Jogos eternos #47: Flamengo 3×3 Fluminense 2017

Para a janela internacional, vamos de um jogo internacional, mas de um clássico da cidade, o clássico mais charmoso do Rio, o Fla-Flu. E um Fla-Flu muito especial para mim, o Fla-Flu da Copa Sudamericana em 2017, nas quartas de final.

Eu fui no Brasil pela primeira vez em 2014, para a Copa do Mundo. Por motivo financeiro, não deu para ficar até o primeiro jogo do Flamengo depois da Copa, e voltei na França sem assistir ao meu Mengo. Então na segunda viagem, em 2017, planejei as datas para assistir ao Flamengo no Maracanã, ou ao menos, no Luso-Brasileiro. E vi no início do ano que entre as duas datas da semifinal da Copa Libertadores, tinha um Flamengo x Vasco. As datas de minha viagem eram definidas.

Flamengo foi eliminado na fase dos grupos da Libertadores e foi na Copa Sudamericana. Ainda na França, foi um golpe duro para mim, mas a esperança de uma semifinal de Liberta no estádio virou a esperança de um Fla-Flu nas quartas de final da Sudamericana, nas mesmas datas da semifinal da Libertadores. E depois de dois turnos contra Palestino e a Chape, deu Fla-Flu.

Meu primeiro jogo do Flamengo foi no Maracanã, contra Fluminense. O Fla-Flu sempre foi meu clássico favorito no Rio. E comecei da melhor forma possível, com um Fla-Flu no Maraca, na Norte, com vitória, gol de Éverton, com lágrima no meu olho. Depois, um Clássico dos Milhões, meu segundo clássico favorito claro, Vasco é vice, na Norte de novo, com pouca emoção em campo, e muita emoção na arquibancada.

Eu sonhava de voltar ao Maraca para o Fla-Flu de volta. Mas tinha a incerteza do ingresso. Ainda não era sócio, e não sabia se ia conseguir um ingresso. Mas consegui e relembro de minha alegria na Gávea, com o ingresso na mão e a felicidade no coração. Acho que estava de Este, mas no dia do jogo, a entrada na Norte foi liberada, e fui no que já era meu lugar, a Norte do Maraca.

Relembro também da ansiedade de pré-jogo, nem dava para aproveitar de verdade o show da torcida. Na arquibancada, virou quase irrespirável, tinha pressa do jogo começar só pra aliviar um pouco essa pressão. “O futebol é a coisa mais importante dentre as coisas menos importantes” falou uma vez o técnico italiano Arrigo Sacchi. Nesse 1o de novembro de 2017, futebol virou a coisa mais importante das coisas mais importantes.

E no Maracanã, com 41.087 torcedores, um deles ainda mais feliz do que todos os outros, Reinaldo Rueda escalou Flamengo assim: Diego Alves; Pará, Juan, Rhodolfo, Trauco; Willian Arão, Cuéllar, Diego; Éverton Ribeiro, Éverton, Felipe Vizeu. Um time de transição, longe do fracasso de 2015 e também longe do sucesso de 2019. Nesse time, destaques no meu coração para Juan, Cuéllar, Diego e Éverton Ribeiro.

Enfim para meu coração e meu ritmo cardíaco, o jogo começou. E começou mal. Com apenas 3 minutos, na frente da Norte, na frente de meus olhos em pânico, Lucas abriu o placar com um chute muito forte. E com 10 minutos, na frente da Sul, longe de meu coração sempre em sofrência, uma falta para Diego, meu ídolo nessa época. Bem perto do gol, e já no gol. Faltei o gol, estava admirando a arquibancada e a energia da Norte. Meu irmão desconhecido ao lado de mim também faltou o gol, “estava rezando”. Mas a alegria foi a mesma, Flamengo tinha feito o gol do empate, o gol da classificação. Mas jogo ainda estava longe de acabar.

E no fim do primeiro tempo, um escanteio para Fluminense, na minha frente, uma cabeçada de Renato Chaves, ninguém na segunda trave, e Fluminense de novo na frente no placar, de novo classificado para a semifinal. E no início do segundo tempo, de novo uma bola parada, de novo uma cabeçada de Renato Chaves, agora com a ajuda do travessão, de novo um gol de Fluminense, longe de meus olhos, perto de minha raiva no coração, perto de meu desespero na cabeça. Fluminense tinha dois gols de vantagem e o sonho virava pesadelo. O Fla-Flu era o ápice de minha viagem no Brasil, não podia perder.

A esperança nunca saiu de mim e dobrou quando Vini Jr entrou em campo. Desde a base, ele foi meu ídolo, meu garoto do Ninho, meu craque da base. Sempre adorei Vini e ainda hoje é meu jogador favorito da atualidade. Entrou e mudou o jogo. Com apenas três minutos em campo, deu um bom passe para Éverton Ribeiro, que, como o gênio que foi e ainda é, achou Felipe Vizeu com um toque de calcanhar maravilhoso. Felipe Vizeu fez o gol do 3×2, o gol que ia inflamar o Maraca até o fim o jogo. Não sei se já gritei com tanta voz, com tanto coração na minha vida.

