de Libertadores vencida pelo Flamengo, e como já escrevi também sobre o milagre de Lima em 2019, vamos da primeira conquista do Flamengo na competição, contra Cobreloa em 1981.
Eu também já escrevi sobre o time histórico de 1981, o maior time da história do Flamengo. Vamos então diretamente para a final, contra Cobreloa, time chileno que, como Flamengo, estreava na competição. O jogo de ida, no Maracanã, teve marca de gênio, com dois gols de Zico. O jogo de volta, no Estádio Nacional, teve marcas de sangue, com o zagueiro Mario Soto agredindo Adílio, Lico e Tita com pedra na mão que o juiz fingia não ver. Na época, não tinha uma final única, mas teve um jogo de desempate, no Centenario de Montevidéu, onde alguns meses antes a Seleção tinha perdido o Mundialito contra os donos da casa. O Centenario, palco também da primeira final da Copa do Mundo. Um estádio que infelizmente não será tão feliz para o Flamengo 40 anos depois da glória de 1981.
No 23 de novembro, dia histórico para o Flamengo, Paulo César Capergiani escalou o time assim: Raul; Nei Dias, Marinho, Mozer, Júnior; Andrade, Leandro, Zico; Adílio, Tita, Nunes. Um time histórico, e uma ousadia de Carpegiani, que escalou Leandro no meio de campo, Lico não podendo jogar por causa da violência e das batidas do Mario Soto. Mas Leandro é craque em qualquer lugar de campo, se não tinha Zico, poderia ter jogado com a camisa 10. Mas graças a Deus, Zico estava lá.
Flamengo entrou em campo com as camisas dos juniores, as camisas do time principal foram perdidas em algum lugar do aeroporto de Santiago. Zico recusou de apertar a mão de Mario Soto. Fez certo. Mario Soto não estava aqui para jogar bola, estava lá para bater, com arma não mão. Se fosse na rua e não num campo de futebol, seria preso com toda justiça. Mas a justiça no futebol é muitas vezes diferente. No Centenario, o jogo começou com muita violência dos chilenos, como no Estádio Nacional. E no Centenario, o jogo começou com gol de Zico, como no Maracanã.
O primeiro gol de Zico pode parece ser sorte. Mas não é. É o gol de quem acredita, de quem não desiste. Zico é cercado por quatro jogadores, perde a bola, mas não desiste, fazendo a pressão. Com a ajuda de Andrade e Adílio, a bola volta nos pés de Zico. Na verdade, volta só no pé direito de Zico, que com um toque só, já manda a bola no fundo das redes. Golaço. Flamengo 1×0 Cobreloa.
Depois, Alarcón é expulso por falta dura e o jogo fica mais fácil entre um time que sabe jogar futebol e um outro que gosta de bater. Mas mesmo assim, Cobreloa não desiste da violência. No segundo tempo, mais uma falta, com uma oportunidade boa para o Flamengo. Na verdade, uma grande oportunidade quando o batedor se chama Zico. O Rei Arthur já tinha batido uma falta no jogo no Maracanã, já tinha observado que o goleiro fazia antecipação, já sabia que ia bater no outro lado, no contrapé. Pensou com a cabeça, matou com o pé. Golaço. Flamengo 2×0 Cobreloa.
O jogo estava quase acabado, o Flamengo enfim era oficialmente o dono da América. E o Carpegiani fez o que milhões de rubro-negros sonhavam. Fez entrar Anselmo, que realizou o sonho de uma Nação, a Nação do Flamengo e também quem não era flamenguista, mas que se apaixonava com um time que jogava um futebol maravilhoso, mesmo contra muita violência. Anselmo atendeu ao pedido especial de Carpegiani, entrou no jogo, não procurou a bola, procurou o Mario Soto. No livro 1981, o ano rubro-negro de Eduardo Mansanto, Zico fala: “O Brasil inteiro queria dar uma porrada no cara por tudo que tinha acontecido. O Anselmo, já entrou, encostou do lado e deu-lhe uma jamantada. O cara arriou! Capotou. Estava terminando o jogo, ninguém viu! A gente só viu depois os caras correndo atrás dele. Por que estão correndo atrás dele? Alguma coisa aconteceu, não é”. Acho que foi justo.
O pedido do Carpegiani, a realização perfeita de Anselmo ficaram na história desse jogo eterno. E quem fica na história do futebol é o Flamengo de 1981, é o Zico, nosso perfeito craque, que mais uma vez brilhava com o Manto Sagrado e fazia do Flamengo, ainda não oficialmente, o melhor time do mundo.








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