Ídolos #31: Dida

Ídolos #31: Dida

Dida ainda não tinha a crônica dele na categoria dos ídolos e vamos reparar essa anomalia no dia que ele completaria 90 anos. Dida foi um grande ídolo, e mais, foi o ídolo do maior ídolo do Flamengo, Zico. Vamos então começar essa crônica com a palavra de Nosso Rei, no livro Zico conta sua história: “Futebol era o que mais me dava prazer na vida. Contam lá em casa que, depois de papai e mamãe, a primeira palavra que eu disse foi Dida – meu primeiro e até hoje meu maior ídolo no futebol. Não era para menos. Foi o ano do tricampeonato do Flamengo, e o Dida foi o artilheiro da competição. O Dida, com sua postura elegante, chutando bem com as duas pernas e com aquela imensa alegria que passava ao comemorar o gol – jogar, para ele, era decididamente uma satisfação”. Confirma seu Antunes, o pai de Zico, também rubro-negro roxo: “Ele aprendeu primeira a dizer ‘Dida’ depois de papai e mamãe”. Como todos nós, Zico é flamenguista, e ele tem um primeiro ídolo do Flamengo, que é Dida. Basta isso para entender a qualidade de Dida.

Edvaldo Alves de Santa Rosa nasceu no 26 de março de 1934, em Maceió, terra de outro ídolo do Flamengo e do Brasil, Zagallo. A história de Dida e o Flamengo começa em 1953, com… o voleibol e uma excursão do time feminino do Flamengo no Nordeste, em Maceió. Lá, as meninas rubro-negras assistiram a um jogo de futebol entre a seleção alagoana e a seleção baiana, que, como favorito, dominou o primeiro tempo, com um placar parcial de 3×1. E o jovem Dida, então com 19 anos, entrou no segundo tempo. E dominou o jogo, acabou com o jogo. No livro Os dez mais do Flamengo, Roberto Sander escreveu: “Nos primeiros lances dos quais participou, Dida já mostrou um algo mais que não passaria despercebido nem para quem jogava bola somente com as mãos. Boquiabertos, os atletas rubro-negros de vôlei acompanhavam aquele garoto de 19 anos fazer misérias. Eram dribles desconcertantes, toques de primeira, passes de trivela, chutes bem colocados e, de quebra, três gols que deram a vitória de virada para o estado de Alagoas por 4 a 3. Na volta ao Rio de Janeiro, foi impossível não se comentar a façanha daquele garoto. Não demorou e o clube inteiro sabia da história”.

Dida chegou na Gávea em 1954, mas, como Zico anos depois, estava muito franzino. E sem confiança, quase desmaiou quando soube que ia jogar com Rubens, o Doutor Rúbis, outro ídolo no Francêsguista. Continua Roberto Sander: “Quando soube que ia treinar com o grande Doutor Rubens, craque do meio-campo do time, Dida ficou nervoso e começou a apresentar os primeiros sinais de icterícia: sentiu tonteiras, a pele ficou amarela, os olhos brancos, feridas surgiram na boca e seu corpo passou a arder em febre. Foram vinte dias se recuperando até que pudesse voltar a treinar. Só então, aos poucos, Dida foi se soltando, deixando de lado a timidez e mostrando aquele futebol que tanto encantara os atletas de vôlei do clube. Para isso, contou também com a ajuda de seus companheiros – virou uma espécie de xodó do grupo”. Pouco a pouco, Dida fazia jogadas paradisíacas com os aspirantes nos jogos e infernizava os zagueiros titulares Tomires e Pavão nos treinos. E finalmente teve a primeira oportunidade no time principal, em 1954.

