Ídolos #30: Gamarra

Ídolos #30: Gamarra

Hoje é o aniversário de um ídolo do Flamengo, o paraguaio Gamarra. Antes de Pablo Marí, Gamarra é a prova que um jogador pode se tornar ídolo do Flamengo mesmo com poucos jogos com o Manto Sagrado. Com coincidência, ou talvez não, Gamarra e Pablo Marí têm o mesmo número de jogos com o Flamengo: apenas 30. Não é a única semelhança entre os dois zagueiros gringos, os dois tinham classe, os dois eram limpos nos desarmes, os dois brilharam com o Manto Sagrado.

Carlos Alberto Gamarra Pavón nasceu no 17 de fevereiro de 1971 em Ypacaraí, no Paraguai. E já no nascimento, tinha uma ligação com o Brasil, foi chamado assim em homenagem ao capitão do Tri, Carlos Alberto Torres. Gamarra estreou profissionalmente com o Cerro Porteño, jogou as Olimpíadas de 1992, foi campeão paraguaio em 1994 e assinou em 1995 com o Internacional de Porto Alegre, que já teve um craque zagueiro gringo, o chileno Elías Figueroa. No Inter, Gamarra conquistou a Taça Conmebol 1996 e o campeonato gaúcho 1997. Também foi eleito na seleção ideal do Brasileirão em 1995 e 1996, quando recebeu a Bola de Prata pelo Placar. Nesses dois anos, também ficou na seleção ideal sul-americana, agora com eleição do jornal uruguaio El País. Em 1997, pela primeira eleição do futebolista paraguaio do ano, agora nomeado pelo jornal ABC Color, Gamarra levou o troféu. Repetiu a dose em 1998, apesar de uma primeira passagem um pouco frustrante na Europa, no Benfica.

Gamarra também é ídolo da seleção paraguaia, foi o primeiro jogador a chegar aos 100 jogos com a Albirroja. Parecia que o Paraguai sempre caía nas quartas de final da Copa América, foi o caso com Gamarra em 1993, 1995, 1997, 1999 e 2004, e caía nas oitavas da Copa do Mundo, foi o caso em 1998 e 2002, de novo com Gamarra. Gamarra levou uma medalha quando foi o capitão do Paraguai que chegou até a final das Olimpíadas de 2004. O Paraguai levou a medalha de prata depois de derrota contra a Argentina de Ayala, Heinze, Mascherano, Tévez e outro (futuro) ídolo do Inter, D’Alessandro.

Mas a passagem mais marcante de Gamarra com a seleção nacional foi na Copa do Mundo de 1998. Já falei que completei 6 anos durante a Copa do Mundo e só relembro bem da final, quando torcia pelo Brasil, contra a França, meu próprio país de nascimento. O futebol tem razões que a própria razão desconhece. Apesar de não lembrar assistir ao jogos, sei que assisti a alguns, como o jogo de abertura, quando Ronaldo Fenômeno botou o Brasil no meu coração para sempre. Também assisti ao oitava de final entre a França e o Paraguai, porque o goleiro paraguaio Chilavert era para mim um ídolo quase à altura de Ronaldo. Gamarra foi menos marcante para mim, mas se o Paraguai segurou tão bem esse jogo durante muito tempo, também foi graças ao Gamarra. E mais impressionante, Gamarra fez isso sem cometer nenhuma falta, como não fez já nos 3 primeiros jogos. Uma Copa inteira, sem falta, apesar de enfrentar jogadores como Hristo Stoichkov, Raúl, Nwankwo Kanu, David Trezeguet e Thierry Henry. O nome dos jogadores é suficiente para explicar a façanha de Gamarra. Ainda mais impressionante, Gamarra jogou contra a França machucado, com o ombro deslocado.

Depois da Copa, Gamarra voltou ao Brasil, no Corinthians, e voltou a colecionar recompensas individuais: ficou no time ideal do Brasileirão, no time ideal sul-americana, foi eleito jogador paraguaio do ano e ficou no segundo lugar da eleição do jogador sul-americano do ano, perdendo só para Martín Palermo. Foi campeão brasileiro em 1998, campeão paulista em 1999 e voltou a tentar a sorte na Europa, agora no Atlético de Madrid. De novo sem sucesso, o Atlético de Madrid foi até rebaixado do campeonato espanhol. E Gamarra voltou ao Brasil, agora no Maior do Mundo, o Flamengo.

