Com a derrota 1×0 no Maracanã, Flamengo está numa posição muito difícil e fica bem longe de conquistar a Copa do Brasil 2023. Mas, apesar do futebol fraco em campo, das histórias inacreditáveis extra-campo, estou de um otimismo exagerado quando o tema é Flamengo. Tem que acreditar, Flamengo pode vencer uma Copa nacional em cima do São Paulo, como foi o caso em 2001, quando Flamengo conquistou a Copa dos campeões, depois de uma vitória 5×3 na ida. Flamengo até derrotou São Paulo numa final continental, a Copa de Ouro 1996, por coincidência a crônica #96 dos jogos eternos.
A Copa de Ouro era uma espécie de Recopa Sudamericana, ou uma Supersupercopa Libertadores, com os vencedores de várias competições continentais numa época onde a CONMEBOL não parava de inovar. A Copa de Ouro era também chamada de Copa de Oro Nicolás Leoz, do nome do presidente da CONMEBOL de 1986 até 2013, quando renunciou ao cargo aos 84 anos por causa das acusações de corrupção durante o FIFAgate.
A Copa de Ouro começou em 1993, voltou em 1995 e foi disputada pela última vez em 1996. Neste ano, tinha Grêmio, vencedor da Copa Libertadores 1995, São Paulo, vencedor da Copa Máster de CONMEBOL 1996, Rosario Central, vencedor da Copa CONMEBOL 1995 e Flamengo. Infelizmente, Flamengo não conquistou um título continental nessa época, mas se classificou como finalista da Supercopa Libertadores 1995 depois da desistência do campeão, Independiente.
A Copa de Ouro 1996 se disputou no mês de agosto em Manaus. Na semifinal, Flamengo derrotou 2×1 Rosario Central com um doblete do jovem Fábio Baiano. Do outro lado, São Paulo se classificou para a final também com uma vitória 2×1, contra Grêmio. Para a grande final, no 16 de agosto de 1996, Joel Santana escalou Flamengo assim: Roger; Paulo César, Fabiano, Ronaldão, Gilberto; Márcio Costa, Mancuso, Fábio Baiano, Nélio; Sávio, Marques. Do lado do São Paulo, um técnico campeão do mundo no banco, Carlos Alberto Parreira, e alguns futuros pentacampeões, como Rogério Ceni, Edmílson e Belletti.
No antigo Vivaldão, estádio de Manaus demolido em 2010, primeiro lance saiu dos pés de Mancuso. Na verdade, o gringo fez toda a joga, foi no início, no meio, na finalização. Com uma dupla tabelinha, Mancuso invadiu a área, antecipou a saída de Rogério Ceni, sofreu um pênalti. Sem Romário, que foi transferido no Valencia dois meses antes, Sávio cobrou a penalidade máxima. E cobrou muito bem, com força e precisão, abriu o placar para Flamengo. Com apenas 15 minutos de jogo, o ídolo Sávio já brilhava, mas ele tinha ainda mais estrela.
No fim do primeiro tempo, o colombiano Víctor Aristizábal empatou depois de bom cruzamento de Guilherme. Mas esse jogo tinha a estrela e o talento de Sávio. Com dois passes de 40 metros, Flamengo passou de sua área até o cara a cara entre Sávio e o goleiro, até o já meio gol. Sávio chegou com velocidade e calma, as duas coisas são difíceis de combinar, mas não para um craque como Sávio. Com uma finta, Sávio deixou a bunda de Rogério Ceni no chão, abriu o caminho do gol, colocou de novo Flamengo na frente. Mais uma jogada e um golaço de Sávio com o Manto Sagrado.
E no finalzinho, mais uma vez Sávio. No meio de campo, Iranildo, que entrou durante o jogo, abriu para Sávio, que já no domínio da bola, se posicionou para fazer o gol. Ainda ajustou o corpo para abrir o ângulo, chutar de pé esquerdo, ajustar o goleiro. Um gol fácil para um craque, mas um gol quase impossível a fazer para o jogador comum. Mas para a sorte do Mengo, Sávio era craque, sempre foi craque, nunca deixou de ser craque.
Já falei numa outra crônica que Sávio fazia ao menos um jogo eterno a cada ano. Teve o jogo contra Grêmio um ano antes, o jogo contra o Real Madrid um ano depois. Ainda não eternizei o jogo contra Palmeiras em 1994, mas Sávio brilhou em outros jogos eternos no francêsguista, contra Juventude e Vélez Sarsfield em 1995, Vasco e Internacional em 1996, também Goiás em 1997. Sávio brilhou nos campos e conquistou títulos, um em cima de São Paulo. Ainda não é tarde demais Flamengo de 2023…








Deixe um comentário