Não é exatamente um adeus, já que tenho a certeza de que eu voltarei no Rio de Janeiro, de férias apenas ou para morar, isso só Deus sabe. Mas eu pego o voo hoje de volta na França, e se dez dias sem o Maracanã parece uma eternidade, então um ou dois anos sem o Maraca, nem quero imaginar.
Em um ano, assisti a 27 jogos do Flamengo no Maracanã. Faltei pouquíssimos. Relembro de um contra o Internacional porque estava doente. E tinha o ingresso na mão, então estava realmente doente. Faltei o contra Santos também, porque era na véspera do AeroFla que não podia faltar. Teve um no campeonato carioca também por causa de viagem, o contra Racing na Libertadores, e talvez alguns outros, mas pouquíssimos. Se não tem motivo para não ir, eu vou ao Maraca. Tem muitas, muitas lembranças no Maior do Mundo, com o Maior do Mundo.
O adeus ao Maracanã foi um 1×1 morno contra o América Mineiro, um jogo que talvez acaba com as chances de título do Flamengo. E as lágrimas no meu rosto rubro-negro ficaram no penúltimo jogo, um Fla-Flu. Chorei no metro, na rampa, na entrada dos jogadores, na saída da arquibancada. Porque era minha despedida da tribuna Norte, o coração e a emoção do Maraca. Se não tenho ingresso para a Norte, eu não vou ao Maraca. Uma vez, estava sem ingresso para um outro Fla-Flu e meu amigo Gabriel me ofereceu de graça um ingresso na Este. Nem queria. Porque eu sei que uma vez que estarei dentro do estádio, vou ter inveja de quem está na Norte, de quem canta, às vezes de quem não canta. Fui ver 27 vezes Flamengo no Maracanã, 25 na Norte.
O primeiro jogo, estava louco para ver o jogo, contra São Paulo na semifinal da Copa do Brasil, e fui na Oeste, para ver Flamengo mais uma vez na final. Meu primeiro jogo na Norte foi um Fla-Flu, de derrota mas de muita emoção, e para meu último jogo, não consegui ingresso na Norte. Meu amigo Kevin do consulado Fla Paris tinha um ingresso na Oeste, e achei raiz e romântico de me despedir da Norte como voltei, com um Fla-Flu. O reencontro com Kevin, francês e flamenguista roxo como eu, foi bom, mas teve essa frustração de estar longe da Norte. A Oeste é para assistir a um jogo de futebol e a Norte é para torcer pelo Flamengo. E eu prefiro mil vezes torcer pelo Flamengo do que assistir bem ao jogo. Eu não sou espectador, eu sou torcedor, faço parte do jogo.
Tive muitas emoções na Norte, teve até título, contra o Corinthians na Copa do Brasil. Vi muitas coisas, fui muito feliz, vi Gabigol herdar da camisa 10 de Diego, vi a transformação do canto sobre Zico que xingava inutilmente Pelé para homenagear Gabigol artilheiro e Adriano Imperador, cantei muito. Adoro os cantos do Flamengo e arrepio a cada jogo quando chega o minuto 10, que homenageia os garotos do Ninho. Arrepiei ainda mais quando Pedro fez gol contra Cabofriense no minuto 12, no final desse canto. Inclusive, estou em favor de cantar de novo esse canto nos segundos tempos, no minuto 10. É sempre de arrepiar. Claro, tive frustrações também, perder uma decisão contra Independiente Del Valle, perder contra Vasco, perder mais uma decisão, levando goleada no Fla-Flu. Essa foi a pior derrota no estádio.
Mas vamos focar nas alegrias, vivi meu primeiro jogo de Libertadores, vi um gol de Ayrton Lucas no minuto 12, é de arrepiar, vi uma virada-goleada 8×2 contra Maringá na Copa do Brasil com Waldez, outro amigo do consulado Fla Paris. Vi Flamengo golear Vasco, mas confesso que com um placar de 4×0 no intervalo, esperava um final ainda mais feliz para Flamengo, ainda mais duro para Vasco. Vi vitória no Fla-Flu com gols de Arrasca e Gabi, vi um Maracanã cheio de cantos e fogos contra o Athletico Paranaense, onde assisti ao jogo com meus amigos franceses Maxime e Julie. Na Copa do Brasil, vi em 2022 a semifinal e a final, e em 2023, a terceira fase, as oitavas e quartas, e quero acreditar que o Flamengo vai levar o penta ainda em 2023. Eu fui muito feliz no Maraca, não vi gol de Éverton Ribeiro, mas vi a volta de Bruno Henrique, com gol contra Grêmio, vi golaço de cavadinha de Pedro contra Coritiba, o que eu vi e vivi em um ano, em 27 jogos, esta gravado na memória de minha alma.
O último jogo na Norte foi um Fla-Flu, um 0x0, com gol anulado de Gabigol no minuto 80. E foi uma frustração, porque quando tem um 0x0 e Flamengo abre o placar no fim do jogo, o Maracanã vira paraíso, todo o estádio canta. Eu sou um torcedor de cadeira, um pé na cadeira, o outro na cadeira da fileira de frente. Eu sou um torcedor de 90 minutos, canto todos os cantos, até os que não conheço bem. A torcida do Flamengo é um espetáculo, do pré-jogo até a saída da arquibancada. Quero deixar aqui um desejo: quando morrer, quero um minuto de silêncio no Maracanã, para a torcida ter um minuto a mais para cantar. Eu iria ao Maracanã sem Flamengo se tinha a torcida do Flamengo. Inclusive, eu fui, para ver Zico jogar, no Jogo das estrelas. Eu fui muito feliz no Maracanã e não posso esquecer do Flamengo sem o Maracanã, a conquista da Liberta na Rocinha, e muitos jogos vividos com a Roça Fla e a Fla Atrevida, dois grupos de torcedores na Rocinha. Aproveito para agradecer os dois presidentes, Nando e Paula, dois corações puros, dois corações rubro-negros. Flamengo é além do Maracanã, é além de qualquer fronteira.
Para fechar essa crônica, a última escrita no Brasil, relembro que na criação desse blog, falei que talvez eu encontrarei o amor de minha vida no Brasil. E encontrei mesmo. 27 vezes. Te amo Flamengo. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.








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