Minha chegada no Rio no fim do ano de 2022 foi um sonho, não apenas com Flamengo, mas foi um sonho ainda mais bonito com Flamengo. Ganhei a Copa do Brasil no próprio Maracanã, ganhei a Liberta com a Roça Fla. E o início de 2023 em relação ao Flamengo foi um pesadelo. Perdi a Supercopa do Brasil, e tive a maior desilusão de meu maior sonho, a derrota no Mundial dos clubes, antes da hora do Real Madrid chegar. Um pesadelo.
Também perdi a Recopa Sudamericana dentro do próprio Maracanã, ainda perdi no Maracanã a Taça Guanabara com uma derrota contra Fluminense, e ainda pior, perdi a final do campeonato carioca com uma vergonha contra Fluminense. Muitas desilusões no Maraca e, um pouco magoado com o time de meu coração, eu tinha decidido não ir no jogo de volta contra Maringá na Copa do Brasil, para salvar um pouco de dinheiro nesse fim de temporada no Brasil, para acalmar um pouco os nervos vermelhos e pretos bem solicitados nesses últimos jogos.
Mas meu Mengo, até no pior momento vou te apoiar até o final. E Flamengo está bem longe de viver o pior momento de sua história. Então eu estava no Maraca para a estreia do Brasileirão contra Coritiba. E eu vivi um dos meus melhores momentos no Maracanã com o gol de Ayrton Lucas no minuto 12. No minuto 10, no Maracanã dia de Flamengo, é sempre a hora de cantar para os Garotos do Ninho, para 10 estrelas a brilhar no céu do Mengão. Essa tragédia nunca vai passar, essa Nação jamais vai esquecer. Sempre arrepio nesse canto, com pele de galinha, lágrima no olho, oração no céu. E o gol de Ayrton Lucas aconteceu justamente no fim desse canto, o gol caiu como uma homenagem aos filhos rubro-negros. De arrepiar. Depois, os gols de Gabigol e Pedro só serviram para a vitória fácil e aliviar a frustração dos últimos jogos no Maracanã.
Mas já o dia antes do jogo contra Coritiba, eu tinha finalmente decidido ir ao Maraca para o jogo de volta na Copa do Brasil, depois de mais uma vergonha com essa derrota 2×0 contra Maringá no jogo de ida. O motivo era simples, tinha a Fla Paris no RJ. Ou ao menos, dois fundadores, Cidel e Waldez, ambos morando em Paris, mas de passagem na cidade mais bonita do mundo. A ocasião era de pura sorte, como falou Cidel, se a gente tinha combinado isso, não teria conseguido. Então, comprei mais um ingresso para o Maracanã, dia do Flamengo.
E o reencontro com Waldez também foi de pura sorte. Achava que ele chegava na segunda-feira, mas no domingo, dia do Flamengo, mais uma frustração na manhã com a derrota contra o Internacional, numa samba na tarde no centro do Rio, apareceu Waldez no canto da rua, pronto para festejar. Um abraço, duas cervejas, ou mais, e na segunda, mais festa, na Pedra do Sal, mais caipirinhas. Isso aqui é Rio. E no dia seguinte, de ressaca leve, se juntou Cidel na galera dos fundadores do consulado Fla Paris no Rio de Janeiro. Já escrevi sobre a fundação da Fla Paris, dia 19 de setembro de 2019, e só faltava Felipe para ter todos os fundadores. O local, se não era o Maracanã, não podia ser outro, a Gávea, sede do Flamengo.
Depois dos abraços e das fotos obrigatórias com a estátua do Rei Zico, fomos recebidos pelo Pedro, que cuida do projeto das embaixadas e dos consulados. A visita foi completa, do escritório das embaixadas, onde ganhei copo do último encontro entre as embaixadas, até o treino do time multicampeão de basquete, onde vi Olivinha repetir os lances livres com muito sucesso. Entre os dois momentos, algumas histórias do Flamengo, do gol do Valido no primeiro tri do Flamengo, da oração do Padre Góes no segundo tri do Flamengo. Também muitas fotos, perto de muitos esportes do Flamengo, natação, tênis, ginástica, e perto, ou não tão perto, de muitas belezas do Rio, o Corcovado, a Pedra da Gávea, e até minha Rocinha. Isso aqui é Rio, isso aqui é Flamengo.
