Um Flamengo x Vasco, no campeonato carioca, tem inumerosas possibilidades de jogos eternos. Só nesse blog já foram vários, do gol do Tri de Valido de 1944 até a classificação na final de 2022, sem esquecer do jogo de 1991 com Júnior brilhando, de 1996 com Sávio e Romário brilhando e claro, o gol do Tri de Petkovic em 2001. Também deixei uma homenagem ao Roberto Dinamite com um 2×2 na Taça Guanabara de 1975, com Zico e Dinamite brilhando.
Vamos avançar de um ano só para chegar na Taça Guanabara de 1976. Flamengo começou perfeitamente a competição, com 5 vitórias em 5 jogos. Para o primeiro clássico do ano, no 4 de abril de 1976 contra Vasco, Carlos Froner escalou Flamengo assim: Cantareli; Toninho Baiano, Jayme, Rondinelli, Júnior; Merica, Geraldo, Zico; Caio Cambalhota, Luisinho Lemos, Zé Roberto. Um time de ídolos e de dois irmãos, Caio Cambalhota e Luisinho Lemos. Vasco também tinha grandes jogadores: o goleiro Mazarópi, o futuro técnico Abel Braga, o tricampeão do mundo Marco Antônio e um ataque poderosa com Zanata, Dé, Luiz Fumanchu e claro, Roberto Dinamite. Um Clássico dos Milhões que, mesmo sem decidir nada, reuniu no Maracanã 174.770 presentes, o quinto maior público da história do Maracanã, o segundo do Flamengo e o primeiro do Flamengo x Vasco. Já era um jogo eterno antes do primeiro minuto.
Não tem informações sobre quantas pessoas faltaram o primeiro gol do dia, mas deve ter muitos. Bola rolando, bola na direita, Geraldo dominou a bola de peito e deixou para Zico, para Zico fazer uma finta e achar de novo na grande área Geraldo, que antecipou a saída do goleiro e cruzou no chão, Luisinho só teve a empurrar a bola no fundo das redes. Com apenas 15 segundos, Flamengo marcava um gol contra Vasco, que nem teve tempo de tocar a bola. Já era um jogo eterno no primeiro minuto.
O centroavante Luisinho vivia uma seca de gols e reclamava do Geraldo, que segundo ele não lhe passava a bola. Luisinho foi punido e não jogou a partida anterior, contra o São Cristóvão, voltou para o jogo contra Vasco e Geraldo lhe prometeu muitas bolas para fazer gols. Cumpriu a promessa em menos de um minuto. Também vale destacar a cumplicidade entre Zico e Geraldo na jogada, se achavam de olhos fechados e cérebros abertos. Falavam a mesma linguagem do futebol. A morte de Geraldo algumas semanas depois foi um drama. Ele tinha tudo para se encaixar perfeitamente no Flamengo campeão de tudo no início da década de 1980.
No segundo tempo, Tadeu, bom nome para jogar no Flamengo, entrou no lugar de Geraldo e fez lançamento para achar Júnior perto do gol. A bola bateu no tornozelo de um defensor vascaíno, na perna de Júnior, Zico chegou, deixou a bola cair uma vez e, na entrada da grande área, bateu de perna esquerda, achou a gaveta de Mazarópi. Um golaço de Zico, mais um gol do Galinho contra Vasco. Nosso Rei foi comemorar com a geral cheia de alegria. Uma confissão agora, a tela de meu computador é uma foto desse momento, em preto e branco, com Zico de costas, com a Nação feliz. Não sei se um dia mudarei de tela, de tanta icônica essa foto é.
Dez minutos depois, já na parte final do jogo, Zico pegou a bola no campo do Flamengo, começou a acelerar e ninguém conseguiu parar Deus. Passou entre dois adversários, achou na esquerda Luisinho e foi no centro, na direção do gol. Luisinho achou de novo Zico e, talvez dos 174.770 espectadores e 22 jogadores, mais comissões técnicas, só Zico viu esse passe. Com um toque só, de calcanhar, Zico deixou Luisinho sozinho na frente do gol, Abel só teve o tempo de voltar para cometer o pênalti. Uma jogada genial, mais uma, de Zico, que converteu sem problemas o pênalti, Mazarópi ficando no centro.
O Dé deixou o placar final para 3×1, mas quem eternizou mais uma vez o jogo eterno foi Deus, Nosso Rei, Zico.








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