Eu falei na crônica sobre o ídolo Diego que para muitos a nova Era do Flamengo começou com a chegada dele em 2016. Para mim, começou um ano antes com a transferência de Paolo Guerrero, apesar de não ser um nome tão importante no mundo do que Diego, apesar do fracasso em campo. O ano de 2015 foi histórico, frustrante sim, mas mudou o clube com financeiras boas, e Flamengo continuou a mudar em 2016. Pela primeira vez desde muito tempo, brigou pelo título brasileiro e precisava de uma confirmação em 2017.
E o ano começou com transferências que me agradaram na época. Rômulo, com boa passagem no Spartak Moscou, e muitos gringos, Miguel Trauco na defesa, Darío Conca no meio, Orlando Berrío no ataque. Eu era um grande fã do Darío Conca no Fluminense e estava muito entusiasmado com a chegada dele no Flamengo. Mas foi outra decepção, e uma grande decepção, e Conca jogou pouco, muito pouco com o Manto Sagrado. Apenas 3 jogos, ou mais exatamente, três pedaços de jogos, com ao total apenas 27 minutos no campo. Acho que ele foi minha maior decepção de um jogador comprado pelo Flamengo, com uma diferença incrível entre as expectativas e o que deu.
Flamengo, dirigido pelo Zé Ricardo, começou a temporada de 2017 com um amistoso, com uma derrota contra Vila Nova, apesar de um gol de Leandro Damião, outra decepção no Mengo. Mas Flamengo estreou bem no campeonato carioca com goleadas contra Boavista, Macaé, Nova Iguaçu. Também estreou na Primeira Liga com uma vitória 2×0 sobre Grêmio no Mané Garrincha. Nunca gostei dessa competição que só colocava mais jogos num calendário já cheio. Flamengo começou a temporada com 7 vitórias, depois empatou contra Ceará e perdeu a final da Taça Guanabara nos pênaltis contra Fluminense depois de um 3×3, que nem seria o melhor Fla-Flu do ano.
Flamengo se recuperou, rápido e bonito, com uma goleada 4×0 contra San Lorenzo na estreia da Libertadores, num Maracanã cheio e lindo. Pela primeira vez desde um bom tempo, Flamengo também estava candidato ao título da Libertadores. Também ganhou 5×1 da Portuguesa, um jogo eterno aqui. A primeira derrota do ano veio na Libertadores, no campo da Universidad Católica, e Flamengo fez quatro empates consecutivos, o último fatal com uma eliminação contra Vasco na semifinal da Taça Rio. Não impediu o clube de se classificar na semifinal do campeonato carioca, e depois na final com um doblete de Paolo Guerrero contra Botafogo. Na final, um Fla-Flu. O Fla-Flu é meu clássico favorito do Rio e era a primeira vez desde 1995 e o gol da barriga de Renato Gaúcho que os dois times decidiam o título carioca. Seria mais um Fla-Flu histórico, onde a única possibilidade era a vitória.
Depois de uma derrota contra o Athletico Paranaense na Libertadores, Éverton fez o único gol da final de ida do campeonato carioca. No jogo de volta, Henrique Dourado, que seria outra decepção no Flamengo, abriu o placar para Fluminense e deixou tudo igual. No final do jogo, um dos gols mais marcantes do Guerrero no Flamengo, para quase oferecer o título ao Flamengo. E no finalzinho do jogo, num contra-ataque, Rodinei venceu o goleiro improvisado Orejuela para fazer um dos gols mais marcantes do Fla-Flu, para oferecer ao Flamengo o 34o título carioca, o sexto de forma invicta, igualando o recorde do Vasco. Um título marcante para começar o ano de 2017 e relembro muito bem de minha alegria com o gol de Rodinei, com o campeonato carioca que não vinha desde 2014, ainda tinha que ter a dor de ver Vasco levantar o troféu em 2015 e 2016. Com 10 gols, Paolo Guerrero foi o artilheiro do campeonato carioca. Adorei esse Fla-Flu, mas nem seria o melhor Fla-Flu do ano.
Já falei numa outra crônica que fui no Brasil em 2017. Livre para tirar as férias, as datas da viagem só dependiam do Flamengo. Queria ver um jogo decisivo da Copa Libertadores e, com medo de não ter ingresso para a final e também vendo que tinha um Flamengo x Vasco no Brasileirão entre as duas semifinais, decidi comprar o voo para a semifinal da Copa Libertadores, obviamente do Flamengo. Relembro que achava que o jogo contra San Lorenzo era apenas a quinta rodada e com um jogo a 3 da manhã na França, resolvi não assistir para conservar forças para o último jogo. Flamengo perdeu e fiquei chateado na manhã seguinte, mas não abatido. Situação era ruim, mas ainda tinha um jogo. Depois fui Twitter e vi que Flamengo era eliminado. Não entendi direto, Flamengo só estava um ponto atrás. Mas depois entendi, não tinha mais jogo, Flamengo eliminado. Fiquei muito aborrecido, com mais uma eliminação traumatizante depois de 2012 e 2014, uma viagem no Brasil sem Flamengo na Libertadores, e também contra mim, para ter faltado ao vivo o jogo decisivo. Foi um dia ruim, muito ruim.
