Hoje é o aniversário de Kléberson, pentacampeão do mundo. Não é da primeira turma dos ídolos do Flamengo, mas “honrou o Manto” e merece a crônica dele na categoria dos ídolos. José Kléberson Pereira nasceu no 19 de junho de 1979 em Uraí, Paraná. Começou no PSTC, time de Londrina, e chegou num dos gigantes do Paraná, o Athletico Paranaense. Jogador polivalente, Kléberson se destacou no Brasileirão de 2001, onde o Furacão foi campeão e ele vencendo a Bola de Prata, quando foi nomeado pelo Placar no time ideal do Brasileirão.
Suas boas atuações o permitem de chegar na Seleção brasileira, onde tinha as características ideais para se encaixar na chamada “Família Scolari”. Estreou no início de 2002 com goleada 6×0 contra a Bolívia, e já com um gol para ele num chute rasteiro. Ainda participou de alguns amistosos e foi para a Copa de 2002, mas começou o torneio no banco. Depois, com características diferentes de Juninho Paulista, teve oportunidades contra o Costa Rica, no terceiro jogo da fase de grupos, e contra a Bélgica, nas oitavas de final, ainda saindo do banco. Foi ali que descobri Kléberson. Eu tinha 10 anos e já estava apaixonado pelo Brasil, torcendo loucamente pelo penta. Gostava de Kléberson e fez um grande jogo contra a Bélgica, aliás um jogaço. Entrando no lugar de Ronaldinho, percorreu 50 metros na ala direita e fez a assistência para o segundo gol do jogo, marcado pelo Ronaldo Fenômeno. Não só eu que gostei, Felipão também gostou e efetivou Kléberson no time titular.
Agora titular, Kléberson fez outros bons jogos, provocou a falta eternizada pelo Ronaldinho Gaúcho contra a Inglaterra e quase marcou na final, com um chutaço no travessão de Kahn antes do intervalo. E como contra a Bélgica, participou do segundo gol do jogo final, de novo marcado pelo Ronaldo, de novo com bom trabalho na ala direita de Kléberson, de novo com assistência de Kléberson depois de corta luz de gênio de Rivaldo. O Brasil era penta e Kléberson se juntava a pequena centena de jogadores que já tiveram a maior honra, ser campeão do mundo com a camisa canarinho. Claro, a Seleção de 2002 é eternizada pela dupla de laterais, Cafu e Roberto Carlos e pelos 3R na frente, Rivaldo, Ronaldinho e Ronaldo. Mas acho que o sucesso do time também se explica na dupla de volantes, Gilberto Silva e Kléberson, jogadores polivalentes, inteligentes, com boa técnica, que permitiam ao time de ter um equilíbrio, condição quase indispensável para se tornar campeão do mundo.
E não só eu que gostei, Sir Alex Ferguson também gostou e contratou Kléberson, que chegava na Europa, num dos maiores times do mundo, Manchester United. Kléberson foi o primeiro jogador brasileiro a vestir a camisa dos Red Devils. Relembro que fui na Inglaterra em 2003 e estava louco para comprar coisas de jogadores brasileiros. Na época, acho que só tinha dois, a dupla pentacampeã, Gilberto Silva no Arsenal, Kléberson no Manchester. E comprei uma camisa de papel, que podia ser pendurada com uma pequena ventosa, dos dois jogadores. Não ligava para os maiores da Inglaterra, os franceses Thierry Henry, Patrick Vieira, Robert Pirès, os ingleses Alan Shearer, Paul Scholes, Steven Gerrard, os holandeses Ruud van Nistelrooy, Jimmy Hasselbaink, Dennis Berkgamp, ligava para os brasileiros, minha dupla campeã do mundo, Gilberto Silva e Kléberson.
