Eu já escrevi sobre os anos históricos de 2015 e 2017 e vamos hoje para o ano de 2016, que foi a consolidação do projeto de Eduardo Bandeira de Mello. Depois de sacrifícios financeiros, Flamengo conseguiu contratar alguns jogadores no início do ano, com a maioria das despesas para dois meios campistas gringos, Cuéllar e Mancuello. Também vieram Alex Muralha, que brilhou no Brasileirão de 2015 como goleiro de Figueirense e dois jogadores importantes nas temporadas seguintes, Rodinei e Willian Arão. Até teve a volta de um ídolo, Juan, que logicamente pegou a braçadeira de capitão. Também teve um novo técnico, Muricy Ramalho, tetracampeão brasileiro e campeão da Libertadores. Sempre fui um grande fã de Muricy, que soube combinar eficiência defensiva e futebol ofensivo, e eu estava muito feliz com essa nominação.
Flamengo começou o ano com amistosos valendo taças no Nordeste e coube ao Emerson Sheik fazer o primeiro gol do Flamengo da temporada. Mas Flamengo perdeu a Taça Asa Branca contra Ceará e a Taça Chico Science contra Santa Cruz. Flamengo estreou oficialmente na primeira edição da Primeira Liga, também chamada de Copa Sul-Minas-Rio. Ao lado de Fluminense, Flamengo foi um dos líderes da criação da competição, sob fundos de racha com a FERJ e de conflitos no comando da CBF. Sempre fui contra essa competição que não tinha tradição e só colocava mais jogos num calendário já cheio. Flamengo fechou seu grupo na liderança mas caiu na semifinal, contra o Athletico Paranaense.
No campeonato carioca, coube ao Paolo Guerrero fazer o primeiro gol do Flamengo na competição, aliás um golaço. O peruano Guerrero ainda era a grande promessa do elenco para a temporada de 2016 e foi de meia satisfação até meia decepção. Por causa dos Jogos Olímpicos, Flamengo deslocalizou muitos jogos do campeonato, no Pacaembu de São Paulo, no Mané Garrincha de São Paulo ou na Arena da Amazônia de Manaus, quando foi eliminado pelo Vasco. A casa, não importa o local, estava sempre cheia, sempre rubro-negra, mas não foi suficiente e Vasco chegou ao bicampeonato. Outros tempos do futebol e uma competição para esquecer.
Na Copa do Brasil, Flamengo estreou com derrota, contra Confiança. Virou na volta e se classificou graças ao doblete de Marcelo Cirino, mas caiu na segunda fase, com duas derrotas 2×1 contra Fortaleza. Mais uma competição para esquecer e agora o foco era no Brasileirão. Na estreia contra Sport, Éverton fez o único gol da partida, recebendo cruzamento de Willian Arão. E infelizmente, Muricy Ramalho teve que parar a carreira de técnico por conta de problemas no coração. Em 2023, voltou ao tema para ESPN: “No Flamengo eu tive um problema sério, fui duas vezes para a UTI. É terrível, um quarto fechado, que não tem ninguém, só aparelho piscando e fazendo barulho. E você pensa: não vi minha filha nascer, não vi meu pai ser enterrado, não criei meus filhos, perdi todos os aniversários. Foi o maior contrato que eu fiz na minha carreira, no Flamengo. Aí larguei, cara. Não quero esse dinheiro. Daqui a pouco eu vou morrer, então não quero isso. Foi uma decisão dura para caramba, do jeito que eu era pilhado, contrato ótimo. Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida”. Uma notícia ruim para Flamengo, mas sensata. Depois de mais um interino de Jayme de Almeida, assumiu Zé Ricardo, um técnico promissor, porém ao meu ver, limitado.
No primeiro turno, Flamengo foi irregular sim, mas convincente de maneira geral, com grande temporada de alguns jogadores, como Willian Arão, Alan Patrick e Éverton, e gols importantes de Paolo Guerrero. Também gostei das atuações do jovem lateral-esquerdo Jorge, que fez um golaço impressionante contra a Ponte Preta. Flamengo fechou o primeiro turno com vitória 1×0 sobre o Athletico e golaço de letra de Mancuello, ficando na quarta colocação, com apenas 2 pontos a menos que o líder, Palmeiras. E a torcida teve motivos de mais alegrias ainda, com a contratação de dois jogadores confirmados do Brasileirão, o zagueiro Réver e o centroavante Leandro Damião. Réver alternou o bom e o menos convincente, mas Leandro Damião foi uma decepção mesmo, apesar de um início lindo, com 2 gols e uma assistência nos 3 primeiros jogos.
Mas a torcida estava ainda mais feliz com a contratação de Diego, craque da Seleção e que mostrou sua classe nos gramados europeus, no Portugal, na Alemanha, na Itália, na Espanha, na Turquia. Já falei que para mim o projeto de Eduardo Bandeira de Mello não começou com a contratação de Diego, mas de Paolo Guerrero um ano antes. Porém, a contratação de Diego foi mais um passo na frente e Flamengo mudou de patamar só com essa chegada. Diego, um ídolo no Francêsguista, estreou muito bem, fazendo o gol da vitória contra Grêmio, achando as redes de novo no jogo seguinte contra a Chape. Flamengo venceu 4 jogos consecutivos e tinha apenas um ponto a menos do que o líder Palmeiras, justamente o próximo adversário. E a torcida sentiu um cheirinho de título.
No Allianz Parque, Alan Patrick abriu o placar num passe de Éverton, Flamengo teve oportunidades de ampliar, mas cedeu o empate nos minutos finais com gol de Gabriel Jesus. Flamengo se recuperou, ganhou o Fla-Flu, mas na reta final, perdeu de virada contra o Inter e concedeu 3 empates seguidos apesar da volta ao Maracanã depois de longes meses fora do estádio. Palmeiras era um time melhor e foi quase impecável no segundo turno, com apenas uma derrota no turno inteiro. Palmeiras fechou o campeonato com 80 pontos, e Flamengo ficou no terceiro lugar com 71 pontos, quatro a mais do que quando conquistou seu último Brasileirão, em 2009. O título tão esperado também não veio com a Copa Sudamericana, Flamengo foi eliminado nas oitavas de final contra Palestino no critério do gol fora da casa, no caso o Kleber Andrade. Talvez faltou um Maracanã mais presente para buscar mais coisas na temporada.
Depois, teve que aguentar as piadas dos rivais, ou até não-rivais, sobre o cheirinho. Mas já falei que não me incomodou, porque eu sabia que os títulos iam chegar um dia ou um outro, só não podia esperar de tal forma como aconteceu. Depois de anos ficando no meio da tabela, no melhor, lutando contra o rebaixamento, no pior, Flamengo estava de volta no G-4, de volta na Libertadores. A espera, às vezes tão sofrida, para a alegria de ser campeão, se aproximava do fim.








Deixe um comentário