Jogos eternos #201: Nacional 0x3 Flamengo 1993

Flamengo joga hoje seu jogo mais importante do ano. Eu me esforço para estar confiante, apesar do momento ruim do time, apesar do retrospecto também ruim do Flamengo no Uruguai. O Mengo ganhou nenhum dos 8 últimos jogos disputados no Uruguai, inclusive perdeu uma final da Copa Libertadores. Tem que voltar então a um passado mais distante para achar um jogo no Uruguai que acabou bem para Flamengo.

O ano é 1993, um ano histórico no Francêsguista, a competição é a Supercopa Libertadores, instaurada em 1988 e que reunia apenas os campeões da Copa Libertadores. Flamengo era então o único participante carioca e nunca passou das quartas de final até 1993, com eliminação contra Nacional em 1988, River Plate em 1991 e Estudiantes em 1992. Um ano depois, Flamengo eliminou Olimpia na primeira fase, um jogo eterno no blog, com gols de Renato Gaúcho, Casagrande e Júnior Baiano. Nas quartas de final, Flamengo passou de River Plate, Gilmar Rinaldi sendo o herói da disputa de penalidades.

Flamengo reencontrou na semifinal outro time que o tinha eliminado anos antes da Supercopa Libertadores, o Nacional do Uruguai. Nas quartas de final, Nacional eliminou o Cruzeiro de Ronaldo Fenômeno, que fez 3 gols nos 2 jogos, insuficiente para classificar a Raposa. No jogo de ida da semifinal, Flamengo jogou no Pacaembu e derrotou o Nacional 2×1, gols de Casagrande e Renato Gaúcho. Na sua terceira passagem no Flamengo, Renato Gaúcho fez alguns gols, mas não brilhou muito, sofrendo várias lesões. No meio de campo, Flamengo era órfã do jogador que mais vestiu o Manto Sagrado na história, o Vovô-Garoto Júnior, que finalmente pendurou as chuteiras semanas antes. Mas Júnior não ficou longe da Gávea, virou técnico do Mengo, já no ano de 1993. Assim, no 10 de novembro de 1993, Júnior escalou Flamengo assim: Gilmar; Charles Guerreiro, Júnior Baiano, Rogério, Marcos Adriano; Fabinho, Marquinhos, Nélio, Marcelinho Carioca; Renato Gaúcho, Casagrande. Um time muito bom, principalmente no setor ofensivo, e que podia sonhar alto, podia sonhar com títulos.

Flamengo jogou no estádio Centenário de Montevidéu, ainda não centenário mas que acolheu vários jogos importantes, a final da primeira Copa do Mundo em 1930 e nada menos que 21 finais da Copa Libertadores, obviamente um recorde, inclusive o jogo de desempate da Copa Libertadores de 1981, que viu Flamengo conquistar pela primeira vez a América. Sempre foi um estádio onde era difícil de jogar e mesmo com a vitória na ida, a classificação do Flamengo era nada assegurada.

No jogo de ida no Pacaembu, Renato Gaúcho foi substituído e saiu bastante irritado com Júnior. No Centenário, era um Renato Gaúcho vingativo, talvez a melhor versão dele. Começou com dribles, continuou com cruzamentos perigosos. No final do primeiro tempo, dominou de peito, prosseguiu com embaixadinha de cabeça e cruzou. O baixinho Nélio chegou, cabeceou mas goleiro defendeu. Instantes depois, mais um show de Renato Gaúcho, agora da direita, eliminou Saravia e cruzou para o grandão Casagrande. Resultado foi igual, o goleiro Jorge Seré fez mais um milagre e mantinha o Nacional vivo. E no final do primeiro tempo, Renato Gaúcho driblou um defensor, o outro fez falta dura. Uma falta para Flamengo, quase um mini escanteio, que saiu do pé mágico de Marcelinho Carioca até a cabeça de Nélio, até a rede de Seré. Finalmente Flamengo abria o placar.

No início do segundo tempo, o lateral-esquerdo Marcos Adriano usou a velocidade e invadiu a grande área, só parou nos pés do goleiro Seré. Bola ficou viva, ficou no ar, Renato Gaúcho pulou, também ficou no ar, cabeceou. Bola passou em cima do zagueiro, ficou no gol. De braços abertos, Renato Gaúcho comemorou até os braços de Júnior e selou a paz com o técnico. Pouco depois, Marquinhos fez um grande lançamento na profundidade para Nélio. O craque da casa fez drible de vaca sobre goleiro, fez o doblete, fez o gol do alívio para a torcida rubro-negra. Em Montevidéu, Flamengo vencia 3×0, só faltava 34 minutos para chegar até o final do jogo e se classificar para a final.

Mas Flamengo nem esperou tanto tempo. Como aconteceria anos depois na semifinal da Copa Mercosul de 1999, também no Centenário, agora contra Peñarol, os uruguaios não se confirmaram com a eliminação. Torcedores do Nacional começaram a jogar pedras em direção do goleiro Gilmar, continuaram e o juiz encerrou o jogo antes do tempo normal. Flamengo estava na final, infelizmente perdida na disputa de penalidades contra São Paulo, mas não podemos esquecer o show de Renato Gaúcho, provavelmente seu melhor jogo do ano de 1993, não podemos esquecer a grande atuação do Mengo no Uruguai.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”