Kléberson foi apresentado no Manchester United ao mesmo tempo que Cristiano Ronaldo. Bem, obviamente não chegou ao nível de Ronaldo, mas na primeira temporada, ganhou supercopa da Inglaterra e a FA Cup. Fez 2 gols, contra Blackburn e Everton, e fez seu melhor jogo ainda em 2003, com duas assistências na goleada 4×0 contra Aston Villa, para van Nistelrooy e uma sensacional de calcanhar para Diego Forlan. Era um time cheio de craques, ainda tinha Roy Keane, Ryan Giggs e Nicky Butt, era muito difícil ter espaço no time. Na segundo temporada, depois de conquistar mais um título com a Seleção, a Copa América de 2004 onde foi titular, Kléberson jogou ainda menos no United, não fez gol, mas deixou uma assistência para Ryan Giggs na histórica goleada 6×2 contra o Fenerbahçe. No total, Kléberson fez 30 jogos no Manchester United, mas mesmo de forma discreta, acho que abriu um caminho para os jogadores brasileiros, mostrou que era também possível de jogar na Inglaterra quando todos iam em outros países europeus.
Em 2005, Kléberson foi na Turquia, no Besiktas, tempo de colocar duas Copas da Turquia no currículo. Mas na segunda Copa, já não jogava mais e põe fim ao contrato de forma unilateral. Assinou com o Flamengo em setembro de 2007, mas só foi liberado pela FIFA para estrear no início de 2008, no comando de Joel Santana. Agora sim, finalmente, Kléberson conhecia a maior honra, vestir o Manto Sagrado. A estreia aconteceu no 30 de janeiro de 2008, vitória 1×0 contra Macaé, quando substituiu Jônatas. O primeiro gol chegou num jogo para esquecer, uma derrota 1×4 no Fla-Flu. Jogou 20 minutos no segundo jogo da final do campeonato carioca contra Botafogo, conquistando mais um título, já eternizado no Francêsguista. Três dias depois, Kléberson era titular no vexame contra o América de México, que selou a eliminação do Flamengo. Esse Flamengo de 2008 era bastante irregular.
Kléberson fez um bom campeonato brasileiro de 2008, acho que ele foi um excelente complemento de Ibson, ajudando o craque a ter ainda mais criatividade. No campeonato, Kléberson fez gols contra Ipatinga e Náutico, ambos de fora da área, o primeiro do pé esquerdo, o segundo do pé direito. Kléberson era uma ameaça de longe, com um chute poderoso. Voltou a marcar num Fla-Flu, permitindo ao Flamengo de conseguir o empate a dois minutos do final do jogo. Voltou a ser decisivo no final do campeonato, no clássico contra Botafogo, entrou no final do jogo e dois minutos depois, fez o único gol da partida, de pênalti. Uma semana depois, fechou a goleada contra Palmeiras no 5×2, jogo eternizado pela atuação memorável de Ibson. Infelizmente, Flamengo terminou o campeonato no quinto lugar e deixou escapar a Copa Libertadores. Mas com Kléberson e outros, tinha um time para sonhar alto.
Em 2009, Kléberson fez seu primeiro gol da temporada na Copa do Brasil, numa goleada 5×0 contra Ivanhema. Gostava de fazer gol nas goleadas, também foi o caso no 4×0 contra Boavista no campeonato carioca. E na final do campeonato, pela terceira vez consecutiva contra Botafogo, pelo tricampeonato, fez seu jogo mais importante e impactante com o Manto Sagrado. Uma cabeçada para abrir o placar, um gol de falta para completar o doblete ainda no primeiro tempo. Botafogo empatou, no jogo e no geral. Com a camisa 15 que o viu ser pentacampeão do mundo com a Seleção brasileira, Kléberson abriu a disputa de penalidades sem tremer, fazendo o gol, inflamando o Maracanã. No final, Flamengo tricampeão e um jogo eterno para Kléberson. Apenas com esse jogo, Kléberson está na galeria dos nomes ilustres do Flamengo.
E as festividades continuavam no jogo seguinte para Kléberson, abrindo o placar contra Fortaleza na Copa do Brasil. No primeiro turno do Brasileirão, fez belas assistências, para gols de Juan contra Vitória, de Adriano de novo contra Botafogo. As boas atuações permitiram ao Kléberson de voltar na Seleção brasileira, quase cinco anos depois do último jogo com o Brasil. Infelizmente, foi com a Seleção que Kléberson se machucou no ombro e ficou indisponibilizado durante meses. Na época, o médico que o operou falou isso: “Tudo correu bem e o ligamento dele foi reparado. Agora cabe ao Kléberson fazer o processo de recuperação para que em janeiro ele esteja pronto para a pré-temporada do Flamengo”. Mas, com muito esforços e dedicação, Kléberson trabalhou, sofreu e voltou antes do prazo. A recompensa chegou no 6 de dezembro de 2009, entrando nos instantes finais no jogo contra Grêmio, eternizado na história do Flamengo e no Francêsguista. E assim, Kléberson, depois de ser penta com a Seleção, se tornava hexa com o Maior do Mundo.
