Infelizmente, uma semana depois da homenagem ao Rei Pelé e o jogo eterno contra o Atlético Mineiro em 1979, uma nova homenagem a um ídolo do futebol brasileiro, Roberto Dinamite. Roberto Dinamite nunca vestiu a camisa do Flamengo, mas fez Zico vestir a camisa do Vasco. Isso basta a mostrar quanto foi tão grande o Roberto Dinamite.
Roberto Dinamite foi uma espécie de Zico para os vascaínos. A classe em campo, os gols, de falta ou de voleio, mas também a classe fora dos gramados, honrou a camisa de seu clube de sempre, e sempre respeitou os outros clubes, as outras torcidas. Por isso Roberto Dinamite e Zico são tão respeitados no mundo do futebol.
Durante quase duas décadas, Zico e Roberto Dinamite fizeram do Flamengo x Vasco um dos maiores clássicos do Rio, se não o maior. Foram muitos duelos entre Zico e Roberto Dinamite, desde a base, o Zico é apenas um ano mais velho do que Roberto Dinamite. No profissional, ainda mais jogos, com pequena vantagem para Roberto Dinamite: 42 jogos, 13 vitórias do Vasco, 17 empates, 12 vitórias do Flamengo, 22 gols do Roberto Dinamite, 14 gols do Zico.
Foram muitos duelos, uma rivalidade muito grande. No site Eusoumengao, Zico explica: “Tinha uma rivalidade nossa, de Flamengo e Vasco, dentro do campo, mas existia uma amizade muito grande. Nossas mães assistiam os jogos juntas. E acho que desde a época de juvenil a gente já jogava contra. Então a gente nunca precisou ficar falando um do outro para motivar e levar mais de 100 mil pessoas ao Maracanã”. Tive muitos duelos, era só escolher o jogo certo para mais um jogo eterno. Pensei, como Pelé contra o Galo, a um jogo de 1979. Um jogo do campeonato carioca especial, com golaços de Roberto Dinamite e Zico. Um voleio de Roberto Dinamite, e um gol de cabeça de Zico, depois de toques de cabeça de outros dois companheiros. Foi um jogo qualquer do segundo turno, a quinta rodada, mas com 122.596 presentes no Maracanã. Não era um jogo qualquer, era um jogo entre o Flamengo de Zico e o Vasco de Roberto, mas 122.596 pessoas para um jogo não-decisivo é coisa de outros tempos. Coisa de Zico e Dinamite. Mas Flamengo finalmente ganhou esse jogo e achei feio homenagear Roberto Dinamite com uma derrota.
Pensei então num jogo do Brasileirão 1975, com um gol de Zico e dois gols de Roberto. Um ano antes, Zico se tornava titular absoluto do Flamengo, maior craque do time. Roberto Dinamite fazia ainda mais, com apenas 20 anos, foi campeão brasileiro e artilheiro do torneio. No Flamengo – Vasco do Brasileirão 1975, Roberto Dinamite deu a vitória ao Vasco com um golaço de falta. Nesse aspecto do jogo, não era tão bom que o Zico – e quem seria?, mas com muito trabalho, Roberto foi um exímio batedor de faltas. Coisa de outros tempos. Também pensei no hat-trick de Dinamite no 4×2 contra Flamengo no campeonato carioca 1979, mas eu sou de um clubismo intenso e imenso, porém necessário e moderado. Não quero ver aqui Flamengo perder do Vasco.
Fui então de um jogo do campeonato carioca, também em 1975. Zico e Roberto Dinamite fizeram a história do campeonato carioca, com gols, títulos e jogadas de gênio. Na estreia do campeonato carioca 1975, Flamengo enfrentou Vasco. Na verdade, Vasco já tinha disputado um jogo antecipado, contra Portuguesa, Roberto Dinamite fazendo o primeiro gol do torneio. No 2 de março de 1975, Joubert escalou Flamengo assim: Renato, Júnior, Jaime, Luís Carlos, Rodrigues Neto; Liminha, Geraldo, Edson (Julinho); Paulinho, Zico, Doval. Do outro lado, Mário Travaglini escolheu nomes conhecidos como o goleiro Andrada, que tomou o gol 1000 de Pelé, Paulinho, que como Geraldo, que também disputou esse jogo, faleceu precocemente, com 23 anos de uma leucemia em 1977, e Edu Coimbra, irmão de craque, sim o irmão do Zico. E claro, no ataque, o camisa 10, Roberto Dinamite.
E foi Roberto Dinamite que abriu o placar, com um golaço. Recebeu um cruzamento de Luís Carlos, matou a bola de peito, e sem deixar a bola cair, empurrou as redes de Renato. No segundo tempo, Flamengo empatou, com outro golaço. Jogada começa nos pés de Zico, para o calcanhar de Edson, a trivela de Liminha e o golaço de Paulinho. Um golaço coletivo, e apenas dois minutos depois, um golaço individual, com Zico, que depois de um passe de Geraldo, driblou toda a defesa do Vasco, goleiro incluído, para virar o jogo. No final do jogo, aproveitando uma falha de Rodrigues Neto, Luís Carlos empatou e decretou o placar final: 2×2.
Um empate para a alegria ou a frustração de 55.715 torcedores presentes no Maracanã. No final do campeonato, o Fluminense de Rivelino foi campeão, e pela primeira vez, Zico se tornava o artilheiro do campeonato carioca, com 30 gols, 5 a mais do que o segundo, Roberto Dinamite, o que anunciava duelos disputadíssimos durante muitos anos. Quase 50 anos depois, fica a magia dos lances de Roberto Dinamite e Zico, fica agora na memória o gênio de Roberto, ficam pensamentos para a família dele e para o Zico, que perdeu o maior rival que o futebol lhe deu, mas que também perdeu um grande amigo, que ajudou a fazer do Flamengo x Vasco o Clássico dos Milhões e que deixou agora milhões de pessoas, vascaínos, flamenguistas ou apenas amantes de futebol, com muita tristeza.








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