Flamengo foi campeão carioca em 1953 e tinha um rolo compressor em 1954, principalmente no setor ofensivo: Rubens, Benítez, Joel, Evaristo, Paulinho, Índio, Esquerdinha, Zagallo, só craques. A chance de Dida chegou no final do ano de 1954, com as lesões de Benítez, Evaristo e Zagallo, Dida foi chamado com outro jovem, nordestino, promissor e franzino, Babá. Como Zico anos depois, Dida foi lançado pelo técnico Fleitas Solich. Como Zico, estreou contra Vasco. E como Zico, Dida brilhou no Clássico dos Milhões, que acabou, como Zico em 1971, numa vitória 2×1 de Flamengo. Na estreia, Dida brilhou ainda mais que Zico, como escreveu Aristélio Andrade para Placar em 1971: “A estreia de Zico no Flamengo não foi igual ao lançamento de Dida em 1954. Foi comedida, menos espetacular, mas eficiente. De seus pés saiu a jogada que resultou no gol de Ney. Zico simplifica todas as jogadas: toca de primeira e procura os espaços vazios para receber os passes. Não tem medo de jogo duro e está sempre na área. Fora de dúvida, a posição é sua”. É que, no 17 de outubro de 1954, Dida fez um autêntico show contra Vasco. Não fez gol, a tarefa coube ao Rubens, de falta, e Índio, mas fez viver um inferno aos vascaínos, especialmente ao meia Ely do Amparo, grande craque da época. “Como se fosse desconhecedor do nome, do prestígio do médio do Vasco, Dida prosseguiu passando por Eli como se Eli não existisse” explicou a grande voz do futebol brasileiro da época, Luiz Mendes.

Dida jogou na semana seguinte o Fla-Flu, que acabou num 0x0, mas com as voltas dos craques mais consagrados, voltou nos aspirantes. Com uma diferença, os torcedores do Flamengo chegavam mais cedo ao Maracanã para ver Dida e os aspirantes. E tinha uma constante, Dida brilhava. O jovem atacante fez mais um jogo com o time principal no campeonato carioca, contra a Portuguesa. No 21 de novembro de 1954, Flamengo venceu a Portuguesa 2×1. O primeiro gol, há quem viu que foi Dida que marcou, mas o juiz assinalou o tento para Rubens. O segundo gol, agora não teve dúvidas, como escreveu o Jornal dos Sports no dia seguinte: “Dida, recebendo ótimo passe de Rubens, manobrou rápido e atirou violentamente, vencendo a meta guarnecida por Antoninho, que viu baldados seus esforços para deter o couro. Seria esse o tento da vitória do Flamengo sobre a Portuguesa, embora a essa altura o placar fosse 2×0”. Dida fazia seu primeiro gol com o Manto Sagrado e algumas semanas depois, sem a presença de Dida, Flamengo faturava o bicampeonato.

Em 1955, um ano histórico no Francêsguista, Dida beneficiou-se de várias lesões dos craques do ataque para ter mais tempo de jogo. E não decepcionou: doblete contra Olaria, hat-trick contra Canto do Rio, gol contra America. Também teve participação fundamental no Fla-Flu, com 2 gols na vitória 6×1, maior goleada do Fla-Flu no campeonato carioca, junto com o 6×1 de 1944, também em favor do Flamengo, claro. Infelizmente, o ano de 1955 também foi de tristezas, com a morte do presidente Gilberto Cardoso, que não resistiu a uma parada cardíaca num jogo de basquete de seu tão amado Flamengo. Mas também é o poder do futebol, a morte do Gilberto Cardoso reuniu no mesmo time alguns dos rivais mais ferozes do futebol internacional, um combinado Flamengo-Vasco enfrentou um combinado Racing-Independiente, da Argentina. E o time do Rio derrotou o time de Avellaneda 3×1 com um gol de Dida, que, agora apenas com o time de Flamengo, também fez gol contra o Racing e o Independiente, ajudando o rubro-negro a conquistar o Torneio Internacional do Rio de Janeiro.

Mas a maior façanha de Dida no ano de 1955 chegou no início de 1956. O campeonato carioca de 1955 ainda estava em andamento em 1956 e o Padre Góes, flamenguista roxo, anunciou o tricampeonato do Flamengo. Na final contra o America, Flamengo ganhou o jogo de ida 1×0, gol de Evaristo, mais foi duramente goleado na volta, 5×1. Dida jogou nenhum desses jogos. Sem saber realmente se foi por questões táticas ou disciplinares, Fleitas Solich sacou do time Paulinho e Jadir, para a entrada dos jovens Dida e Duca no jogo-desempate. Esse jogo do 4 de abril de 1956 merece uma crônica à parte na categoria dos jogos eternos. Porque jogo o foi eternizado só pelo talento de Dida. Segundo o próprio Dida, o favoritismo era mais do America: “Eu e meus companheiros estávamos dispostos a dar a vida pelo tricampeonato. No vestiário, fizemos uma espécie de pacto: a “negra” há de ser nossa! Só Deus sabia nosso estado de nervos. Afinal, entramos em campo debaixo do calor de 200 mil bocas. Nossos adversários eram francos favoritos. Apostava-se na cidade pela vitória americana. Eis a verdade: ninguém fazia fé no Flamengo, a não ser a nossa fabulosa torcida”.

