A temporada do Flamengo de 2023 ficará marcada, além dos vices e das vexames, pela aposentadoria de Filipe Luís. Provavelmente não é um adeus, Filipe Luís tem tudo para ser um dia o técnico do Flamengo. Vamos para o jogo eterno de hoje de uma outra despedida, de um ídolo do futebol que virou técnico do Flamengo, o Capitão Carlos Alberto Torres.
Carlos Alberto Torres fez 20 jogos no Flamengo, em 1977, já em fim de carreira. Foi ídolo do Fluminense, onde começou a carreira 1963 e conquistou o campeonato carioca de 1964. Um ano depois chegou no Santos, onde também virou ídolo, foi capitão apesar de ainda ser jovem, e conquistou muitos títulos ao lado de Pelé. Também foi capitão da Seleção brasileira, conquistou o Tri e virou para sempre o Capita. Voltou no Fluminense para fazer parte da grande Máquina Tricolor que conquistou o bicampeonato carioca 1975-1976 e mais uma vez reencontrou Pelé, agora nos Estados Unidos, com o eterno New York Cosmos. E mais uma vez foi campeão.
No Cosmos, jogou na defesa central, o que permitiu ao também ídolo do futebol Franz Beckenbauer de jogar no meio de campo. Ao lado de outros ídolos, Chinaglia e Neeskens, conquistou 3 vezes o campeonato nacional da NASL, se desentendeu com o técnico alemão Weisweiler, foi jogar no California Surf, e em 1982 voltou ao Cosmos para conquistar mais um título da NASL. Uma carreira de multicampeão que chegava ao fim e, como Pelé e Beckenbauer, Carlos Alberto Torres teve seu jogo de despedida no Cosmos. Dez dias depois do título americano, o Cosmos estava de novo em campo para homenagear Carlos Alberto, com um jogo contra nosso Flamengo. No 28 de setembro de 1982, no também eterno Giants Stadium, Paulo César Carpegiani escalou Flamengo assim: Cantareli; Antunes, Marinho, Figueiredo, Júnior; Paulo César Carpegiani, Adílio, Zico; Wilsinho, Lico, Nunes. O técnico Paulo César Carpegiani voltou a jogar no meio de campo um ano depois do jogo de despedida dele, jogo que também foi eternizado no Francêsguista, uma vitória 2×0 sobre o Boca Juniors de Maradona com dois gols de Zico.
No Giants Stadium, o time do New York Cosmos entrou com a taça de campeão. Tinha muitos ídolos, Carlos Alberto claro, também Franz Beckenbauer, e até Sócrates, que vestiu a camisa do New York Cosmos para esse jogo. O apito inicial foi dado pelo maior ídolo do futebol, Pelé. E não tinha dúvidas que o jogo estava nos Estados Unidos, o campo, sintético, tinha as delimitações e marcas de yards do futebol americano. Flamengo dominou o começo do jogo e Paulo César Carpegiani achou Zico que, na marca dos 20 yards, mandou a bola nas redes com a ajuda da trave. Com tantas estrelas em campo, brilhava mais uma vez a maior, Zico.
Flamengo continuou a ter controle absoluto do jogo e na direita, Wilsinho driblou dois e chutou do pé esquerdo. A bola foi desviada e enganou o goleiro, Cosmos 0x2 Flamengo. Ainda no primeiro tempo, mais um lance na ala direita para Flamengo, com Nunes para Adílio. Com um domínio de futsal, Adílio achou Júnior sozinho na grande área, que não tinha no gramado americano, e o Capacete fez o gol fácil. No intervalo, Cosmos 0x3 Flamengo.
No segundo tempo, Flamengo relaxou, talvez até deixou o Cosmos jogar, que chegou ao empate com 3 gols de Chinaglia. Um primeiro pênalti por causa de uma mão na inexistente grande área, um gol fácil depois de frango de Cantareli, e um segundo pênalti, de novo por causa de uma mão, de novo batido pelo Chinaglia. Pena que o homenageado do dia, Carlos Alberto Torres, não cobrou o pênalti, já que era um exímio batedor de pênaltis, fazendo vários com Santos ou Fluminense. No final, 3×3, a festa foi preservada, e Carlos Alberto Torres deixou o campo sob aplausos.
Depois, Carlos Alberto Torres ficou morando nos Estados Unidos, onde treinou crianças. Explica o próprio Capita no livro Os 11 maiores laterais do futebol brasileiro de Paulo Guilherme: “Depois que parei de jogar comecei a dar aulas de futebol para a garotada em Nova Jersey. Vi que aquilo dava resultado e decidi continuar nos Estados Unidos. Conseguia reunir mais de 1.500 garotos em um único curso”. Mas não fez isso por muito tempo. O futebol tinha planos maiores para o Capita. Seis meses depois do jogo de despedida, o presidente do Flamengo Antônio Augusto Dunshee de Abranches foi até os Estados Unidos para convencer Carlos Alberto Torres de ser o técnico do Flamengo, já na terceira fase do Brasileirão. Carlos Alberto aceitou o desafio e mudou a forma de jogar do Flamengo, como relembra Zico no livro Zico, 50 anos de futebol de Roger Garcia: “O que acontece quando troca o treinador é que quem entra faz uma ou duas alterações, modifica a forma de jogar. O Carlos Alberto, por exemplo, fez uma mudança radical. Jogávamos com dois pontas avançados. E ele puxou dois caras para o meio, escalou o Júlio César Barbosa na esquerda, botou o Élder e ficamos eu e o Baltazar na frente. Nosso time ficou sem ponta. Antes estavam jogando o Robertinho e o Édson. Então o time às vezes cria certo equilíbrio e a coisa funciona”. A coisa funcionou, Carlos Alberto estreou com goleada 5×1 contra o Corinthians, também um jogo eterno no Francêsguista, e um pouco mais de um mês depois, o Capitão do Tri conquistava o tricampeonato brasileiro com Flamengo. Assim, depois de ser ídolo do Flu e do Santos, da Seleção e do Cosmos, Carlos Alberto Torres virava ídolo do Maior do Mundo, nosso Flamengo.








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