Kléberson não participou muito do segundo turno do Brasileirão de 2009 e assim é um pouco esquecido na conquista do Hexa, mas só com as atuações do primeiro turno, também ajudou o time a finalmente ser campeão brasileiro, depois de 17 longos anos de espera. Em 2010, Kléberson começou bem a temporada, com 3 gols nos 7 primeiros jogos: o primeiro gol do Flamengo na temporada, na abertura do campeonato carioca contra Duque de Caxias, o gol do empate no histórico 5×3 no Fla-Flu, jogo também eternizado no blog. Depois do 5×2 contra Palmeiras de 2008, Kléberson realmente gostava de deixar o golzinho dele nas goleadas históricas do Mengão. Ainda fez gol contra Boavista, mas Flamengo foi eliminado antes da hora no campeonato carioca, também na Libertadores. O time era menos forte, mas isso não impediu Kléberson de ser convocado para uma segunda Copa do mundo, onde jogou apenas 8 minutos, nas oitavas de final contra o Chile, seu 32o e último jogo pelo Brasil. Ainda teve boa fase no Flamengo, contra Vitória, saiu do banco para fazer os dois gols do Mengo no empate 2×2. Fez uma linda assistência no 3×3 no Fla-Flu, fez um belo gol no 2×2 contra Grêmio. Kléberson ainda era decisivo, mas Flamengo não ganhava mais. E depois, Kléberson nem foi decisivo mais, passando em branco nos últimos 8 jogos que jogou, também passando jogos inteiros no banco. E Flamengo terminou o campeonato no 14o lugar, sem sonhar e sem fazer sonhar.
Em 2011, Kléberson não estava nos planos de Vanderlei Luxemburgo e foi emprestado ao Athletico Paranaense, onde pouco se destacou. Passou seis meses sem jogar e voltou ao Flamengo em 2012, no comando de Joel Santana, seu primeiro técnico no Flamengo, lá em 2008. E no jogo de reestreia, no Fla-Flu, Kléberson, agora com camisa 30, fez o segundo gol do Flamengo para uma vitória 2×0. E o Papai Joel homenageou: “É um jogador que me agrada, porque é um jogador que se ajusta no grupo, que se esforça, que transpira. Para jogar no Flamengo, a coisa número 1 é transpirar”. No jogo seguinte, Kléberson fez o único gol da partida, contra Friburguense. Foi decisivo na semifinal da Taça Rio contra Vasco, com assistência para Vágner Love e depois o próprio golaço dele, com um chute de longe na gaveta, talvez o gol mais bonito de Kléberson com o Manto Sagrado. Também o último. Infelizmente, Flamengo perdeu 3×2 contra Vasco e acabou eliminado. Kléberson ainda fez a assistência, de novo para Vágner Love, no 1×1 contra Sport na estreia do Brasileirão. Ainda fez um gol, num amistoso contra a Seleção do Piauí, com assistência de Renato Abreu, outro ídolo que brilhou muito na década de 2000, não tanto na década de 2010.
Kléberson jogou seu último jogo com o Flamengo contra a Ponte Preta e foi vendido no Bahia, onde fez seu primeiro gol contra… Flamengo. Ainda passou nos Estados Unidos, onde pendurou as chuteiras em 2016 no Strikers de Fort Lauderdale, time do Ronaldo Fenômeno. No Flamengo, foram 136 jogos e 23 gols, um bicampeonato carioca 2008 – 2009, o Brasileirão de 2009, tão especial para os torcedores rubro-negros que conheceram essa época. Se Kléberson é ídolo ou não do Flamengo, acho que depende das pessoas e da definição que eles têm de um ídolo. Para ser ídolo do Flamengo, exige muitas coisas e confesso que não tenho opinião definitiva e certa sobre Kléberson. Certeza é que ele honrou o Manto Sagrado.








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