Ídolos #23: Modesto Bría

Ídolos #23: Modesto Bría

Modesto Bría nasceu no 8 de março de 1922 em Encarnación, no Paraguai, e tinha uma encarnação de rubro-negro. Começou sua carreira no Nacional, onde foi campeão paraguaio em 1942, e no ano seguinte, com apenas 21 anos, chegou no Flamengo. Modesto Bría foi um dos primeiros ídolos gringos do Flamengo e honrou o Manto Sagrado durante 10 anos.

Modesto Bría foi indicado pelo grande repórter Geraldo Romualdo da Silva e foi o compositor e locutor Ary Barroso, outro flamenguista de alma, que foi buscar Modesto Bría em Assunção. O paraguaio chegou no final do campeonato carioca de 1943 quando Flamengo era líder, com ídolos como Domingos, Zizinho, Jaime, Biguá e Pirilo. Um time histórico, que já tinha conquistado o campeonato carioca um ano antes, e que ia ser ainda mais forte com a chegada de Modesto Bría. Escreve Roberto Sander no seu livro Anos 40, viagem à década sem copa: “Bría chegou ao Brasil quando faltavam cinco rodadas para o fim do campeonato. Chegou e conquistou imediatamente a condição de titular. Encarnou como poucos o espírito rubro-negro. Além da boa técnica, era um jogador raçudo. Sua garra contagiava. Tinha um senhor pulmão. Com a rapidez de um raio virou ídolo da torcida. Ao lado de Biguá e Jaime de Almeida, ele formou uma linha média que aliava habilidade e disposição. Marcava e apoiava com a mesma facilidade”.

Modesto Bría substituiu outro gringo, o argentino Volante, que deu seu nome a posição em campo. Bría estreou com um empate 2×2 no Fla-Flu e em seguida, Flamengo empatou contra São Cristóvão. Mas o time rubro-negro não era cavalo paraguaio e só goleou nos últimos 3 jogos: 5×1 contra Bonsucesso, 6×2 contra Vasco, 5×0 contra Bangu. Com apenas 5 jogos, Modesto Bría conhecia a maior experiência da vida, ser campeão com Flamengo. Em 1944, Vasco levou o Torneio Relâmpago e o Torneio Início, mas no campeonato carioca, deu mais uma vez Flamengo, deu o primeiro tricampeonato do Mengo depois de um jogo eterno contra Vasco, com o gol válido de Valido. “Fiz a maior partida de minha vida” falou depois Modesto Bría.

Ao lado de Biguá e Jaime de Almeida, Modesto Bría reinou no meio de campo, mas o Expresso da Vitória do Vasco impediu de conquistar mais títulos. Modesto Bría era tão bom que permitiu a chegada de outros paraguaios no Flamengo, o goleiro García em 1949 e o atacante Benítez em 1952. Flamengo tinha uma coluna vertebral paraguaia e caminhava para mais títulos. Em 1953, o Paraguai levou seu primeiro campeonato sul-americano, vencendo um jogo-desempate contra o Brasil. O Paraguai estava sem Modesto Bría, García e Benítez, que jogavam no exterior, mas o técnico campeão Fleitas Solich chegou semanas depois no Flamengo. Estreou sem Modesto Bría, mas com vitória 3×2 sobre Santos, gols de Joel, Evaristo e Esquerdinha, os novos ídolos.

Modesto Bría ainda jogou algumas partidas do Torneio Rio – São Paulo, mas não participou do campeonato carioca, que iniciou mais um tricampeonato do Flamengo entre 1953 e 1955. Modesto Bría fez seu último jogo com o Manto Sagrado no 10 de setembro de 1953, um amistoso contra XV de Jaú que acabou num 4×4. Como ele substituiu Volante no início da carreira, Modesto Bría foi substituído pelo Dequinha, que reinou no meio-campo rubro-negro na década de 1950. No Flamengo, foram para Modesto Bría dez anos de raça, amor e paixão, 369 jogos e 8 gols.

