Juan é outro jogador que conheci na Europa, no Bayer Leverkusen e na Roma, também vi jogar com a Seleção, mas além de tudo, Juan é rubro-negro, desde seu nascimento, no 1o de fevereiro de 1979.
Criado de Humaitá, na Zona Sul de Rio de Janeiro, Juan já era flamenguista antes de ser jogador do Flamengo. E antes de ingressar a base do clube, já conhecia outro ídolo do Flamengo, Júlio César, com quem jogava futsal no Grajaú Country Club. Chegou no Maior do Mundo com 9 anos, como meio-campista, mas rapidamente se destacou na zaga. Passou por todas as categorias da base e estreou profissionalmente no 5 de julho de 1996, com vitória 1×0 num amistoso contra Desportiva Ferroviária. Juan tinha apenas 17 anos, precisa muita personalidade para jogar na zaga do Flamengo sendo ainda um menor.
A estreia no Brasileirão aconteceu um mês depois, no Maracanã, com vitória sobre Atlético Mineiro e fim de um jejum de 5 jogos sem vencer o Galo. Juan era sinônimo de sorte e de gol também, o primeiro chegou em 1997 contra o Internacional numa vitória 1×0. Também fez o gol da vitória 3×2 contra Grêmio, para o fim de um outro jejum ainda mais incomodante, Flamengo não vencia Grêmio no Maracanã no Brasileiro há 8 jogos!
Juan também fez um gol num Fla-Flu no Torneio Rio – São Paulo 1998, mas foi em 1999 que ele começou a ser o ídolo na Nação, com golaço contra o Internacional no dia do aniversário do clube, e mais importante, com título da Copa Mercosul, fazendo gol na ida, conquistando a taça na volta, um jogo eterno no francêsguista. Com o título, se firmou definitivamente como titular depois de não jogar o campeonato carioca.
Em 2000, formou uma das maiores zagas da história do Flamengo com o gringo Gamarra e levou o campeonato carioca, conquistado em cima do Vasco. Fez outros gols, inclusive nos dois jogos contra River Plate nas quartas de final da Copa Mercosul, infelizmente não foram suficiente para conquistar o bicampeonato. O bi para Juan veio no campeonato carioca em 2001, quando Flamengo derrotou Vasco com o gol eterno de Petkovic. Fla também conquistou nesse ano a Copa dos Campeões, com mais um gol de Juan na final contra São Paulo. Juan sabia fazer duas coisas, conquistar títulos e fazer gols, além de também, claro, cumprir o papel principal de um zagueiro, impedir muitos gols e anular muitos atacantes.
Em 2001, além do campeonato carioca e da Copa dos Campeões já conquistados, Flamengo jogou de novo a Copa Mercosul, de novo com gols de Juan. Um golaço de trivela conta San Lorenzo na fase de grupos, mais um gol na volta, e ainda mais impressionante, um doblete no 4×0 contra Independiente nas quartas de final. O adversário na semifinal foi Grêmio, e com apenas 5 minutos no Maracanã, Juan fazia mais um gol, seu quinto na competição. E com um detalhe incrível, nos 5 gols quem deu a assistência foi Petkovic! Flamengo tinha uma jogada armada na época, falta de Pet, cabeçada de Juan, gol do Fla. Contra Grêmio, 2×2 na ida, 0x0 na volta, e nos pênaltis, Petkovic e Juan fizeram, Reinaldo e Beto também, e Flamengo voltava na final. Três dias depois, Juan fazia mais um gol, no Brasileirão contra Palmeiras, como você já sabe, falta de Petkovic, cabeçada de Juan, realmente o zagueiro artilheiro.
Na final contra San Lorenzo, Flamengo fez um 0x0 na ida e o jogo de volta, previsto no 19 de dezembro, foi adiado para início de 2002 por causa de protestos na Argentina. No 24 de janeiro, Flamengo fez 1×1 na Argentina, Juan iniciou na disputa de penalidades, mas perdeu seu pênalti e Flamengo perdeu o título. Claro, não dá para saber, mas acho que se Flamengo tinha jogado a partida no fim da temporada de 2001 como era previsto, teria sido o campeão.
Juan ainda jogou no Flamengo no primeiro semestre de 2002, mas com tantas qualidades, o destino obvio era a Europa. Jogou 5 temporadas no Bayer Leverkusen, mais 5 na Roma, fazendo outros gols e conquistando a Copa da Itália em 2008. Com a Seleção, conquistou duas Copas das confederações, sendo reserva, e duas Copas América, sendo titular. Também jogou duas Copas do Mundo como titular, em 2006 e 2010, seu último jogo com a Seleção sendo na eliminação contra a Holanda em 2010. Na Seleção, foram 79 gols e 7 gols, o primeiro contra o Costa Rica na Copa América 2004 e o último contra o Chile na Copa do Mundo 2010, dois gols que mostram o repertório de Juan, um jogador mortal no jogo aéreo, mas também capaz de dar apoio ao ataque com aceleração na defesa adversaria e precisão no cara a cara com o goleiro.
