Na geral #17: E Fla foi vice de novo

E mais uma vez, Flamengo perdeu um título em 2023, perdeu a última oportunidade de salvar um pouco a temporada de 2023. Mas não foi o caso, Flamengo foi vice de novo. Não sei qual eliminação foi a mais dolorosa, a mais vergonhosa, a mais perdida. Já no início do ano, teve a derrota na Supercopa, uma outra na Recopa, a desilusão no Mundial, onde nem foi vice, a vergonha do carioca. Quatro competições perdidas e Flamengo conseguiu fazer pior no segundo semestre com a chegada de Sampaoli, que nunca convenceu e pouco venceu.

No segundo semestre, mais vergonhas, foi eliminado na Libertadores já nas oitavas, contra Olimpia, que é um bom time, mas longe de ser candidato ao título, Flamengo perdendo também mais uma vez a oportunidade de um Fla-Flu na maior da América. No Brasileirão, vergonhas foram em diversos jogos, quando tinha a possibilidade de reduzir a distância com os times de cima, Flamengo perdia, fazia mais um vexame.

Faltava a Copa do Brasil para salvar um pouco a temporada, inclusive uma competição onde Flamengo era o último campeão. E para mim, era a oportunidade de fechar o ciclo. Cheguei no Rio de Janeiro em setembro de 2022 e meu primeiro jogo no Maracanã foi a semifinal da Copa do Brasil, contra São Paulo, olha a ironia. Estava no estádio quando Flamengo foi tetra em cima do Corinthians de Vítor Pereira, agora sem ironia. Em 2023, eu estava na arquibancada do Maraca na terceira fase contra Maringá, nas oitavas contra Flu e nas quartas contra o Athletico, já estava de volta na França na semifinal contra Grêmio. Vi todas as fases em duas edições diferentes e queria ganhar a duas Copas. Não foi o caso.

Antes do jogo de volta da final contra São Paulo, eu estava mais ou menos confiante, não por causa do nível do Flamengo de 2023 em campo ou das histórias fora do campo, mas porque sou de um otimismo exagerado quando se fala do Flamengo. Ainda sem apartamento em Paris, assisti sozinho ao jogo de ida na casa de meus pais. Flamengo jogou muito mal e relembro que no primeiro tempo, falei para mim que Flamengo ia tomar um gol. Dez segundos depois, Calleri abria o placar e decretava o placar final ao mesmo tempo. Nada de vidente para mim, era obvio que Flamengo ia tomar o gol, só não esperava isso tão rapidamente.

Apesar da derrota no Maracanã, o placar era reversível e a vitória do Flamengo era possível. Com um título em jogo, era impossível para mim de faltar o jogo no consulado Fla Paris. Garanti minha hospedagem em Paris com meu amigo Danilo, peguei o trem e cheguei no Fleurus, mais de um ano depois de meu último jogo no consulado, um 1×1 contra Ceará no 4 de setembro de 2022, apenas um dia antes de minha ida ao Brasil. Fui muito feliz de ver de novo Cidel, Waldez, Danilo, Sammy, Thiago, Bruno e outros flamenguistas ainda não conhecidos, mas já irmãos. A casa estava cheia e só faltava Flamengo ganhar.

E Flamengo conseguiu o primeiro lance de perigo antes do primeiro minuto, mas Pedro perdeu o ângulo. A virada era possível, Gerson teve mais uma oportunidade, mas demorou a chutar. Flamengo dominou o início de jogo, mas o início só. São Paulo passou a ter controle da bola e do jogo, e foi quase um milagre que Flamengo abriu o placar, com bom trabalho de Erick Pulgar e finalização de Bruno Henrique, com um pouco de sorte, bom oportunismo e muito talento. Os dois são quase os únicos a se salvar, durante o jogo e a temporada inteira.

A virada era possível mas Flamengo tomou um gol cinco minutos depois, alguns segundos antes do intervalo. Passo da responsabilidade individuais para a responsabilidade coletiva, é impossível tomar um gol assim. E no segundo tempo, Flamengo fez o que fez durante quase toda a temporada, nem deu a impressão que queria reverter o placar, que a virada era possível. Tomou mais uma vergonha em campo, depois de tomar outra vergonha extra-campo, com mais uma briga, a terceira em dois meses, entre Marco Braz e um torcedor. Sobre o Flamengo, não tem muito a falar mais.

Agora estou feliz para Dorival Júnior, que merecia mais essa conquista que o Flamengo inteiro. Ainda não entendo a escolha da diretoria de buscar o Vítor Pereira, e acho que é isso mesmo, não tem nada a entender, foi mais um erro da diretoria. Também estou feliz para Lucas Moura, que saiu do São Paulo com título da C opa Sudamericana e voltou mais de 10 anos depois, numa época onde muitos jogadores foram em outros lugares de menos tradição e de mais dinheiro, para conquistar um título inédito para São Paulo, um clube pelo qual tenho carinho por ser o primeiro grande time brasileiro que eu vi ao vivo, quando conquistou o Mundial em 2005.

Agora, voltando ao Flamengo, é torcer para gastar ainda mais dinheiro numa multa rescisória de mais um treinador que decepcionou, de várias formas, no Flamengo. Agora é torcer para uma classificação na Libertadores, o que vai ser nada fácil. Hoje, Flamengo está na sétima colocação, fora até da pré-Libertadores. Flamengo pode conhecer mais uma vergonha na pior temporada do clube desde que o trabalho de Eduardo Bandeira de Mello começou a ter benefícios, em 2015. Claro, na história do clube, teve times piores, lutando contra o rebaixamento, mas a frustração de hoje é de ver o elenco de 2023, de qualidade alta, de folha salarial alta, um elenco que estava acostumado a ganhar e que se acostumou, sem revolta ou questionamento, a perder.

O Flamengo de 2023 foi ridículo. Ainda não tenho o Manto Sagrado do ano e, como gosto de colocar o nome de um jogador nas costas, esperava a final da Copa do Brasil para escolher o herói da decisão. Não teve, mas vou colocar o nome de Bruno Henrique, porque incrivelmente ainda não tenho a camisa dele, e foi um dos únicos que se salvou esse ano, voltando de uma lesão muito grave, voltou a jogar muito, com raça, amor e paixão, como sempre deveria ser o caso quando alguém veste o Manto Sagrado. Mas Flamengo hoje é mais perto de acomodação, ódio e desgosto.

Mas Flamengo é Flamengo, na vitória ou na derrota, sempre sou Flamengo. Valia a pena o esforço, ir no consulado, rever os amigos da Fla Paris, torcer juntos, esperar dias melhores. Afinal, torço pelo Maior do Mundo. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”