Na Copa do Brasil, Flamengo estreou com um 0x0 no Maracanã contra o Atlético-GO, mas se classificou na volta na Serra Dourada, com mais um gol, e mais um cartão amarelo, de Paolo Guerrero. No Brasileirão, a estreia foi um 1×1 contra o Atlético-MG, no Maracanã. Um jogo marcante, por um motivo: foi a estreia de Vinícius Júnior. Sempre adorei Vinícius Júnior, acompanhei ele na Copinha com o Flamengo e no campeonato sudamericano U17 com a Seleção. Sempre torci, e ainda torço, pelo sucesso do Vini, que assinou, com 16 anos e na mesma semana da sua estreia profissional, com o Real Madrid, um de meus clubes favoritos na Europa. Voa Vini!
No Brasileirão, Flamengo começou de maneira irregular, escapando da derrota contra Fluminense no último minuto, mas ficando no meio da tabela. Depois, goleou a Chape 5×1 com 2 gols de Diego e 3 gols de Guerrero, iniciando uma série de 5 vitórias consecutivas, a última contra Vasco para chegar na vice-liderança. Também goleou 5×2 Palestino no Chile na Copa Sudamericana, com o primeiro gol no Flamengo de Éverton Ribeiro. Eu já era um grande fã de Éverton Ribeiro na época do Cruzeiro e foi uma decepção de ver ele ir no Al Ahli, acho que ele tinha o nível para jogar na Europa. Mas voltou no Brasil no segundo semestre de 2017, voltou no Flamengo, voltou no Maior do Mundo. Com essa chegada, Flamengo tinha ainda mais peso, e dessa vez não foi uma decepção, bem longe disso. Também, depois da decepção da Libertadores, comecei a torcer muito para um Fla-Flu nas quartas de final, o que era possível no cruzamento, e que ia ser durante minhas férias no Rio. Fé no Fla-Flu.
No jogo de volta, Flamengo goleou de novo Palestino, 5×0, com outro primeiro gol no Flamengo de um craque, Vinícius Júnior, que com 17 anos e 29 dias, se tornava o jogador mais jovem a marcar um gol pelo Flamengo, recorde que será batido pelo Lorran em 2023. Gol foi marcado no estádio Luso-Brasileiro na Ilha do Governador, e gostava muito desse estádio. Mas a fase do Flamengo no Brasileirão era ruim e Zé Ricardo foi demitido antes do jogo contra Palestino. No seu lugar, o colombiano Reinaldo Rueda, campeão da Copa Libertadores um ano antes com o Atlético Nacional. Gostei de escolha e ele foi bem no Flamengo enquanto ele ficou. Flamengo se recuperou, venceu 2×0 o Atlético-GO com dois gols de Vini Jr e se classificou para a final da Copa do Brasil, Diego fazendo o único gol do confronto contra Botafogo, depois de uma assistência, e sobretudo de um drible sensacional, meio letra meio drible de vaca, de Berrío.
No jogo de ida da final da Copa do Brasil, Flamengo abriu o placar com outro craque da casa, Lucas Paquetá, mas Cruzeiro empatou com gol de futuro craque do Flamengo, Arrascaeta. Eu também era um grande fã do Lucas Paquetá e acho que ele merecia um grande título no Flamengo, foi para mim o melhor jogador do futebol brasileiro no primeiro semestre de 2018. No Brasileirão, Flamengo perdeu contra Botafogo, ganhou contra Sport, empatou contra Avaí. Na Copa Sudamericana, Flamengo goleou a Chape 4×0, com gol de um ídolo, Juan. Flamengo estava nas quartas de final e eu tinha meu jogo de sonho, um Fla-Flu, na verdade dois Fla-Flus para minhas férias no Rio. Valia a pena ser eliminado na Libertadores para ter o Fla-Flu, meu confronto favorito no futebol. Antes, teve a final da Copa do Brasil. Fiquei acordado no meio da noite, mas, apesar da importância do jogo, não consegui ver o jogo todo e faltei a disputa de penalidades. Diego errou, Flamengo perdeu, não foi campeão. Mais um dia ruim em 2017.
