Modesto Bría nasceu no 8 de março de 1922 em Encarnación, no Paraguai, e tinha uma encarnação de rubro-negro. Começou sua carreira no Nacional, onde foi campeão paraguaio em 1942, e no ano seguinte, com apenas 21 anos, chegou no Flamengo. Modesto Bría foi um dos primeiros ídolos gringos do Flamengo e honrou o Manto Sagrado durante 10 anos.
Modesto Bría foi indicado pelo grande repórter Geraldo Romualdo da Silva e foi o compositor e locutor Ary Barroso, outro flamenguista de alma, que foi buscar Modesto Bría em Assunção. O paraguaio chegou no final do campeonato carioca de 1943 quando Flamengo era líder, com ídolos como Domingos, Zizinho, Jaime, Biguá e Pirilo. Um time histórico, que já tinha conquistado o campeonato carioca um ano antes, e que ia ser ainda mais forte com a chegada de Modesto Bría. Escreve Roberto Sander no seu livro Anos 40, viagem à década sem copa: “Bría chegou ao Brasil quando faltavam cinco rodadas para o fim do campeonato. Chegou e conquistou imediatamente a condição de titular. Encarnou como poucos o espírito rubro-negro. Além da boa técnica, era um jogador raçudo. Sua garra contagiava. Tinha um senhor pulmão. Com a rapidez de um raio virou ídolo da torcida. Ao lado de Biguá e Jaime de Almeida, ele formou uma linha média que aliava habilidade e disposição. Marcava e apoiava com a mesma facilidade”.
Modesto Bría substituiu outro gringo, o argentino Volante, que deu seu nome a posição em campo. Bría estreou com um empate 2×2 no Fla-Flu e em seguida, Flamengo empatou contra São Cristóvão. Mas o time rubro-negro não era cavalo paraguaio e só goleou nos últimos 3 jogos: 5×1 contra Bonsucesso, 6×2 contra Vasco, 5×0 contra Bangu. Com apenas 5 jogos, Modesto Bría conhecia a maior experiência da vida, ser campeão com Flamengo. Em 1944, Vasco levou o Torneio Relâmpago e o Torneio Início, mas no campeonato carioca, deu mais uma vez Flamengo, deu o primeiro tricampeonato do Mengo depois de um jogo eterno contra Vasco, com o gol válido de Valido. “Fiz a maior partida de minha vida” falou depois Modesto Bría.
Ao lado de Biguá e Jaime de Almeida, Modesto Bría reinou no meio de campo, mas o Expresso da Vitória do Vasco impediu de conquistar mais títulos. Modesto Bría era tão bom que permitiu a chegada de outros paraguaios no Flamengo, o goleiro García em 1949 e o atacante Benítez em 1952. Flamengo tinha uma coluna vertebral paraguaia e caminhava para mais títulos. Em 1953, o Paraguai levou seu primeiro campeonato sul-americano, vencendo um jogo-desempate contra o Brasil. O Paraguai estava sem Modesto Bría, García e Benítez, que jogavam no exterior, mas o técnico campeão Fleitas Solich chegou semanas depois no Flamengo. Estreou sem Modesto Bría, mas com vitória 3×2 sobre Santos, gols de Joel, Evaristo e Esquerdinha, os novos ídolos.
Modesto Bría ainda jogou algumas partidas do Torneio Rio – São Paulo, mas não participou do campeonato carioca, que iniciou mais um tricampeonato do Flamengo entre 1953 e 1955. Modesto Bría fez seu último jogo com o Manto Sagrado no 10 de setembro de 1953, um amistoso contra XV de Jaú que acabou num 4×4. Como ele substituiu Volante no início da carreira, Modesto Bría foi substituído pelo Dequinha, que reinou no meio-campo rubro-negro na década de 1950. No Flamengo, foram para Modesto Bría dez anos de raça, amor e paixão, 369 jogos e 8 gols.
E na verdade, foram mais do que 369 jogos. Porque se Modesto podia pendurar as chuteiras, não podia ficar longe do Flamengo. Trabalhou no clube, às vezes como assistente do Flávio Costa e do próprio Fleitas Solich, às vezes trabalhando na base. Dirigiu o time principal do Flamengo pela primeira vez em 1959, fez outras passagens em 1967, 1971 e 1981. Depois voltou a ser assistente de Carpegiani quando Flamengo ganhou tudo no ano histórico de 1981. Também foi assistente de outro ídolo, no campo e no banco, o Violino Carlinhos, e de um ídolo apenas no banco porque era militar, Cláudio Coutinho.
Na base, o trabalho de Modesto Bría foi ainda mais impressionante. Tinha um olho clínico, convidou Gérson, jogador do Canto do Rio, para um teste no Flamengo. Reposicionou Júnior na lateral direita e recuou Mozer do meio de campo para a zaga. Talvez o momento mais importante foi em 1967 quando Celso Garcia o apresentou um jovem jogador de 13 anos, bem franzino, um certo Zico. Vendo o “lourinho muidinho” como ele falou para Celso Garcia, Modesto Bría estranhou um pouco, mas autorizou o jovem a fazer o teste. Relembra Zico no livro Zico conta sua história: “Bom, não foi um treino brilhante. Não marquei nenhum gol, mas joguei bem, sem complicar. O fato é que o Bría, no final, me mandou voltar na sexta-feira e foi logo avisando do que, no sábado, eu ia entrar no jogo contra o Everest…”. Por esse momento, e muitos outros durante 40 anos, Modesto Bría é patrimônio histórico do Flamengo.








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