A visita foi top e faltava uma coisa, jogo do Flamengo, no Maracanã, marcado pelo dia seguinte. Outro motivo para finalmente pagar o ingresso para o jogo era o jogo mesmo, contra Maringá, numa quarta-feira, as 21h30. A expectativa não era de uma casa cheia, mas às vezes no Maracanã, o clima é inversamente proporcional ao nível da importância do jogo, ao nível do adversário. Um jogo assim, quem vai no estádio é só quem realmente quer torcer, cantar, vibrar e virar. Porque Flamengo precisava de uma virada depois do 0x2 no jogo de ida. No meu roteiro de sonho, Flamengo fazia um gol nos 15 primeiros minutos, o Maracanã virava inferno, Flamengo fazia mais um gol nos 25 primeiros minutos, e depois de um tempo com menos lances, menos emoção, Flamengo fazia mais dois gols na metade do segundo tempo para uma vitória meio tranquila, meio bonita. Isso era o roteiro do sonho. Mas Flamengo é além dos sonhos.
Para o jogo, Cidel, como presidente da Fla Paris, foi nas cadeiras cativas e os outros membros da diretoria, eu e Waldez, tiveram que ir na arquibancada. Brincadeira, só tem um lugar no Maraca onde quero ficar, minha Norte. Já pensei a assistir a um jogo no Maracanã Mais, mas eu sei que vou ter inveja de quem está na Norte. Infelizmente, não deu para se encontrar com Cidel antes do jogo e foi só com Waldez que fui beber as primeiras cervejas no bar dos Chicos para testar o clima, alias bem tranquilo no momento. Depois, foi momento de encontrar Tom, outro francês que foi ao Maracanã nesse jogo pela primeira vez na vida, e que dividia a agitação com Waldez, que voltava ao Maracanã depois de 5 anos sem poder ir. Eu, com meu 13o jogo na Norte desde o Fla-Flu do 18 de setembro de 2022, quase fui um guia para chegar o mais rápido possível no setor 43, lugar da Fla Manguaça, também meu lugar.
O pré-jogo e a entrada dos jogadores em campo foram, de um ponto de vista do clima na Norte, normais, razoáveis. Esse jogo poderia virar sonho ou pesadelo, eram os jogadores que precisavam fazer a diferença, virar o jogo, fazer o gol rapidamente. Esperava um gol rápido, mas não tão cedo, com Thiago Maia que abriu o placar com apenas dois minutos de jogo. Mas Flamengo ainda estava eliminado, precisava de mais, e deu mais. Num escanteio no mesmo lugar do que o primeiro gol, Pedro fez o primeiro dele do dia. Flamengo agora empatou no placar agregado, e, como previsto, o Maracanã virou inferno. Era difícil de respirar, e depois de muitos cantos e gritos, eu precisava parar um pouco para recuperar. Minha camisa estava molhada como se eu estava no meio de campo, lutando pela bola, mas eu estava na Norte, lutando pelo Flamengo.
O jogo aproximava-se de meu roteiro de sonho, só que Flamengo não parou aqui, Flamengo continuou a atacar. Dez minutos depois, um pênalti obtido pelo Gerson, e festa na Norte, e o pênalti transformado pelo Gabigol, ainda mais festa na Norte. Eu adoro a Norte após um gol, e essa possibilidade de compartilhar a alegria com o vizinho mais próximo. Abracei Waldez, abracei Tom, e nesse jogo, eu abraçava também o desconhecido ao meu lado, que não parava de cantar igual eu, abraçava os caras na frente, as minas atrás, abraçava todos os flamenguistas. E ainda mais incrível, reconheci um cara na Norte, bem na minha frente. Eu sabia que o conhecia, mas não relembrava de onde, e quando Waldez também o reconheceu, eu entendi, era Matheus, o cara com quem nos falamos durante um bom tempo no samba do domingo com o amigo dele, Guilherme, falando de futebol, de Flamengo e da Rocinha, onde Guilherme morou. Isso aqui é Rio, isso aqui é Flamengo.
