Eu já falei na crônica sobre o jogo contra Bangu em 1999 que eu adorava o campeonato carioca, um dos melhores do mundo durante muitas décadas. Nos anos 1990, o nível caiu, mas ainda era o campeonato raiz. Eternizei aqui também um 5×3 contra o America, também em 1991, também com elementos raízes do futebol carioca. E o jogo contra Botafogo, também em 1991, também respira a alma do futebol carioca.
Era o último jogo da Taça Guanabara, o primeiro turno do campeonato carioca. Botafogo, ainda invicto, sonhava com o título, com 16 pontos. Flamengo, com 15 pontos, também podia ser o campeão. Mas o líder era Fluminense, com 17 pontos e que jogava nas Laranjeiras contra o America. Futebol raiz.
Flamengo vinha de um jejum contra o Botafogo no campeonato carioca. Nas edições de 1988 e 1989, foram 5 empates seguidos e no jogo de volta da final do campeonato de 1989, Botafogo ganhou e punha fim a um outro jejum, muito mais constrangedor, 21 anos sem título no campeonato carioca. No campeonato carioca 1990, Botafogo ganhou os dois jogos contra Flamengo, ou seja, foram 8 jogos seguidos sem vencer o Botafogo para nosso Mengo entre 1988 e 1990.
Mas no 21 de setembro de 1991, a história mudou. O palco, o de sempre, o Maracanã. Com pouco publico, apenas 10.311 espectadores, mas com uma geral antiga, um Maraca raiz. Radinho de pilha, torcedor botafoguense fumando o cachimbo, torcedor flamenguista nas costas de outro torcedor botafoguense, este voltaria a ser personagem do jogo. Para pôr fim ao jejum, o saudoso Carlinhos escalou Flamengo assim: Gilmar, Charles Guerreiro, Wilson Gottardo, Rogério, Piá; Uidemar, Júnior, Marquinhos, Zinho; Nélio, Gaúcho.
Flamengo era uma máquina, com um maestro, o Vovô-Garoto Júnior, ídolo do Flamengo. Passe sem olhar, dribles curtos, dois chapéus seguidos, um passe incrível de trivela, um show de um mestre. Com apenas 5 minutos de jogo, Júnior já brilhava no Maraca. Uma falta de perna direita na pequena área, uma cabeçada de Djair, e Rogério sobe mais do que Válber. Flamengo 1×0 Botafogo.
Depois, Valdeir empatou, com um autentico golaço, um gol de calcanhar. Ser flamenguista não impede de desfrutar um bom futebol, bem ao contrário. Flamengo 1×1 Botafogo. E no segundo tempo, Flamengo marcou, com um gol esquisito. Gaúcho errou o voleio, a bola foi nos pés de Nélio, que errou o chute, a bola foi nos pés de Gaúcho de novo, a bola foi na rede do Botafogo. Flamengo 2×1 Botafogo. Gaúcho era o artilheiro do campeonato nesse momento, com 9 gols, e seria também no fim do campeonato, com 17 gols.
No fim do jogo, Botafogo fez o gol do empate com Vivinho, mas o bandeirinha anulou um gol que parecia legítimo. E o torcedor botafoguense que carregou o flamenguista no início do jogo, não carregou a pressão no fim do jogo. Invadiu o campo, agrediu o bandeirinha, que rebateu, com a ajuda da própria bandeirinha. O torcedor valentão foi entrevistado e depois foi preso. Futebol carioca raiz.
No fim, Flamengo ganhou mas quem riu foi Fluminense, que conquistava a Taça Guanabara com um empate contra America. Mas quem riu por último é o Flamengo, campeão carioca 1991 em cima do Fluminense, de novo com um show de Júnior.








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