Flamengo tinha fé, tinha ídolos, tinha o talento e a raça de Dida que acabou com o jogo, fazendo nada menos do que os 4 gols do Flamengo na vitória 4×1. E a torcida rubro-negra partiu para um carnaval atrasado na cidade. Era o segundo tricampeonato da história do Flamengo, a maior homenagem possível ao falecido Gilberto Cardoso. E lá em Quitino, o pequeno Arthur, de 3 anos, só falava uma coisa: “Dida, Dida, Dida, Dida”. Em apenas um jogo, Dida passou de jovem promissor no banco de reservas até a idolatria da maior torcida do Brasil. Nessa época, os números nas camisas de futebol ainda eram novidade e Dida tornou-se o primeiro grande camisa 10 do Flamengo, inspirando Zico, que explicou no livro Uma vez Zico, sempre Zico, de Luís Miguel Pereira: “Quando era garoto, o meu único sonho era jogar com a camisa 10 do Dida. Era isso que me motivava”. No jogo de botão, era só Dida. Continua Zico: “Fazia os campeonatos, havia aqueles botões em que punha a cara dos jogadores: o Flamengo era sempre o campeão; e o Dida, invariavelmente o artilheiro…”.

O Dida conhecia a maior alegria e o maior orgulho que um homem pode conhecer, ser ídolo do Flamengo. Um mês depois do poker contra o America, Dida descartou qualquer troca de clube e jurou amor eterno ao Flamengo, falando ingenuamente para Manchete Esportiva: “Meu passe é de propriedade do Flamengo. Em quanto está estipulado? Não sei e nem me interessa, porque não cogito, em futuro próximo ou remoto, trocar de camisa. No Flamengo é que me sinto bem e vestindo a camisa do Flamengo é que sinto vontade de lutar. Acho que isso acontece porque sou Flamengo; assim como sou alagoano, assim como sou brasileiro”. Dida bateu seu recorde de gols em 1956 e brilhou ainda mais em 1957. Nos históricos jogos contra o Honved, base do poderoso time da Hungria, Dida fez gols em 3 partidas, nas vitórias 6×4 e 5×3 e na derrota 4×6. Outros tempos do futebol. Em outro jogo internacional, na inauguração do Camp Nou contra Burnley, também jogo eterno no Francêsguista, Dida abriu o placar de cabeça para uma vitória 4×0 do Flamengo. No final do ano, fez em um pouco mais de um mês, 4 hat-tricks no campeonato carioca, contra Madureira, Vasco, Bonsucesso e a Portuguesa. Ninguém resistia ao talento de Dida.

Em 1958, Dida estreou com a Seleção brasileira, numa vitória 5×1 contra o Paraguai no Maracanã. Deixou seu gol e depois deixou seu lugar para ninguém menos de que Pelé. Também abriu o placar contra a Bulgária no último jogo no Maracanã antes da Copa do Mundo. Dida foi titular na estreia da Copa do Mundo, uma vitória 3×0 contra a Áustria, mas saiu do time no jogo seguinte e não jogou mais. Alguns falaram que estava machucado, outros que amarelou, ainda eram tempos do complexo de vira-lata. Para Placar em 1971, falou o próprio Dida: “Faltavam duas horas para o jogo com a Inglaterra. O Feola se aproximou de mim e disse: ‘Você não vai jogar’. Até hoje o Feola me deve uma explicação […] Os homens já queriam me queimar há muito tempo. Diziam que eu era de vidro, medroso. Nunca tive medo. Não tremi contra a Áustria. Como iria tremer num jogo fácil daquele? Pedi então para voltar ao Brasil. Muito pedido, muitos conselhos e acabei ficando. Acabei não jogando ao lado do Pelé. Feola dizia que não queria complicar as posições. Mas não era nada disso”. Mesmo assim, Dida foi campeão do mundo e na volta ao Brasil, dois meses depois da Copa, fez cinco gols na goleada 8×0 contra Olaria.

Em 1959, Dida inscreveu-se ainda mais na idolatria da torcida e na história do Flamengo. Durante o ano, fez 46 gols, então um recorde para um jogador do Flamengo numa mesma temporada, ultrapassando Leônidas e Pirillo. Apesar de todos os gols, Flamengo não vencia título desde o tricampeonato de 1955. A volta aos títulos chegou em 1961 com o Torneio Rio – São Paulo, que começou de forma bem ruim para Flamengo. No Maracanã, levou uma derrota 7×1 contra o Santos de Pelé, Pepe e Coutinho. A vingança rubro-negra chegou um mês depois, no Pacaembu. Sem Pelé, Santos levou um 5×1, com dois de Dida e três de Gérson, que formava ao lado do ídolo Carlinhos um meio de campo jovem e de alta qualidade.