E Reinaldo Rueda fez entrar um outro craque da base, Lucas Paquetá. Também ídolo para mim, adoro ele, mas tem menos espaço no meu coração que Vinícius. E com dois minutos de Paquetá em campo, foi de novo Vini Jr que fez a diferença. Agora na direita, um drible de vaca sobre de Marlon e uma falta de Douglas. Faltava, tempo adicional incluído, dez minutos de jogo. Faltava um gol. Eu só aguentava porque não tinha escolha.

Uma falta perto da área, na direita, perto de meus olhos e de minha alma, um lance ideal para o gol da classificação. Respirar é a coisa mais natural do mundo, mas Flamengo é a coisa mais amada do mundo, e ficou difícil de combinar os dois, amar e respirar, respirar e amar. Ainda hoje, posso ligar nesse estado emocional durante o jogo. Enfim o apito, e Pará, menos ídolo, cruzou, para a cabeçada de Willian Arão. Meu coração parou, Flamengo empatou. Falta agora palavras para descrever o que aconteceu na minha pele e na minha alma.

Willian Arão jogou mais de 350 jogos, alguns muitos bons, outros mais difíceis e até jogos ruins. Mas minha maior recordação é esse gol, onde ele conseguiu transformar minha segunda temporada no Brasil, onde o pesadelo do jogo virou sonho eterno. Também nesse paragrafo tento descrever minha felicidade, o que sentiu na hora do gol, mas às vezes Flamengo é indescritível, quem é, sabe, quem não é, nunca vai entender.

Flamengo estava na semifinal, voltei no meu hostel, na favelinha de Pereira da Silva, com brilho nos olhos, sorriso no rosto, euforia no corpo, deleitação na alma. Nesse 1o de novembro de 2017, estava sozinho no Rio, mas esse dia foi um dos mais alegres de minha vida.

8 respostas para “Jogos eternos #47: Flamengo 3×3 Fluminense 2017”.

  1. Avatar de Times históricos #17: Flamengo 2017 – Francesguista

    […] mão e uma alegria no meu coração que poucas vezes senti na minha vida. Fla-Flu era meu. E, já eternizei o jogo nesse blog, mas não foi só o melhor Fla-Flu do ano como foi um dos maiores da história. Teve gol de Diego, […]

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  2. Avatar de Jogos eternos #67: Flamengo 4×1 Fluminense 1976 – Francesguista

    […] a maestria do Vovô-Garoto Júnior, já foi virada com a maestria do Vovô-Garoto Júnior, já foi minha maior emoção num estádio, já foi tudo. E o maior clássico do mundo também tem o maior palco do mundo, o Maraca. O Fla-Flu […]

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  3. Avatar de Jogos eternos #81: Flamengo 3×2 Fluminense 2011 – Francesguista

    […] um pouco menos, já que escrevi muito sobre o Fla-Flu: 1963, 1976, 1985, 1986, 1989, 1991, 1993 e 2017. Ainda assim, ficavam muitas, muitas […]

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  4. Avatar de Ídolos #20: Vinícius Jr – Francesguista

    […] e veloz. Ele fez apenas 69 jogos com Flamengo, mas tive a sorte de o ver em campo, no Maracanã, num Fla-Flu eterno. E ele foi decisivo. Nas quartas de final da Copa Sudamericana, entrou em campo na metade do […]

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  5. Avatar de Jogos eternos #106: Junior Barranquilla 0x2 Flamengo 2017 – Francesguista

    […] aos dois jogos das quartas de final, os dois Fla-Flus, e um 3×3 inesquecível na volta, um jogo já eternizado no francêsguista. Faltava dois adversários, o primeiro, Junior Baranquilla, que viu passar no seu time, por apenas […]

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  6. Avatar de Jogos eternos #168: Atlético Mineiro 0x1 Flamengo 2018 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] Não tardou a brilhar com o Manto Sagrado, muitas vezes saindo do banco, como foi o caso no Fla-Flu da Copa Sudamericana, talvez o jogo mais emocionante que assisti no Maracanã. Em 2018, se firmou ainda mais, agora como […]

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  7. Avatar de Jogos eternos #207: Flamengo 2×0 Fluminense 2023 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] com vitória 1×0 do Flamengo na Copa Sudamericana 2017. Uma semana depois, assistia a um Fla-Flu eterno, o 3×3 que classificava Flamengo. Em 2022, quando passei a morar um ano no RJ, minha volta na Norte foi um […]

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  8. Avatar de Na geral #22: No Rio, Flamengo é o maior – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] onde reencontrei meus amigos Gabriel e André. Meu maior Fla-Flu no Maracanã foi o inesquecível 3×3 na Copa Sudamericana de 2017, o pior a derrota 4×1 na final do campeonato carioca de 2023. Esse de 2024 foi menos pior, mas […]

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”