No fim do primeiro tempo, um gol de Maringá, ou, mais exatamente, um gol contra do Flamengo. Tomar um gol sempre é ruim, mas adoro a tradição de cantar o hino depois de um gol do adversário, porque já não mais paramos de cantar, já voltamos a apoiar, a vibrar, a cantar. E, para esse gol especifico, eu pensava que deixava o jogo vivo, que ia ter emoção até no segundo tempo, sem Flamengo já matar o jogo. E Flamengo quase matou o jogo antes do final do primeiro tempo, com mais um gol, de Gerson que fez um grande jogo. Na Norte, uma loucura total e agora falta palavras para descrever quanto mágico foi o primeiro tempo.
No segundo tempo, troca de lado de ataque, e agora o Flamengo atacando na frente da Norte. Gosto muito de Sampaoli, porque ele não para de atacar. Gosto da personalidade e gosto do estilo do jogo, bem ofensivo, bem no ADN do Flamengo. E Flamengo não parou de atacar no segundo tempo, ao contrário, fez sonhar ainda mais o Maraca, da Norte até as cativas onde tinha os pequenos filhos de Cidel, que imaginava como eu, muito, muito felizes. E Gabigol, que também fez um grande jogo, fez um passe digno de um camisa 10 para Everton, que fez mais uma vez a pura alegria da Norte. Mais uma vez, depois de abraçar todo mundo, o Maracanã virou inferno. Estava muito feliz para Waldez, e também para Tom, que conhecia de muito perto a loucura do Flamengo.
Eu já tinha perdido a conta dos gols, e com um pouco de sorte, Maringá fez um gol, o gol do 5×2, que mais uma vez deixava o jogo vivo. O hino não veio nesse momento, mas teve muitos cantos, de festa e de terror. Isso aqui é Flamengo. Flamengo não tremeu, Flamengo fez tremer o adversário, e Flamengo fez mais um gol depois de uma jogada coletiva, com Ayrton Lucas, com Gabigol, com Everton, com Gerson, com Pedro. Nessa hora, o abraço com todo mundo perto de mim já era tradição e eu tinha certeza que ia ter ao menos mais um gol, longe da vitória meio tranquila, meio bonita que eu tinha previsto. Foi cem por cento bonito, foi pura festa.
E no final do jogo, Gabigol, que só fez um gol de pênalti, fez mais uma jogada mágica, digna de Zico, com uma bola na cabeça de Vidal, para a cabeça de Pedro, que podia pedir a música, pedir a bola do jogo, fazer a reverência, fazer a alegria do Maraca, a alegria da Nação flamenguista. E três minutos depois, a três minutos do final do jogo, Pedro, com um chute cirúrgico, deixava o quarto gol dele e fazia um das suas atuações mais marcantes com o Manto Sagrado. Um jogo marcante não só para o Pedro, mas para todo o time, um jogo já eterno. Na volta no metrô, relembrava que Flamengo já atropelou um time 8×2, Minervén, só não relembrava o ano, que foi o ano histórico de 1993.
Na volta no metrô, muita felicidade com Waldez e o francês Tom, que já quer comprar a camisa do Flamengo. Depois, me aproximei da galeria mais animada do metrô, que cantou até São Conrado, estação de descida da Rocinha. Eu, já cansado de cantar para 8 gols e 16 guerreiros durante 90 minutos, não participei dos cantos, mas voltei em casa com o sorriso e uma certeza: não posso faltar um jogo do Flamengo quando tenho possibilidade de ir, porque o Maracanã sempre é especial, a Norte sempre é excepcional. Isso aqui é Rio, isso aqui é Flamengo.








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