E na verdade, foram mais do que 369 jogos. Porque se Modesto podia pendurar as chuteiras, não podia ficar longe do Flamengo. Trabalhou no clube, às vezes como assistente do Flávio Costa e do próprio Fleitas Solich, às vezes trabalhando na base. Dirigiu o time principal do Flamengo pela primeira vez em 1959, fez outras passagens em 1967, 1971 e 1981. Depois voltou a ser assistente de Carpegiani quando Flamengo ganhou tudo no ano histórico de 1981. Também foi assistente de outro ídolo, no campo e no banco, o Violino Carlinhos, e de um ídolo apenas no banco porque era militar, Cláudio Coutinho.

Na base, o trabalho de Modesto Bría foi ainda mais impressionante. Tinha um olho clínico, convidou Gérson, jogador do Canto do Rio, para um teste no Flamengo. Reposicionou Júnior na lateral direita e recuou Mozer do meio de campo para a zaga. Talvez o momento mais importante foi em 1967 quando Celso Garcia o apresentou um jovem jogador de 13 anos, bem franzino, um certo Zico. Vendo o “lourinho muidinho” como ele falou para Celso Garcia, Modesto Bría estranhou um pouco, mas autorizou o jovem a fazer o teste. Relembra Zico no livro Zico conta sua história: “Bom, não foi um treino brilhante. Não marquei nenhum gol, mas joguei bem, sem complicar. O fato é que o Bría, no final, me mandou voltar na sexta-feira e foi logo avisando do que, no sábado, eu ia entrar no jogo contra o Everest…”. Por esse momento, e muitos outros durante 40 anos, Modesto Bría é patrimônio histórico do Flamengo.

6 respostas para “Ídolos #23: Modesto Bría”.

  1. Avatar de Times históricos #24: Flamengo 1944 – Francesguista

    […] Depois, outro ídolo saiu do clube, Domingos da Guia, que ainda hoje pode ser considerado como o maior zagueiro da história brasileira. Esta vez, foi o presidente Dario de Melo Pinto que mandou Domingos embora. Em 1971, Domingos falou para Placar que Dario de Melo Pinto era “o único dirigente que nunca conseguiu me compreender”. Já em 1941, quando Domingos reclamou da cama pequena durante uma excursão, Dario de Melo Pinto lhe respondeu: “Eu vou te arranjar um clube que tem uma cama maior para você”. Uma loucura. Outra loucura de Dario de Melo Pinto foi vender outro ídolo, Zizinho, em 1950. Enfim, como Leônidas, Domingos foi fazer sucesso em São Paulo, no Corinthians, e Flamengo também perdeu em 1943 o argentino Válido, que pendurou as chuteiras com 29 anos. Em compensação, Flamengo contratou já no final de 1943 um futuro ídolo, que já tem a crônica dele no Francêsguista, o paraguaio Modesto Bría. […]

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  2. Avatar de Times históricos #25: Flamengo 1955 – Francesguista

    […] Duca e Paulinho passaram a jogar mais, e ainda reinava no meio de campo Dequinha, que substituiu Modesto Bría e será substituído pelo Carlinhos, só craques, só ídolos. Evaristo de Macedo, artilheiro da […]

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  3. Avatar de Times históricos #31: Flamengo 1971 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] jogadores do clube nos anos 1940, o zagueiro negro Newton Canegal e o meio-campista paraguaio Modesto Bría, um ídolo no blog. O time se recuperou, com 3 vitórias, a última 1×0 sobre Vasco. Flamengo anunciou depois o […]

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  4. Avatar de Jogos eternos #237: São Paulo 0x2 Flamengo 1981 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] Para o primeiro jogo da temporada de 1981, que sonhos, que títulos, o novo técnico, antigo ídolo, Modesto Bria escalou Flamengo assim: Raul; Leandro, Rondinelli, Maurinho, Júnior; Andrade, Paulo César […]

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  5. Avatar de Times históricos #33: Flamengo 1943 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] marcou a estreia de um futuro ídolo, outro gringo que substituiu Volante, agora um paraguaio, Modesto Bria, buscado pelo compositor rubro-negro roxo e feroz, Ary Barroso. Contam Arturo Vaz, Paschoal […]

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  6. Avatar de Jogos eternos #269: Flamengo 6×2 Vasco 1943 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] era ainda mais avassalador com a chegada de um jovem paraguaio, que se tornou ídolo no Flamengo e no Francêsguista, Modesto Bria. Estreou no Fla-Flu e fez outros dois jogos antes de conhecer seu primeiro Clássico dos Milhões. […]

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”