Jogos eternos #169: Flamengo 2×0 Nacional 2008

De novo, utilizo a Copa América e a Seleção brasileira na hora de escolher o jogo eterno do dia. Antecipo pela última vez. Antes do Brasil x Uruguai, um jogo entre Flamengo e o Nacional uruguaio na Copa Libertadores de 2008.

Eu escrevi na última crônica dos times históricos que foi realmente em 2007 que comecei a acompanhar de mais perto o Flamengo, mesmo com 10.000 quilômetros de distância. Ainda sem IPTV nem streaming, eu nunca faltava de assistir aos melhores momentos do jogo no dia seguinte, particularmente na Copa Libertadores e seus horários anti-europeus. Em 2008, assistia pela primeira vez ao Flamengo na Copa Libertadores, já sabia de toda a importância do torneio por ter assistido as campanhas do São Paulo de Rogério Ceni e depois do show de Riquelme na Copa Libertadores de 2007.

Eu acho que sempre fui flamenguista na alma. Nunca me tornei flamenguista, eu nasci assim, rubro-negro pronto. Apenas passei a conhecer melhor o time, os jogadores, o estádio, a história, com a velocidade de uma arrancada de 2007. Finalmente, chegava a mais bela de todas, a Copa Libertadores. Flamengo começou a fase de grupos com uma vitória, um empate e uma derrota, contra o próprio Nacional, um duro 3×0. Duas semanas depois, Flamengo precisava de uma vitória para continuar a acreditar ao bicampeonato.

No 19 de março de 2008, o técnico Joel Santana escalou Flamengo assim: Bruno; Luizinho, Fábio Luciano, Ronaldo Angelim, Juan; Cristian, Kléberson, Ibson, Renato Augusto; Marcinho, Souza. Eram outros tempos do futebol sul-americano, um futebol mais nacional, um técnico brasileiro, escalando 11 jogadores brasileiros, apenas o argentino Maxi Biancucchi saiu do banco. Do lado do Nacional, também um técnico uruguaio, utilizando 13 jogadores, também um argentino e 12 uruguaios. Era um Brasil x Uruguai no Maracanã. E, se hoje o Brasil é desfalcado de meu maior ídolo na atualidade, Vinícius Júnior, em 2008 faltava um outro ídolo meus (na época), Léo Moura, expulso no jogo de ida.

Tinha também um convidado especial para o jogo, o Galvão Bueno, que raramente narrava jogos dos times brasileiros na época e que deixava esse jogo ainda mais particular. Confesso que na época não sabia todo o peso que tinha Galvão Bueno na história do futebol brasileiro, mas adorava os comentaristas brasileiros, muito diferente do que se faz na Europa. E mais, tinha o Maracanã, que viveu um de seus melhores períodos entre 2007 e 2009. Mesmo que eu me tornasse um Machado de Assis ou um Armando Nogueira rubro-negro, me faltaria palavras e poesia para descrever o quanto é bonita a torcida flamenguista, quanto ela é diferente, especial, foda. Antes do jogo, o canto “eu sempre te amarei”, de poucos meses, mas já icônico, um espetáculo de sinalizadores, bandeiras e fumaça, a alma do Flamengo. Eu sempre te amarei.

Com 15 minutos, Bruno, de camisa amarela à la Plassmann, fez dupla defesa para preservar o 0x0. Dez minutos depois, o jovem Renato Augusto lançou Marcinho, que cruzou, ganhou o escanteio. O desconhecido Luizinho cobrou o escanteio, bola alta, disputa no ar, Ronaldo Angelim cabeceou, Fábio Luciano também, bola sobrou, Marcinho dominou de barriga, chutou, goleiro parou, Marcinho driblou de vaca, chutou de novo, finalmente fez o gol. O Maracanã explodiu, suas 50 mil almas voavam levemente, alegremente, apaixonadamente. O Galvão Bueno apagava a voz para deixar a torcida cantar o mais bonito, o mais forte possível, seu amor ao Flamengo.

Antes do intervalo, de novo o desconhecido Luizinho, que tabelou com Souza e fez o passe atrás para a chegada de Ibson. Bola foi desviada, tremeu o travessão, moveu a torcida. No segundo tempo, ainda Luizinho, já não tão desconhecido, o lateral-direito cruzou, o lateral-esquerdo Juan cabeceou, de novo na trave. Mas Marcinho chegou, cabeceou, dobletou para a felicidade do Maracanã e de sua quase geral, de cadeiras sim, mas torcida de pé, perto do campo, ainda com alma de Flamengo raiz e cara do povo. O Marcinho podia torcer a camisa e o escudo rubro-negro, a torcida estava feliz. Marcinho ainda teve a chance de triplicar, mas bola passou perto da trave, fora do gol. Sem consequências, Flamengo ganhava o jogo, seguia vivo na Libertadores.

Na semana seguinte, Marcinho confirmou com um gol contra Cabofriense e mais um doblete contra Friburguense. Quem assistiu a essa época se alegrou com Marcinho, até se enganou. Adorava esse jogador, de velocidade, de drible, de ousadia, com ADN do futebol brasileiro. Infelizmente, saiu do Flamengo ainda no meio do ano de 2008 para o Qatar. Com o Manto Sagrado, foram apenas 38 jogos e 17 gols, e muitos, muitos dribles. Marcou uma curta mas saudosa época, em que o Maracanã ainda era a alma do futebol carioca e Flamengo seu maior orgulho.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”