Jogos eternos #150: Flamengo 1×1 Corinthians 2022

Flamengo joga hoje contra o Corinthians no Maracanã e pensei no início escrever sobre um jogo do Brasileirão de 2006 ou 2009. Mas essa crônica é a #150 dos jogos eternos e um número redondo merece um jogo mais especial. E tem nada mais especial que um título, vamos então para o jogo do tetra da Copa do Brasil contra o Corinthians, quando Flamengo saiu do Maracanã como campeão em 2022.

Ah sim, tem mais especial que ganhar um título, tem para o torcedor a possibilidade de ganhar um título assistindo dentro do estádio. E foi meu caso com a final da Copa do Brasil de 2022. Já escrevi isso na crônica da época intitulada “A Copa do Brasil eu tenho 4”, foi minha primeira decisão no Maracanã e consegui um ingresso na Norte, só me interessava a Norte. Meu preço máximo para o ingresso era 500 reais, muito dinheiro, ainda mais que não tinha renda no Brasil. Mas valeu cada um dos reais, e até valeria o dobro.

Cheguei cedo, muito cedo e fez muito bem. A Norte estava cheia apesar do número total de pagantes de 47.031, que pode ser considerado até baixo para uma final no Maracanã. Mas quando finalmente consegui entrar na Norte, tinha pouco espaço para se mover, para respirar. Fiz até duas vezes a entrada na arquibancada, adoro essa sensação, a descoberta da atmosfera, a Norte cheia, rubro-negra, apaixonada. A emoção era pura, voltei nos corredores, vibrei de novo chegando na Norte, com lágrimas no rosto, com gratidão no coração. Valia 500 reais e mais.

No 19 de outubro de 2022, o técnico Dorival Júnior escalou Flamengo assim: Santos; Rodinei, David Luiz, Léo Pereira, Filipe Luís; Thiago Maia, Vidal, Éverton Ribeiro, Arrascaeta; Gabi, Pedro. Um time que já mudou bastante. Do outro lado, o Corinthians do Vítor Pereira tinha um time misto de experiência e juventude, com grandes nomes como Cássio, Balbuena, Renato Augusto e Róger Guedes. O Tetra será nada fácil.

Depois do 0x0 na ida, estava tudo aberto. O pré-jogo foi um dos mais emocionantes que eu vi, cheio de fumaça, de esperança, de amor até de terror. Ainda tinha fumaça quando Flamengo fez o primeiro lance de perigo, tabelinha entre Arrascaeta e Filipe Luís, o uruguaio achou na grande área Éverton Ribeiro que, de um toque só, achou na pequena área Pedro. O artilheiro esticou a perna, chegou antes do Cássio, abriu o placar, encheu meu coração de felicidade, minha cabeça de loucura. Menos de 10 minutos de jogo, gritei alto, abracei forte o irmão rubro-negro desconhecido ao meu lado, pulei, fechei o punho, peguei 5 segundos de calma para saber se o momento era real. Era real, Flamengo estava na frente.

Em seguida, Arrasceta e Pedro quase fizeram o segundo gol, mas bola fugiu do gol de Cássio. Tinha no jogo uma intensidade e uma tensão que são possíveis apenas nos dias de decisão. E numa outra bola de Éverton Ribeiro, Pedro deixou Gabigol em boas condições, Gabigol chutou na trave, bola voltou nos pés de Arrascaeta, que mandou finalmente a bola na rede. Era o gol do alívio, mas o juiz anulou o gol por um impedido milimétrico de Gabigol. Estou em favor de uma mudança da regra para dar um pouco mais de espaço ao atacante, mas enfim gol anulado, não relembro de tanto e quanto gritei nesta hora.

O primeiro tempo chegou ao fim depois de um último chute de Róger Guedes. No início do segundo tempo, Arrascaeta, bem servido pelo Gabigol, perdeu um gol quase feito, ao menos podia ter feito muito mais bonito, mais perigoso. Na hora do lance decisivo, parece que a perna tremeu um pouco. E eu na arquibancada tremia muito, não vou julgar. Depois Arrascaeta foi no início da jogada, Pedro levantou a bola com a parte externa do pé, mas parece que errou um pouco na hora da cabeçada. Gabigol chegou em velocidade e errou ainda mais, chutando meio de carrinho, fora do gol. Odeio quando Flamengo está na frente e começa a perder oportunidades, a errar gols. Parece que o desastro se aproxima. Quem perdeu mais feio foi Róger Guedes que, a um metro do gol e em posição legal, conseguiu chutar em cima do travessão. Flamengo ainda estava vivo, eu morrendo de estresse na Norte.

Logo em seguida, ainda com uma hora de um jogo excepcional na intensidade, Éverton Ribeiro pedalou, quase fez cair Fábio Santos, chutou. Cássio defendeu, Gabigol chegou, fintou, driblou Cássio, bateu na trave. Bola voltou Ao mesmo Gabigol, que finalmente mandou a bola nas redes. Parecia uma repetição do primeiro gol anulado do Flamengo. E o desfecho foi o mesmo, gol anulado por um impedido, agora mais obvio. Eu quase não aguentava mais toda essa emoção, era tão difícil de respirar que tinha dor no peito, 500 reais era muito para sofrer assim. Mas uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

Com obrigação de empatar, o Corinthians passou a dominar o jogo. Flamengo se recusou a jogar, com substituições francamente defensivas. E Flamengo fracassou, tomou o gol do empate a menos de 10 minutos do apito final. E eu era o mesmo torcedor-sofredor, ainda não pronto para o desfecho, tremendo de medo, sufocando, chorando de desespero e esperança, orando para São Judas Tadeu e todos os Santos que podiam ajudar meu Flamengo. Odeio disputa de penalidades quando meu time joga, ainda mais quando tinha tudo para vencer antes. No Maracanã, estava de um otimismo péssimo. Fábio Santos abriu a disputa para o Corinthians e Filipe Luís perdeu. Confesso que acredito que quem toma vantagem na disputa acaba perdendo a disputa. Mas neste 19 de outubro de 2022, eu estava pessimista.

Giuliano também fez, eu ainda mais pessimista, David Luiz também fez, eu voltando ao otimismo, Renato Augusto também fez. Léo Pereira não tremeu e Fagner fez tremer o travessão. Empate total e o Maracanã finalmente acordou. Também falei na crônica da época que estava frustrado com o Maracanã. O preço do ingresso explica, mas teve pessoas que não cantaram do jogo inteiro, sequer no início da disputa de penalidades. Precisou esperar o erro de Fagner e mais, depois de transformação de Éverton Ribeiro e Yuri Alberto, o pênalti de Gabigol e a comemoração icônica, para finalmente apoiar. Gabigol partiu para a comemoração de sempre, mas mudou no caminho, explodiu de vontade de vencer, inflamou o Maracanã, agora sim, pronto a comemorar um título. Gabigol fez muito mais que um pênalti, preparou meio time a bater um pênalti se precisava, preparou uma Nação inteira a conhecer a alegria do Tetra.

Maycon fez, Éverton Cebolinha também. Matheus Vital chutou muito fora e Rodinei partiu para a última cobrança ao som de “nunca te critiquei”. Rodinei fez algumas partidas muito ruins, mas sempre trabalhou e, a diferença de mim, sempre ficou otimismo. Partiu com fé no pé, bateu, fez. Flamengo era tetra e eu na arquibancada, nem pensava mais no preço do ingresso, só pensava na alegria de ser campeão pelo Flamengo. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.

Uma resposta para “Jogos eternos #150: Flamengo 1×1 Corinthians 2022”.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”