Marcelinho Carioca é um dos maiores nomes do futebol. Eu falo do nome mesmo. Ele se chama Marcelo Pereira Surcin, eu me chamo Marcelin Chamoin. Ele nasceu no Rio de Janeiro no 31 de dezembro de 1971, meu coração mora no Rio de Janeiro. Então Marcelinho Carioca também é meu nome. Uma vez, escrevi uma ficção sobre um jogador de futebol. Claro, meu personagem jogava no Flamengo. E se chamava Marcelinho Carioca.
Marcelinho Carioca não foi um dos maiores jogadores do futebol, de primeiro patamar, mas ele foi outras coisas. É um dos maiores ídolos da história do Corinthians. Numa enquete de GloboEsporte com os torcedores, ele ficou no segundo lugar, ficando só de pouco atrás de Sócrates. Mas antes, Marcelinho começou a carreira no Flamengo. E começou em grande estilo. Foi lançado em 1988, com apenas 16 anos. Foi lançando num Fla-Flu, meu clássico favorito no futebol. Foi lançando pelo Telê Santana, para mim o maior técnico brasileiro da história. E substituiu Deus, o próprio Zico. Só faltou o gol, que chegou no ano seguinte, Marcelinho já com a camisa 10 do craque, vencendo o goleiro veterano do Grêmio, Mazarópi.
No Flamengo, oscilou um pouco e não jogou a final da Copa do Brasil de 1990, vencida contra Goiás. Mas honrou a lema: “Craque, o Flamengo faz em casa”. Jogou com Djalminha, Marquinhos, Zinho, Paulo Nunes, Nélio e Júnior Baiano, a maioria dos jogadores vencendo a Copinha no mesmo ano de 1990. Marcelinho Carioca jogou a Libertadores em 1991 e fez seu primeiro gol de falta com o Manto Sagrado nessa competição mesmo, contra o Corinthians, olha a ironia do destino. Marcelinho fez dois gols nas oitavas contra Deportivo Tachira, mas Flamengo caiu nas quartas de final contra Boca Juniors, Marcelinho jogando apenas os 45 primeiros minutos do jogo de ida. E no final do ano, ganhou o campeonato carioca, fazendo golaços de falta contra Fluminense e Vasco, não tem melhores adversários para fazer um golaço.
Em 1992, o pentacampeonato brasileiro, mas Marcelinho ainda oscilava entre o bom e o ruim, entre titularidade e banco. Na final contra Botafogo, só entrou no final do primeiro jogo. Fechou a temporada de 1992 com um gol de falta contra Vasco e foi em 1993 que ele explodiu, afinal ele só tinha 21 anos. Liderou o time com classe e técnica, com gols e assistências, liderou o time até a final da Supercopa Libertadores, contra o São Paulo de Telê Santana. Na ida, 2×2, Marcelinho fazendo o passe no primeiro gol de Marquinhos. Na volta, de novo 2×2, com gol de Renato Gaúcho num escanteio de Marcelinho e gol de Marquinhos num passe de Marcelinho. Na disputa de penalidades, Marcelinho foi o único a errar, oferecendo o título ao São Paulo. Incrível com a carreira de Marcelinho Carioca foi marcada com pênaltis perdidos.
Uma semana depois, fez seu último gol de falta com o Manto Sagrado, contra… o Corinthians. No fim da temporada, foi vendido pela diretoria, contra a vontade dele. Acho que sem esse erro no pênalti, teria continuado no Flamengo. Falou depois: “Tenho todo o respeito com o torcedor flamenguista, foram vocês que me ascenderam para o futebol brasileiro. Quando foram me vender, eu não queria. Eu saí extremamente chateado e triste, porque me tiraram para pagar o salário dos medalhões […] Eu não queria sair do Flamengo. Falar que eu queria vir pra São Paulo, pro Corinthians, eu vou tá mentindo. Não queria. Não conhecia São Paulo. Eu queria jogar no Maracanã, no Flamengo”. Júnior Baiano, Djalminha e Paulo Nunes também foram vendidos. Marcelinho parece ainda hoje magoado, falando que a geração dele era muito melhor do que a de 2019. Não sei, como também não sei se uma dupla Marcelinho – Sávio teria funcionado. Mas certeza é que como todos esses jogadores, Flamengo teria tido mais chances de títulos para o ano do centenário.
Mas Marcelinho saiu do Flamengo e chegou no Corinthians, virou Marcelinho Carioca, virou ídolo da torcida, virou o Pé de Anjo. Um pé muito pequeno, mas um talento enorme, deixava a bola onde queria, de lançamento, de falta, de escanteio. E que os clubistas mais ferozes do Flamengo me perdoam, mas Zico está só no terceiro lugar para mim na lista dos maiores batedores de falta da história do futebol. Como vice, um vascaíno, Juninho Pernambucano. E como primeiro, um flamenguista, Marcelinho Carioca. Zico é letal até os 30 metros, mas Juninho e Marcelinho conseguiam fazer gol até 40 metros de distância. E Marcelinho leva vantagem sobre Juninho por uma coisa, a variedade. Juninho batia de um jeito só, muito difícil para o goleiro defender, mas de um jeito só. Marcelinho batia colocado, batia com força, batia com a parte interna do pé, batia com o peito de pé. Batia de qualquer jeito e regularmente fazia o gol. O Pé de Anjo, meu ídolo.
Não relembro quando conheci Marcelinho Carioca. Relembro que jogou na França, no Ajaccio em 2004, mas jogou pouco, 10 jogos e 2 gols só. Mas acho que ele já era um nome conhecido para mim, também jogou no Parque dos Príncipes contra Paris em 2000 num amistoso com o Corinthians. Depois, vi vários vídeos dele. Porque não era só um dos maiores ídolos do Corinthians, não era só maior batedor de faltas, não era só meu nome preferido do futebol, era também um jogador completo, de técnica rara até no Brasil onde teve tantos malabaristas, era um jogador delicado, com grande visão de jogo. Podia ver onde devia colocar a bola, e o pé dele colocava a bola no lugar exato. Depois da primeira passagem no Mengo, nunca mais jogou no clube. Uma pena, queria ter tido a chance de ver ele ao vivo com o Flamengo. Mas entre 1988 e 1993 honrou muito o Manta Sagrado, com 49 gols em 242 jogos, com golaços de falta, com jogadas de gênio. Porque Marcelinho Carioca era um gênio mesmo.








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