Depois de 10 anos na Europa, era o tempo de volta ao Brasil, em 2012, com já 33 anos, mas o destino não foi Flamengo. Não o culpo, a diretoria do Flamengo era na época uma bagunça, quase uma várzea. Às vezes o lado profissional é mais determinante que o amor pelo clube. Juan chegou no Internacional, conquistou o tricampeonato gaúcho entre 2013 e 2015 e, claro, fez gols. Um primeiro de cabeça já na estreia com a camisa do Inter, um doblete contra Lajeadense, um gol contra o próprio Flamengo, que não comemorou e até chamou de “gol triste” e o último contra Santa Fé nas quartas de final da Libertadores de 2015, para relembrar que Juan era decisivo nos jogos importantes.
E finalmente, Juan voltou no Maior do Mundo, 14 anos depois de sair do Flamengo, e assinou um contrato de um ano. Em 2016, foi titular durante o campeonato carioca mas jogou pouco no Brasileirão, apenas 9 jogos. Renovou e voltou a se destacar em 2017, no jogo contra a Portuguesa, um jogo eterno no francêsguista, fez uma linda assistência de calcanhar par Leandro Damião e depois voltou a fazer um gol com o Manto Sagrado, 15 anos depois do último. Também marcou contra a Chapecoense nas oitavas de final da Copa Sudamericana. Na semifinal da Copa Sudamericana, empatou contra o Junior Baranquilla para o delírio do Maracanã. O gol era importante e decisivo, e tinha uma marca ainda mais especial, com esse gol, Juan fazia seu 32o gol para o Flamengo e igualava Júnior Baiano para se tornar o maior zagueiro-artilheiro da história do Flamengo. Um fato impressionante e Juan merece muito esse recorde.
Juan foi campeão carioca em 2017, mas merecia um título mais importante nesse ano. Infelizmente, Flamengo perdeu a final da Copa Sudamericana e também a Copa do Brasil, onde Juan, com 38 anos, jogou muito nas duas finais contra Cruzeiro, sendo eleito o melhor do jogo na ida e fazendo gol com categoria na disputa de penalidades na volta. Em 2018, Juan renovou seu contrato mais uma vez por um ano e foi titular na Copa Libertadores. Infelizmente, teve uma lesão muito grave durante um treino, uma ruptura do tendão de Aquiles, que necessitava uma cirurgia. O grupo sentiu muito essa ausência e vale relembrar a classe de outro ídolo, Diego, que mostrou para o Maracanã a camisa de Juan depois de fazer um gol contra a Chape.
A direção também fez o certo, renovou o contrato até abril de 2019 para deixar Juan o tempo de recuperar. E Juan mostrou mais uma vez, com 39 anos, que era um jogador, um ser humano diferente. Fez todos os esforços para voltar e conseguiu jogar de novo, vale também relembrar a atitude de Abel Braga, que o fez entrar no fim do jogo contra Madureira, onde claro, Diego lhe cedeu a faixa de capitão. Na abertura do Brasileirão, Juan fez sua despedida e entrou no último minuto no lugar de Éverton Ribeiro que, claro, lhe cedeu a faixa de capitão. Teve festa dos jogadores, da comissão técnica, volta olímpica, festa da torcida. Impressionante como Juan é unanimidade no Flamengo, não tem um torcedor que duvide de seu amor e compromisso pelo rubro-negro.
Este minuto ofereceu ao Juan o título de campeão brasileiro. Pena que não é campeão da Libertadores. Fica então os números, 332 jogos e 32 gols com o Manto Sagrado, fica as imagens, desarmes e cabeçadas, gols e gritos de capitão, gritos do peito rubro-negro. Fica para mim outras imagens, quando apresentou ao Maracanã a taça do campeonato carioca, junto com Adriano que tinha a do Brasileirão e Adílio a da Libertadores, uma imagem que simboliza o ano histórico de 2019 e toda a tradição do Flamengo. E tenho na memória uma entrevista do Juan quando era bem pequeno, ainda na base, uma entrevista de 14 segundos e 3 perguntas. Quando crescer, Juan queria ser “jogador de futebol”, um jogador “comum”, olha a humildade do garoto, e gostava mais de “Zico”. Bem Juan, você nunca foi jogador comum, e mais, você é ídolo do Flamengo.








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