Flamengo joga hoje na Copa do Brasil contra seu maior rival do momento no cenário nacional, Palmeiras. Ano passado eternizei o jogo de volta da final da Copa Mercosul entre Flamengo e Palmeiras, com o gol salvador de Lê e um título continental, o último antes dos anos 2000. Mas o jogo de ida, no Maracanã, já foi um jogaço, um jogo eterno.
Vale a pena lembrar que a Copa Mercosul de 1999 foi um dos maiores torneios da história do futebol sul-americano, talvez o mais disputado, com 20 clubes, só gigantes. Palmeiras e Flamengo se classificaram na fase de mata-mata como melhores segundos colocados, Palmeiras sendo o primeiro e Flamengo o segundo. Para chegar na final, Palmeiras eliminou Cruzeiro e San Lorenzo, e Flamengo passou de Independiente, com goleada 4×0 na volta, e Penãrol, com dois jogos que tinham todo o sabor de grandes jogos da América do Sul, com doces e pancadas.
Flamengo estava na final, infelizmente desfalcado de seu maior astro, Romário, depois de um último ato de indisciplina. A meu ver, foi um exagero, e uma grande pena, já que o Baixinho merecia muito uma grande conquista com o Flamengo. E ficava ainda mais difícil para o rubro-negro, que tinha de enfrentar um dos maiores times sul-americanos, talvez até do mundo, do final dos anos 1990, Palmeiras. O Verdão conquistou a Copa Libertadores meses antes e tinha no time craques em cada linha do campo: Marcos, Arce, Júnior Baiano, Júnior, César Sampaio, Zinho, Paulo Nunes, Asprilla.
E mais, para Flamengo, a final da Copa Mercosul tinha sabor de vingança depois da eliminação da Copa do Brasil meses antes. Nas quartas de final, Flamengo ganhou 2×1 na ida, ainda ganhava 2×1 na volta no Parque Antártica com uma hora de jogo. Palmeiras precisava fazer 3 gols para se classificar, Júnior fez um, Euller entrou em campo e no final do jogo fez os 2 gols necessários, eliminando Flamengo de forma dramática. A final da Copa Mercosul anunciava mais um capítulo da rivalidade entre Flamengo e Palmeiras, que começou no Brasileirão de 1979 quando Palmeiras eliminou Flamengo com um 4×1 no Maracanã, Flamengo devolvendo a goleada no ano seguinte com um 6×2 eterno.
No 16 de dezembro de 1999, Carlinhos escalou Flamengo assim: Clemer; Maurinho, Célio Silva, Juan, Athirson; Leandro Ávila, Marcelo Rosa, Leonardo Inácio, Iranildo; Leandro Machado, Reinaldo. Palmeiras, que conquistou a Copa Mercosul em 1998 e sonhava de conquistar duas copas continentais no mesmo ano depois da Copa Libertadores, era o amplo favorito, mas tinha esperança de mudanças no Flamengo. Quatro dias antes do jogo, Flamengo anunciou uma promissora parceria com a ISL, o que de fato, apenas chegou a ser promissor e nunca se concretizou a um nível nacional ou internacional. A Copa Mercosul de 1999 ainda era a melhor chance de Flamengo de brilhar na América do Sul.
No Maracanã, apenas 13.414 pagantes, mas era ainda o Maracanã raiz, com geral cheia, que se inflamou com o bom início de jogo do Flamengo. E com 5 minutos de jogo, num escanteio de Iranildo, Athirson desviou de cabeça na segunda trave para Juan, que também cabeceou para abrir o placar. Palmeiras dominou o final do primeiro tempo, Clemer fez grandes defesas antes de falhar numa falta, bola chegou aos pés de um antigo ídolo do Flamengo, Júnior Baiano, que empatou antes do intervalo.
E no intervalo, nosso ídolo e técnico Carlinhos, mostrou que além da classe que tinha em campo, tinha estrela como técnico. Fez entrar em campo Caio, que com apenas 2 minutos no jogo, mostrou que também tinha estrela, tentou um voleio acrobático, bem defendido pelo Marcos. Palmeiras voltou a dominar, Clemer voltou a fazer grandes defesas, preservando o empate, que já era bom para o Flamengo. No meio do segundo tempo, mais um escanteio para Palmeiras, Galeano cabeceou, Asprilla antecipou a saída de Clemer e fez de cabeça o gol da virada para Palmeiras. Parecia repetição do jogo da Copa do Brasil, parecia mais um pesadelo para Flamengo. O time de Scolari era um inferno mesmo.
Três minutos depois, Palmeiras conheceu o que era um inferno e um paraíso ao mesmo tempo, o Maracanã com Flamengo em campo. No meio do campo, Caio abriu na esquerda para Reinaldo, que acelerou, ganhou na corrida de Júnior Baiano e cruzou. Bola foi desviada pelo Galeano, quase saiu, mas ficou em campo, na segunda trave, nos pés de Leandro Machado, que cruzou, agora da direita. Caio chegou, cabeceou, empatou. Loucura no Maracanã, ainda mais com os jogadores do Flamengo comemorando literalmente no meio da geral do Maraca. No minuto seguinte, ainda com o Maracanã explosivo, Asprilla fez grande passe para Paulo Nunes, o craque da casa do Flamengo fez valer a lei do ex, deixou Palmeiras de novo na frente, calou o Maracanã por um minuto só.
Um silêncio de um minuto só, na verdade menos, de 50 segundos só. A Band, que retransmitia o jogo, ainda mostrava o replay do gol de Paulo Nunes, perdeu o novo gol de Caio, só mostrou a comemoração de Caio, mexendo a camisa, e a paz de Carlinhos, estoico, não se movendo, sorrindo com a tranquilidade de quem sabe que mexeu certo, com essa entrada de Caio no intervalo. No replay, finalmente, o gol de Caio, uma tabelinha com Leandro Machado e um chute cruzado, preciso, rasteiro. Flamengo 3×3 Palmeiras, já um jogo eterno.
O trio Caio – Leandro Machado – Reinaldo estava infernizado, infernizando o time inteiro do Palmeiras. A defesa palmeirense impediu mais um gol de Caio, Marcos desviou uma cabeçada de Leandro Machado na trave, Reinaldo não conseguiu chutar no gol. E faltando 5 minutos para o apito final, Athirson teve tempo para cruzar. Já pressionado, o ídolo Athirson era altamente perigoso nos cruzamentos, então com espaço, teve tranquilidade e talento para achar Reinaldo, que cabeceou firme, nas redes. Gol do Flamengo, explosão da geral, gol de Reinaldo, que beijou o Manto Sagrado, e finalmente a explosão de Carlinhos, que sorriu mais francamente. Palmeiras, o último campeão, o campeão da Liberta, era derrotado, Flamengo ganhava um jogo histórico, que ainda precisava de uma confirmação 4 dias depois em São Paulo, para ser definitivamente eterno. E de novo com escolha certa e mexida decisiva do Violino Carlinhos, Flamengo fez mais um jogo eterno, foi o campeão, o último da América do Sul antes dos anos 2000.








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