Há uma semana, escrevi sobre um jogo de 2010 contra o Atlético-GO, com um dos últimos gols de Petkovic no Flamengo. No meio de semana, para o jogo contra São Paulo, quase escrevi de novo sobre Petkovic, quando humilhou Rogério Ceni em 2009 com uma cavadinha genial num pênalti. E eu já tinha escrito sobre o Pet pesadelo de Ceni, em 2001, quando fez um golaço de falta na final da Copa dos Campeões, fazendo o gol bis do gol contra o tri-vice Vasco. Petkovic é muito ídolo do Flamengo e não tem jeito, o jogo eterno de hoje é todo dele.
Outro motivo é que o jogo de 2009 contra Palmeiras era decisivo na luta, ainda não pelo título, mas para a Libertadores, o que já era bom, quase inesperado. Antes da 30a rodada, Palmeiras era o líder (quase) disparado com 54 pontos, Flamengo estava no sexto lugar, com 45 pontos. Claro, o campeonato de 2024 está apenas na terceira rodada ainda, mas Palmeiras e Flamengo deveriam lutar pelo título e, na hora de fazer as contas no final, o jogo de hoje pode ser decisivo, pode ser eterno.
Em 2009, Flamengo vinha de uma sequência invicta de 5 vitórias e 3 empates, começava a sonhar menos timidamente. E o técnico e também ídolo Andrade, que inclusive festeja seu 67o aniversario hoje, escalou Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, Aírton, Ronaldo Angelim, Juan; Willians, Maldonado, Toró, Petkovic; Zé Roberto, Adriano. Do lado do Palmeiras, não líder à toa, dois pentacampeões com Marcos e Edmílson, e um ataque com Diego Souza e Vágner Love.
Palmeiras, de camisa azul, em homenagem as origens do clube, com o apoio da torcida, dominou o início do jogo. Flamengo reagiu com incursão de Léo Moura na grande área, mas ele não teve tempo para deixar a bola para Adriano. E Palmeiras voltou a ameaçar a meta flamenguista, com cabeçada de Robert, que passou em cima da trave. E com 27 minutos, o primeiro brilho de Petkovic. No estilo de um ala de futsal, Petkovic fixou o defensor e tabelou com Juan. Invadiu a grande área, ninguém podia tocar na bola, ninguém podia tocar no Pet, que teve espaço milimétrico para chutar. Mas Petkovic era gênio, no chute ele quase quicou a bola no chão para dar efeito, para levantar a bola que foi beijar as redes. Um golaço.
Palmeiras era o líder, jogava na casa cheia, queria ao menos o empate. Na esquerda, Vágner Love girou e chutou, Bruno, de camisa amarela à la Raul Plassmann, espalmou. Na direita, Vágner Love girou e chutou, Bruno defendeu em dois tempos. No intervalo, 1×0 para Flamengo, ainda há esperança para a torcida palmeirense. Na volta no gramado, primeiro lance para Flamengo, passe de Zé Roberto para Adriano que, com a inteligência do craque, deixou a bola passar entre as pernas para abrir o caminho para Léo Moura, que invadiu a grande área, de novo sem tempo para chutar. Logo depois, Petkovic, que festejou os 37 anos um mês antes, driblou um, acelerou, chutou, flirtou com a trave de Marcos. Fazer um golaço num jogo já é bom, muito difícil fazer dois no mesmo jogo, é uma façanha apenas para os craques.
De longe, Maldonado chutou. A bola ia para fora, mas foi desviada pelo Maurício para o escanteio. No futebol, falam que “bom escanteio” não existe, todos são os mesmos, da mesma distância, do mesmo ângulo 0o. Existe sim, quando o batedor é Petkovic, o escanteio vira “bom escanteio”. Petkovic cobrou, Ronaldo Angelim não tocou, Wendel foi canetado, Marcos foi enganado. Um golaço, o segundo do dia para o eterno Pet, o último craque. Existe tantos jogos para mostrar a genialidade do Pet, até para escrever sobre um gol olímpico tem várias opções – Petkovic voltaria a fazer um menos de um mês depois, mas acho que esse gol olímpico, “corner rentrant” em francês, contra Palmeiras é o mais marcante. Pelo momento, pelo adversário, pelo estádio, pelo jogo já eterno.
No final, um chute no travessão de Zé Roberto. No finalzinho, um pênalti de Vágner Love diretamente nas arquibancadas do Parque Antarctica, agora sem esperança. Graças ao gênio de um sérvio, Flamengo podia voltar a acreditar na Libertadores, podia sonhar ainda mais alto, podia ser o campeão brasileiro.








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