Depois de outros jogos no Brasileirão, uns bons, outros ruins, era a hora para mim de ir ao Brasil, sozinho, para três semanas de sonho. Comecei a viagem em São Paulo, por um único motivo: tinha um São Paulo FC x Flamengo. Jogo foi no histórico Pacaembu e cheguei bem cedo para comprar um ingresso no setor visitante. Mas a fila era maior que meu sonho e chegou a notícia que não tinha mais ingressos com a torcida do Flamengo. Solução para mim foi comprar um ingresso no setor de São Paulo, deixar meu Manto Sagrado na casa de um vizinho do Pacaembu e ir escondido no estádio, no meio de são-paulinos. Relembro que cheguei a me sentar ao lado de franceses que torciam para São Paulo e tive que mudar de lugar. Assistir ao jogo ao lado de tricolores OK, de tricolores franceses não. Jogo não foi bom para o Flamengo que perdeu 2×0. Mas foi para mim um sonho. Depois de tantos jogos assistidos na televisão, de tantas vitórias e derrotas, títulos e lágrimas, enfim, eu via meu Flamengo em campo. Flamengo perdeu, mas Fla-Flu seria melhor, muito melhor.
Cheguei enfim no Rio e consegui um ingresso para o Fla-Flu de ida na Copa Sudamericana. Fui no Maracanã, na Norte, no coração do Flamengo. Um sonho e cheguei a chorar quando Éverton fez o único gol do jogo. Assisti também ao Clássico dos Milhões contra Vasco e não tinha certeza se eu ia conseguir um ingresso para o Fla-Flu de volta. Cheguei cedo na Gávea e saí com o ingresso na mão e uma alegria no meu coração que poucas vezes senti na minha vida. Fla-Flu era meu. E, já eternizei o jogo nesse blog, mas não foi só o melhor Fla-Flu do ano como foi um dos maiores da história. Teve gol de Diego, teve Flu na frente, e teve a entrada de Vini Jr no jogo, saindo do banco. Vinícius Júnior, já meu ídolo, entrou e desequilibrou. E teve gol de Willian Arão, gol de empate com sabor de vitória, gol para arrepiar, para gritar, para até cair de emoção. Flamengo empatou no Fla-Flu, mas de fato ganhou o Fla-Flu, se classificou e me ofereceu a lembrança mais forte de três semanas inesquecíveis no Brasil. Te amo Flamengo.
De novo, Flamengo foi irregular no Brasileirão, mas foco agora era a Copa Sudamericana. Na semifinal contra Junior Baranquilla, Flamengo venceu no Maraca, com gols de Juan, 38 anos, e Felipe Vizeu, 20 anos. Na volta na Colômbia, Flamengo venceu de novo, agora com doblete de Felipe Vizeu, que jogou muito durante esse fim da temporada de 2017. Na última rodada do Brasileirão, Flamengo virou no campo de Vitória com gol de Diego no último minuto, e se classificou diretamente para a Copa Libertadores 2018. Um fim de Brasileirão perfeito antes do título da Sudamericana. Por ter vivido um Fla-Flu tão incrível nas quartas, queria muito esse título, ainda mais do que a Copa do Brasil. Se falava de um título continental, que Flamengo não conquistava desde 1999, um outro século, um outro milênio.
O adversário era Independiente, que estava no caminho do Flamengo justamente no último título continental, com uma goleada 4×0 do Flamengo nas quartas de final da Copa Mercosul de 1999. Um adversário de peso, de tradição, heptacampeão da Copa Libertadores. No tão tradicional estádio Libertadores da América de Avellaneda, Flamengo abriu o placar com gol de cabeça de Réver, mas Independiente virou no segundo tempo. A derrota 2×1 não era um resultado ruim, mas Flamengo precisava vencer para ser campeão no Maracanã. Em 1999, foi campeão no campo de Palmeiras e em 1981 conquistou a Copa Libertadores no Centenário de Montevidéu. Uma oportunidade única, levantar um troféu continental em pleno Maraca.
De novo, Flamengo abriu o placar, com gol de Lucas Paquetá, com raça, amor e paixão. Mas ainda no primeiro tempo, Independiente empatou num pênalti, com lance bobo de Cuéllar. Dessa vez, não faltei o jogo e relembro muito bem da emoção nos minutos finais, do desespero no último lance, um chute de Réver um pouco acima do travessão. Pela segunda vez do ano, Flamengo perdia uma final. Flamengo fez uma boa temporada em 2017, mas foi bi-vice-campeão e foi muito difícil perder essa final da Copa Sudamericana. Ainda tinha que aguentar as piadas dos rivais, mesmo dos que jogaram muito menos do que o Flamengo em 2017. Mas já falei que a piada do cheirinho nunca me incomodou, porque sabia que um dia ou outro, os títulos iam chegar na Gávea, como foi o caso, além dos meus sonhos mais loucos, e costumo sonhar alto com Flamengo. O Flamengo de 2017 não foi tão histórico que poderia ter sido, mas foi no caminho de glórias ainda maiores.








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