Na geral #15: Uma rifa para uma boa ação

Eu já falei que eu sou com muito orgulho um dos fundadores do consulado Fla Paris, que já tem mais de três anos de existência. A Fla Paris me deu irmãos flamenguistas e quando estava em Paris, adorava assistir aos jogos com a galera de sempre, e gostava também de encontrar turistas brasileiros, de passagem em Paris. E tem um outro aspecto do consulado que adoro, é a promoção de ações sociais.

A participação social sempre foi importante para mim e era um objetivo quando cheguei no Brasil. Consegui na Rocinha, onde estou dando com muita alegria aulas de xadrez num projeto e treinos de futsal num outro projeto. O projeto Craques da Rocinha ajuda mais de 100 crianças e adolescentes, e vejo a necessidade de apoio financeiro. Com treinos todos os dias, as bolas se estragam rapidamente, se perdem nos becos quando a rede da quadra não salva a bola, e tem uma diferença enorme entre fazer um treino com uma bola para cada jogador ou uma bola para o time inteiro só. Sempre precisa de bolas, coletes, cones e outras coisas para fazer o melhor treino possível. E apesar das dificuldades, vale a pena insistir, porque só a educação permite um melhor futuro. Mas claro, para ter um ensinamento de qualidade, precisa de recursos financeiros.

O consulado Fla Paris apoia a associação Amor ao Próximo, no Complexo de Sapê, em Niterói. Preciso antes falar um pouco da associação, fundada em 2003, mas que teve ainda mais importância e necessidade a partir da pandemia de Covid. A associação, que funcionava com próprios recursos, conseguiu uma parceria com a CUFA e uma fábrica de pão para a distribuição de cestas básicas com produtos alimentares e de higiene. Conseguiu toda a documentação para ser reconhecida oficialmente e ajuda agora cerca de 800 famílias.

A associação tem também vários, muitos, projetos sociais, para ajudar as pessoas a se autodesenvolver. Tem formações profissionais para pessoas sem emprego para voltar ao mercado de trabalho, tem apoio psicológico e jurídico para famílias, doações para idosos muitas vezes esquecidos nos projetos sociais, uma creche que atende mais de 100 crianças, com reforço escolar e lanche, porque crianças precisam não estar com fome para estudar bem, tem pintura e colagem porque crianças precisam desenvolver autonomia, criatividade e motricidade, tem cine pipoca porque crianças precisam se divertir e ser felizes. Tem com os professores Ana, Léo e Vinícius aulas de dança, futebol (até jogando a Taça das favelas) e artes marciais. Porque crianças e adolescentes precisam fazer atividade física, fazer amizades, aprender uma arte e as regras da arte, aprender a ganhar e a perder, a dividir a responsabilidade numa mini sociedade.

Sempre adorei o Brasil e sua cultura, mas ao mesmo tempo, sempre fiquei chocado com as diferenças entre a favela e o asfalto. Ninguém escolhe o lugar onde vai nascer, crescer, se tornar um ser humano. E com tanta desigualdade, com (não)chances tão diferentes, é difícil julgar as pessoas que vão fazer as escolhas erradas, pagando com a própria vida e dificultando ainda mais a vida dos outros. O momento da adolescência e da construção como adulto é difícil para todo mundo, não importa o lugar ou a época. Mas sem apoio, econômico ou emocional, sem modelos ou com modelos errados, é fácil pegar o caminho errado, mesmo sem ser uma pessoa de mau caráter. Muitas vidas foram perdidas não por falta de talento, mas por falta de oportunidades, falta de lugares para descobrir o talento deles.

Infelizmente, por causa da distância, fui só uma vez no Complexo de Sapê. Foi um pouco antes do Natal, quando a Fla Paris tinha conseguido roupas e brinquedos para melhorar o Natal das crianças. Encontrei Renata e as crianças, foi um dos dias mais lindos que passei no Brasil. Renata é de uma energia incrível, e acreditam, eu falando disso só passando algumas horas por semana com as crianças da Rocinha, precisa de toda essa energia, todos os dias. Encontrei as crianças, relembro de um menino que pediu duas vezes uma foto comigo, ele sabia que já tinha uma, mas queria uma segunda. E relembro de uma menina que jogava muito futebol, fiz uma pelada com as crianças e ela era minha parceira favorita. Não relembro dos nomes, mas relembro dos rostos e dos sorrisos. Teve um outro menino e Renata falou que para Natal todas as crianças podiam pedir um presente e ele pediu uma bicicleta. Aí ela falou que ele estava exagerando, que ia ser difícil achar uma bicicleta. Mas no final da história, ela conseguiu a bicicleta para ele, porque Renata faz tudo o que é possível e faz até o impossível.

Enfim, eu acho a educação primordial e sem boa educação, é a sociedade toda que paga o preço, um preço alto, principalmente as comunidades mais carentes. Hoje a educação ainda depende de iniciativas pessoais, de apoio de institutos e da participação dos cidadãos. Claro, todos esses projetos têm um custo, e precisa de dinheiro para os manter, para manter a ajuda para a comunidade. Têm várias maneiras de participar, entrar em contato com a associação Amor ao Próximo nas redes sociais, ou fazer diretamente um pix (Banco do Brasil agência 1578-4 conta-corrente 31127-8).

Hoje, o consulado Fla Paris propôs mais uma maneira de ajudar com uma rifa para ganhar uma camisa do Flamengo assinada por diversos jogadores do clube. O presente é lindo, mas a ação ainda mais. Pode entrar com o consulado Fla Paris e seu presidente Cidel Cavalcante para mais detalhes, mas por apenas 2,5 euros na França ou 12,5 reais no Brasil (pix +330601097095), é possível adquirir um dos 200 números possíveis e tentar a sorte da ganhar a camisa e fazer a sorte de muitas muitas pessoas.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”