Jogos eternos #95: Goiás 0x4 Flamengo 1986

O confronto Goiás x Flamengo é sinônimo de saudade para mim. Há um ano, eu voava pelo Brasil, para realizar o sonho de um vida, morar na cidade mais linda do mundo, Rio de Janeiro. Criei esse blog para escrever sobre minha maior paixão, Flamengo, e o primeiro jogo eterno foi um jogo contra Goiás, uma goleada 4×1 em 1997 com gol de Sávio e hat-trick de Romário. Hoje, eu vou de outra goleada na Serra Dourada, em 1986.

O Brasileirão de 1986 é talvez o mais complicado da história, anunciando a necessidade de uma mudança no futebol brasileiro, que aconteceu de forma parcial no ano seguinte, com o Clube dos 13 e a Copa União. A Copa Brasil, como era chamado o Brasileirão em 1986, teve 80 times, contando os 36 do Torneio Paralelo, uma espécie de Série B. Na primeira fase, Flamengo fechou seu grupo de 11 times no primeiro lugar e se classificou para a segunda fase, agora com 9 times, com os 4 primeiros classificados para as oitavas de final.

Flamengo começou a segunda fase com um empate 1×1 contra Grêmio, em seguida venceu o Atlético-GO, empatou contra Fluminense, perdeu contra Central e fez mais um empate, contra Guarani. Com 5 pontos em 5 jogos, ainda tinha tempo com jogos de ida e volta, mas Flamengo já precisava de uma reação na Serra Dourada contra Goiás, que tinha perdido seus dois únicos jogos feitos até aqui.

No 2 de novembro de 1986, Sebastião Lazaroni escalou Flamengo assim: Zé Carlos; Aílton, Leandro, Aldair, Jorginho; Andrade, Sócrates, Zinho, Júlio César Barbosa; Bebeto, Kita. Um time excepcional, mesmo sem Zico, que ainda se recuperava da terrível lesão no joelho. O Flamengo contava com a volta de Sócrates, que por causa da preparação para a Copa do Mundo e de várias lesões, não tinha jogado com o Flamengo desde o mês de fevereiro e um Fla-Flu inesquecível, com goleada 4×1 e hat-trick de Zico, um jogo eterno no francêsguista.

E Sócrates brilhou já no primeiro tempo, com meia hora de jogo e jogada iniciada no meio de campo nos pés de Júlio César, camisa 10. Passe para o antigo e ainda craque Leandro, que achou Sócrates entre vários defensores. Antes mesmo de receber a bola, Sócrates se posicionou em direção ao gol e de um toque só, de trivela, deixou para Kita, que venceu o goleiro de cobertura. Cinco minutos depois, o antigo e ainda craque Andrade achou na direita Bebeto, que já no domínio da bola, levou vantagem sobre o defensor. Bebeto cruzou e de cabeça, Kita, número 9, fez o doblete.

Kita, gaúcho de nascimento, iniciou sua carreira no Juventude antes de ir no Internacional, onde foi artilheiro do campeonato gaúcho 1983. Mas foi no pequeno Inter de Limeira, interior de São Paulo, que ele se revelou. Em 1986, Inter de Limeira conquistou seu primeiro campeonato paulista, Kita foi artilheiro da competição, fazendo gol na final contra Palmeiras. Ganhou o interesse de grandes clubes e no segundo semestre de 1986, Flamengo venceu a disputa com o Corinthians e levou Kita, que no seu primeiro jogo com o Manto Sagrado fez 2 gols contra… o Corinthians.

No segundo tempo, Sócrates brilhou mais uma vez. Seu carrinho limpo na bola iniciou um contra-ataque para Bebeto, que puxou a bola e deu para Júlio César conseguir uma falta perto da grande área. Sem Zico, bola parada para outro craque, Sócrates. Dois passos e com a precisão e a tranquilidade do craque, Sócrates achou a gaveta para fazer seu primeiro gol com Flamengo, um golaço. Pena que chegou um pouco tarde no Flamengo e não jogou mais tempo com Zico, uma dupla que elevou o futebol-arte com a Seleção brasileira e que poderia ter feito ainda mais jogando no mesmo clube.

No final do jogo, numa jogada rápida, Kita driblou o goleiro, completou o hat-trick, fechou a goleada. Kita jogou ainda no Flamengo em 1987, mas sem o mesmo brilho de antes. Sócrates também deixou Flamengo em 1987, pouco depois da eliminação de Flamengo nas oitavas de final do Brasileirão 1986 contra o Atlético Mineiro. Infelizmente, Kita teve um triste fim, em 2011, depois de uma infecção durante uma cirurgia, teve o pé esquerdo amputado. Quatro anos depois, morreu de câncer com apenas 57 anos. Quem também morreu aos 57 anos é o próprio Sócrates, que morreu de um choque séptico de origem intestinal causado pelo consumo excessivo de álcool, o único inimigo a sua genialidade. Ah Doutor, que saudade eu tenho de você…

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”