Aproveitando da janela internacional para voltar a um jogo internacional, na Copa Mercosul 1999. A Copa Mercosul foi criada um ano antes para ser a segunda competição continental na América do Sul. Na época, só tinha dois times para cada país na Copa Libertadores e a Copa Mercosul virou um torneio muito prestigioso. Na primeira edição, o Palmeiras de Arce, Zinho e Alex ganhou na final do Cruzeiro de Dida, Valdo e Müller.
Na edição de 1999, participaram os 5 grandes da Argentina (Boca, River Plate, Independiente, Racing e San Lorenzo) e o Vélez Sarsfield de José Luis Chilavert. Participaram também os 3 maiores do Chile (Colo-Colo, Universidad de Chile e Universidad de Catolica), os 2 maiores do Uruguai (Peñarol e Nacional) e os 2 maiores do Paraguai (Olímpia e Cerro Porteño). E no Brasil, 7 times, todos dos 12 gigantes originais do futebol brasileiro: Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Grêmio, Palmeiras, São Paulo e Vasco. Um torneio com 20 clubes, todos da elite do futebol sul-americano. Juntos, esses 20 times já conquistaram 420 campeonatos nacionais. A Copa Mercosul de 1999 talvez é o torneio mais disputado da história do futebol sul-americano.
Flamengo ficou no grupo E e começou com duas vitórias contra Olímpia e Colo-Colo. Em seguida, perdeu contra Universidad de Chile e o jogo de volta contra Olímpia. Depois de um empate contra Colo-Colo, a situação era complicada. Para se classificar, Flamengo precisava vencer do Universidad de Chile no último jogo e torcer para uma derrota do Colo-Colo para conquistar o segundo lugar. Ou, para depender apenas de si mesmo, se classificar como um dos melhores terceiros dos grupos. A condição era de ganhar pelo menos de quatro gols do Universidad de Chile. Parecia difícil, quase impossível mas nada é impossível para o Flamengo.
No 7 de outubro de 1999, uma quinta-feira de noite, poucos acreditavam num milagre: apenas 6.050 pagantes no Maracanã, mas 11 guerreiros em campo, escalados assim pelo saudoso Carlinhos: Róbson, Maurinho, Juan, Ronaldo, Marco Antônio; Leandro Ávila, Fábio Baiano (Marcelo Rosa), Beto; Caio (Iranildo), Leandro Machado (Rodrigo Mendes), Romário. Um time razoável com um craque diferenciado e que ia fazer a diferença, Romário.
Flamengo precisava ganhar, precisava golear, precisava atacar e começou o jogo atacando, fazendo gols, muitos gols. Com apenas 5 minutos, Fábio Baiano cruzou, Romário dominou no ar e sem deixar a bola cair no sol, procurou o gol de voleio. O goleiro defendeu, mas Caio foi o mais rápido para chegar na bola, chutar no gol, abrir o placar. Flamengo 1×0, jogo começou bem.
Depois, foi o início do show Romário. Com 16 minutos, dominou de peito e tentou um passe em profundidade. A defesa chilena interveio, mas Romário foi o mais rápido para chegar na bola. Escapou do carrinho de um defensor, driblou um zagueiro, driblou o outro, 3 defensores no chão e o goleiro na frente, que saiu do gol e já sabia o que ia acontecer. Com tranquilidade, será que Romário sabia fazer de outro jeito?, de meio bico meio trivela, deixou a bola na gaveta. E uma mensagem na camisa debaixo do Manto Sagrado para a torcida, para os fãs, para quem pode entender “Seja forte com força e fé, você saira desse”. Flamengo 2×0, a metade do caminho já estava feita.
Um minuto depois, apenas um minuto depois, uma saída duvidosa do goleiro, Fábio Baiano foi o mais rápido para chegar na bola e cruzou para Caio. Não tinha mais goleiro, mas tinha defensores na linha do gol. Defensores e Romário. A bola bateu no Romário, que, dando um carrinho, fez mais um gol. Romário também sabia fazer gols na raça. Flamengo 3×0, só faltava um gol.
E o gol salvador veio ainda no primeiro tempo. Leandro Ávila recuperou uma bola no campo da Universidad do Chile, deixou para Beto, na frente para Leandro Machado, que achou de cabeça na direita Fábio Baiano. Goleiro defendeu, Leandro Machado foi o mais rápido para chegar na bola, mas Vargas defendeu de novo. A bola flirtou com a linha do gol, e Romário foi o mais rápido para chegar na bola e a empurrar de trivela no fundo das redes. Flamengo 4×0, o terceiro do Romário, Flamengo classificado.
No segundo tempo, um drible de vaca de Leandro Machado na grande área e um chute, goleiro defendeu com o pé. Bola voltou fora da grande área, Marco Antônio foi o mais rápido para chegar na bola e chutar. Bola foi desviada, bola foi no gol. Flamengo 5×0, virou um show, agora sem a participação de Romário.
Mas claro, Romário não podia deixar de aparacer durante o jogo. Podia até desaparecer durante um tempo, fazer a defesa esquecer dele, e aparecer de novo no momento certo, na hora de fazer o gol. No lado esquerdo, Caio pegou a bola e voltou no centro do campo, evitando dois defensores. Fez um passe em diagonal sensacional para Romário, um domínio na direção do gol, e um chute sem muita convicção, mas suficiente para fazer o quarto dele no jogo. E mais importante, era o gol 200 do Baixinho com o Manto Sagrado. Flamengo 6×0, com mais um show do ídolo da torcida.
Flamengo estava classificado mas queria a maior goleada da história da Copa Conmebol. No final do jogo, de novo na direita, Maurinho cruzou na frente do gol. Romário desviou da ponta do pé para Rodrigo Mendes, que chutou forte, sem chance para o pobre goleiro. Flamengo 7×0, uma goleada histórica, um jogo eterno.
Com esse grande jogo e 4 gols de Romário, Flamengo se classificava nas quartas de final. Passou do Independiente, do Peñarol e, já sem Romário que brigou com a diretoria, conquistou a Copa Conmebol depois de mais dois jogos eternos contra Palmeiras. Um time campeão, que quase foi eliminado na primeira fase, mas era um time de raça e de coração, de força e fé, e de um gênio da grande área, Romário.








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