Falou o então jogador e futuro técnico de Zico na base e no time profissional, Joubert: “O que mais me marcou naquele Rio – São Paulo de 1961 foram os confrontos do Flamengo com o Santos. No Maracanã, perdemos por 7 a 1. Nós, jogadores, ficamos envergonhados. Foi terrível. A nossa própria torcida gritou “olé!”. Ninguém mais acreditava na gente. Fizemos uma reunião, com a promessa de reverter a situação. Daí, o nosso time não perdeu mais. Durante o jogo no Maracanã, eu falava para os jogadores do Santos: ‘Vai ter a volta, lá o nosso troca será pior’. No dia da forra, do jogo com eles no Pacaembu, em São Paulo, pagamos a promessa. Disse ao falecido Dida: ‘Vamos botar na roda’. Não deu outra: metemos 5 a 1. O Dida chegou a sentar na bola, e aí veio o Zito para dar bronca. Essa revanche é inesquecível. Pelé poderia estar em campo, que venceríamos do mesmo jeito. Ali, passamos a ter a autoconfiança de que seríamos campeões. O Flamengo tinha um belo time. O Bolero era um zagueiro altamente técnico, tipo Leandro, era realmente excepcional. Dida era infernal, Gérson estava começando a carreira”.

Quatro dias depois da vitória contra Santos, Flamengo enfrentava o Corinthians no Maracanã e precisava de uma combinação de resultados para ser campeão. No primeiro tempo, Dida ganhou o escanteio que viu Joel abrir o placar. No segundo tempo, Dida recebeu um passe de Henrique e fez o gol do 2×0, o gol do título. Com essa vitória contra o Corinthians, também um jogo eterno no Francêsguista, Flamengo conquistava seu único título do Rio – São Paulo. E mais, na arquibancada, tinha para sentir a emoção da torcida rubro-negra, a presença do fã de sempre, Zico, que recordou no livro Zico, 50 anos de futebol: “Meu pai já me levara antes, bem pequeno. Mas a imagem que guardei para sempre foi ver da arquibancada o Dida fazer um gol no Corinthians”.

O Botafogo de Garrincha passou a dominar o futebol carioca e Flamengo estava sem condições de luta, apesar dos gols de sempre de Dida. Teve um hat-trick num 4×1 contra Fluminense em 1961, um doblete num 3×2 contra Botafogo em 1962. Não fazia gols apenas contra os grandes rivais cariocas. Apenas no ano de 1962, Dida fez gol na Costa Rica, no México, na Tchecoslováquia, na Itália, na Espanha, na Suécia, na URSS, na Noruega, na Tunísia, no Gana. Fez brilhar o futebol brasileiro e o Manto Sagrado quase em todos os continentes, todos os lugares do Mundo. Eram tempos de futebol ainda sem as estatísticas de hoje, mas considerando que o Pirillo era o então maior artilheiro do Flamengo com 204 gols, Dida igualou e ultrapassou a marca no mesmo jogo. No 30 de abril de 1962, no Camp Nou, Flamengo venceu Barcelona 2×0 com 2 gols de Dida, agora artilheiro máximo da história do Flamengo com 205 gols. Pena que não tinha na época a consciência do momento histórico, e não tem hoje as imagens dos gols. Uma época do futebol com estádios cheios, ingressos baratos, mas também sem televisão, o que infelizmente fez esquecer um pouco Dida na galeria dos ídolos do Flamengo, restringindo sua classe e habilidade às testemunhas do Maracanã, como Zico e muitos outros flamenguistas dos anos 1950 e 1960.