Carlos Gamarra estreou com o Manto Sagrado em setembro de 2000, com uma vitória 3×0 contra Santos no Brasileirão, já anulando completamente o Edmundo no Maracanã. Apesar dos grandes jogadores no time, Flamengo decepcionou e nem se classificou para as oitavas de final. Gamarra também participou da Copa Mercosul 2000, quando Flamengo foi eliminado nas quartas de final depois de dois jogos contra o River Plate. Entre os dois jogos, o único gol de Gamarra com o Manto Sagrado, num Fla-Flu. No Maracanã, Agnaldo abriu o placar para Fluminense já no segundo tempo. Quinze minutos depois, Petkovic cobrou o escanteio, que passou na frente de todo mundo, até os pés de Edílson, do outro lado, que cruzou. O já capitão Gamarra mandou de primeira, fez o gol do empate, o golaço. Esse time tinha grandes jogadores, mas problemas ainda maiores, com briga de egos e falta de pagamento da ISL, parceria do time. Mesmo sem conquistar títulos em 2000, Gamarra ficou pela quarta vez na seleção ideal sul-americana do ano.

E em 2001, Gamarra voltou a conquistar títulos. No campeonato carioca, Gamarra se machucou no jogo de ida da final e não disputou o jogo de volta, quando Petkovic se eternizou no minuto 43. Mesmo assim, Gamarra conquistou o campeonato carioca, depois de já ter no currículo o campeonato gaúcho e o campeonato paulista. Em julho, Flamengo chegou na final da Copa dos campeões, que valia vaga na Libertadores. Flamengo conquistou o título depois de dois jogos contra o São Paulo, uma vitória 5×3 na ida, uma derrota 3×2 na volta, dois jogos eternos no Francêsguista. Depois de nove anos, Flamengo voltava na Copa Libertadores. Mas esses dois jogos foram os últimos de Gamarra com o Manto Sagrado. Explica o próprio Gamarra no GloboEsporte, sobre ISL: “Eles me deram um dinheiro na frente, e depois a gente fracionou que tinha que ser nos 12 meses de trabalho. E eu recebi dois meses… Fiquei dez meses sem receber. Mas fui muito feliz no Flamengo. A gente se divertia. Só que as necessidades que a gente via no pessoal que tava começando eram totalmente diferentes das nossas, que já tinha um pouco de dinheiro guardado. Muitos estavam passando muito mal. Até os funcionários a gente tinha que ajudar pra no dia seguinte eles voltarem. O Flamengo tava numa crise muito forte. Apareceu um grego que disse ‘vou te pagar, vem comigo’, e eu acertei com o AEK, da Grécia”. Um fim totalmente compreensível, uma grande pena que a ISL fez uma gestão tão desastrosa.

Gamarra voltou na Europa, no AEK, e conquistou a Copa da Grécia de 2002. Jogou mais uma Copa do Mundo, mais uma vez sem cometer nenhuma falta, mais uma vez com eliminação nas oitavas. Depois, assinou com a Inter de Milão, uma passagem que teve mais baixos que altos, com concorrência duríssima, mas tempo suficiente para conquistar a Copa da Itália de 2005. E mais uma vez, Gamarra voltou ao Brasil, agora no Palmeiras. E mais uma vez, voltou a brilhar, ficou ao lado de Diego Lugano na seleção ideal do Brasileirão e da seleção sul-americana em 2005. Jogou mais uma Copa do Mundo, em 2006, quando fez gol contra antes da primeira falta. No primeiro jogo, o Paraguai perdeu 1×0 contra a Inglaterra com um gol contra de Gamarra aos 2 minutos de jogo. O Paraguai foi eliminado na primeira fase e Gamarra voltou a jogar no seu pais, quando assinou com o Olímpia, onde pendurou as chuteiras em 2007.

Carlos Alberto Gamarra conseguiu ser ídolo em vários clubes do Brasil e o Flamengo não é exceção. Com o Manto Sagrado, foram apenas 30 jogos e 1 gol. Mas na verdade, foi muito mais do que isso. Foi classe, foi garra, foi liderança. Única coisa que faltou foi justamente as faltas, as faltas apitadas pelo juiz, as faltas de pagamento da ISL também. Mas Gamarra marcou os torcedores flamenguistas que acompanharam a época, mostrou, 20 anos antes do Marí, que sim, era possível fazer marcação impecável, sem recorrer a violência.

Uma resposta para “Ídolos #30: Gamarra”.

  1. Avatar de Jogos eternos #149: Universidad de Chile 0x4 Flamengo 2000 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] Vasco. Mas Flamengo, ambicioso com a ISL, contratou caro para o segundo semestre de 2000, com Gamarra, um ídolo no Francêsguista e Denílson, que eu já adorava desde 1998 quando o vi jogar na Copa do Mundo. E Flamengo chegou ao […]

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”