Eu já escrevi sobre o Flamengo 3×3 Racing de 1992 e para hoje eu vou contra um outro adversário argentino que joga de branco e azul, Vélez Sarsfield. O ano é o centenário de 1995 e a competição a Supercopa Libertadores, que reunia só timaços. Vélez, como vencedor da Copa Libertadores 1994 contra o São Paulo de Telê Santana, participava pela primeira vez. Flamengo participava pela oitava vez, com melhor resultado uma final em 1993, perdida nos pênaltis, também contra o São Paulo de Telê.
Na estreia do torneio de 1995, já oitavas de final, não contando o triangular da primeira fase entre São Paulo, Olimpia e Boca Juniors, Flamengo começou com uma vitória de virada nos últimos minutos no campo de Vélez, um 3×2 com gols de Edmundo, Sávio e Rodrigo Mendes. Um jogo já tenso, onde o técnico e jornalista Washington “Apolinho” Rodrigues saiu do campo dizendo: “Cuspiram na gente, ofenderam o Brasil, jogaram pedra. Mas ninguém ganha da gente no grito”. Três semanas depois, Apolinho Rodrigues escalou Flamengo assim: Paulo César; Agnaldo, Cláudio, Ronaldão, Lira; Márcio Costa, Djair, Nélio; Sávio, Edmundo, Romário. Flamengo talvez tinha no papel o melhor ataque do mundo, mas o resto do time estava bem longe disso. No lado de Vélez, destaque para o goleiro Chilavert, que eu adorava quando era criança por causa da Copa do Mundo de 1998, e para o técnico Carlos Bianchi, que ainda ia ganhar 3 Copas Libertadores com Boca Juniors.
Jogo começou com tudo, já com falta dura sobre Romário e em seguida dois dribles de Sávio e um chute na direção do gol, até no gol, com a ajuda do defensor Pellegrino. Num passe sensacional de Edmundo, Romário quase fez o segundo mas seu chute flirtou com a trave. Realmente, poderia ter sido o melhor ataque do mundo, e um dos maiores times do Flamengo, mas faltou muita coisa. Eu não resisto aqui de citar algumas frases do Apolinho, que antes de ser o técnico de Romário, na sua posição de jornalista, criticava o Baixinho, dizendo por exemplo segundo o site Trivela “Romário é que nem dono de sauna, ganha dinheiro com o suor dos outros” ou ainda um sensacional “talvez ele decida suar a camisa tanto quanto sua camisinha”.
No segundo tempo, depois de tabelinha com Sávio, Edmundo quase fez o segundo mas ele parou no grande goleiro que era Chilavert. Numa contra-ataque mortal, Edmundo passou entre três defensores e abriu na esquerda para Romário, que, sem vaidade, fixou o último defensor e achou de novo Edmundo, fazendo um gol em um toque só. Um golaço digno de um dos melhores ataques do mundo. Alguns minutos depois, de novo num passe de Romário, Edmundo teve boa oportunidade, mas chutou bem longe do gol. Perto do fim, Rodrigo Mendes, que tinha entrado no lugar de Sávio, fez um drible sensacional no Zandoná, perdido no chão, Rodrigo Mendes invadiu a grande área e deu o passe atrás para o gol fácil de Romário. Flamengo 3×0 Vélez, gols de Sávio, Edmundo, Romário. Pena que o melhor ataque do mundo saiu do papel para o campo pouquíssimas vezes.
O jogo já poderia ser eterno aqui com a atuação do Flamengo, que não rendeu muito em 1995, mas estreou bem na Supercopa Libertadores, uma competição que de novo ia perder na final, perdendo a última oportunidade de ganhar um título no ano do centenário. Mas se esse jogo é eterno e todo mundo lembra das imagens, é por outro motivo. No tempo adicional, num choque com Zandoná, Edmundo teve o supercílio aberto. Passou a mão no sangue e deu tapa no Zandoná. Na hora, Zandoná retribuiu com tapa e Edmundo deu as costas, fim da briga para ele. Não para Zandoná. O argentino tinha razão de revidar a tapa no Edmundo, mas foi além, e quando Edmundo era de costas, atingiu ele com um socão que deixou o Animal no chão. Foi covardia. Romário foi o primeiro a reagir, dando uma voadora também eterna no Zandoná e a briga foi de um quase fim a uma briga generalizada. Teve de tudo em campo, jogadores, reservas, comissões técnicas, jornalistas, policiais.
No reencontro entre Flamengo e Vélez na Libertadores de 2022, ainda se falava da briga, que já rendeu bandeiras das torcidas e boas histórias, como do próprio Zandoná, que explicou que ele teve um desconto num hotel de Florianópolis pelo dono que não gostava de Edmundo. Para o Flamengo, uma pena que a parceria entre Romário e Edmundo na briga não se estendeu muito em campo. Para fechar, deixo a voz para o folclórico técnico e jornalista Apolinho Rodrigues, falando para GloboEsporte: “Foi uma pega para capar que começou em Buenos Aires e terminou em Uberlândia. Zandoná deu um tapa e fez o Edmundo sangrar. Ele tirou o sangue com a mão e passou no rosto do argentino, mas deu as costas. Foi quando tomou uma pancada que ficou sem som e sem imagem. O Romário daquele tamaninho deu a voadora. Quando a polícia entrou, eu falei que na Argentina eles ficam do lado dele, aqui eles tinham que ficar do nosso lado. Foram dez minutos de pancadaria. Vencemos as duas e foi um duelo que me deu muita alegria”.








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