Em 1963, Dida fez outros gols na Europa, na Romênia, na Polônia, na Dinamarca, na Suécia e na minha França, em Tolosa. Mas o campeonato carioca foi mais difícil e Dida fez apenas 4 gols no torneio. Um empate sem gol contra Madureira quando o jornalista José Castolo falou de uma “sabotagem dos jogadores ao comando técnico” foi o ápice da crise, com expulsão de Dida durante o jogo. No dia seguinte, o presidente Fadel Fadel deu plenos poderes ao autoritário técnico Flávio Costa, que barrou Dida e Gérson. Contra Ferroviário no Ceará, Dida fez algumas semanas antes seu 253o e último gol com o Manto Sagrado, em 358 jogos, com uma média superior inclusive à de Zico. E como para simbolizar o fim de uma Era, Flamengo voltou neste mesmo ano de 1963 a ser campeão carioca depois de 8 anos sem título, depois de um 0x0 eterno no Fla-Flu. Dida ainda passou pela Portuguesa, fazendo 54 gols em um ano, e exportou-se na Colômbia, no Júnior Baranquilla, que contratou ao mesmo tempo outros craques brasileiros, Garrincha e Quarentinha. Garrincha fez apenas um jogo, Dida fez 46 gols com o time colombiano e pendurou as chuteiras em 1967.

O fim da trajetória no Flamengo foi triste e deixou Dida amargurado, como ele falou para Placar em 1978: “Dei tudo a eles, não me deram nada, só migalhas. Diziam: ‘Dida, não vá para a Itália, você é imprescindível’. Eu ficava cheio de vento, topava. Fui um grande torcedor do Flamengo, não fui profissional. Fui ídolo sim, mas ninguém fala mais em Dida. O Dida, o jogador, morreu”. Mas o ídolo da torcida nunca morreu, apesar de ter alguns recordes quebrados pelo seu maior fã, Zico. Em 1974, Zico, quase contra sua vontade, quebrou o recorde de gols no Flamengo em um ano, com 49 gols, 3 a mais que Dida em 1959. E em 1979, Zico tornou-se maior artilheiro da história do Flamengo, ultrapassando mais uma vez Dida. Decepcionado com a diretoria do Flamengo, Dida nunca escondeu sua admiração por Zico, falando depois da marca batida pelo Galinho: “Se Zico igualou o meu recorde é porque ele é um fora-de-série”. Algumas semanas depois, no amistoso contra o Atlético Mineiro com Pelé vestindo o Manto Sagrado, também um jogo eterno no blog, Dida foi no gramado para finalmente receber uma homenagem, junto com Pelé e Zico.

Em 1982, Dida voltou a falar sobre Zico: “Zico é mais completo do que eu. Além de artilheiro, arma as jogadas, crias oportunidades para os companheiros, dá gols para todos eles. Ah, se eu tivesse a firmeza do chute de Zico, nem sei o que teria feito no futebol…”. Zico conseguiu ser o ídolo de seu ídolo, conseguiu o ultrapassar na hierarquia dos ídolos do Flamengo. Em 2002, alguns meses antes da morte de Dida, Zico entrevistou Dida por uma rádio, como lembrou Zico ao Roberto Sander: “Pouca gente sabe, mas essa foi a última entrevista do Dida. Fiquei muito emocionado e senti que aquilo mexeu com ele também. Eu lembro que ele estava contente por estarmos ali. Dida foi um craque de uma época diferente do futebol, de atletas mais ingênuos que sofreram muito por isso”. Infelizmente, como outros craques da época, Dida sofreu depois da carreira de jogador. Investiu na própria casa de loteria, Didasorte, mas foi um fracasso. Escreveu Roberto Sander: “Dida foi obrigado a viver da renda proveniente da venda de seus imóveis. Aos poucos, acossado por problemas familiares, como a diabetes de um dos filhos, foi perdendo tudo. Acabou voltando à Gávea para ser auxiliar-técnico e trabalhar nas categorias de base. Àquela altura, era um homem amargurado. Consumia-se na bebida, em vários maços de cigarros diários e numa mágoa profunda. Um fim de vida anunciado”. Dida morreu de insuficiência hepática e respiratória no 17 de setembro de 2002, com apenas 68 anos. Ainda hoje, Dida é o segundo artilheiro da história do Flamengo. Para sempre, mesmo sem muitos lances disponíveis na Internet, Dida é um dos maiores ídolos da história do Flamengo. Para a eternidade, Dida é o maior ídolo do maior ídolo do Flamengo.

2 respostas para “Ídolos #31: Dida”.

  1. Avatar de Jogos eternos #188: Bahia 1×1 Flamengo 1971 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] pelo técnico paraguaio Fleitas Solich, que também lançou 17 anos antes o grande ídolo de Zico, Dida. Antes do jogo, Fleitas Solich avisou os torcedores sobre Zico: “Embora seja indiscutivelmente um […]

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  2. Avatar de Times históricos #31: Flamengo 1971 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”