Para esquecer um pouco do presente, vamos voltar ao passado. O Adriano Imperador, Nosso Didico, anunciou há pouco sua volta para um jogo de despedida no Maracanã. Antes do jogo de hoje contra o Athletico Paranaense, vamos para um outro jogo contra o Furacão, que viu um Imperador voltar a reinar.
Adriano sempre foi ídolo do Flamengo. Era mais que um craque da casa, era o orgulho de Vila Cruzeiro, da Penha, da Zona Norte de RJ. Era a alegria do geraldino, do rubro-negro raiz e de todos os torcedores, conquistava todo mundo com seu sorriso, sua simplicidade e sua humildade. Começou como profissional em 2000, fez seu primeiro gol contra o São Paulo de Rogério Ceni, e já foi vendido aos 19 anos. Não teve tempo de se eternizar no Flamengo com títulos, mas se destacou pela habilidade e potência.
Adriano foi vendido na Inter de Milão em 2001, quando o Ronaldo Fenômeno acumulava as lesões graves no mesmo clube. Logo Adriano parecia uma versão mais jovem do Fenômeno, tinha essa mistura única (agora não única) de habilidade, velocidade e força que faziam dele um dos melhores centroavantes do mundo. Adriano começou a se destacar no Parma, onde foi emprestado, e eu o vi jogar num torneio na minha França, a Copa das Confederações de 2003. Eu via um novo Ronaldo, meu então maior ídolo no futebol e na vida, desde a Copa do Mundo de 1998, já na França, eu com 6 anos recém-completados. Depois, Adriano brilhou na Inter de Milão, fez golaços e a alegria do tifosi, virou Imperatore.
Adriano também virou ídolo do Brasil em 2004, com um jogo eterno e um gol inesquecível contra a Argentina, para conquistar a Copa América. Até para os gamers Adriano foi inesquecível, virou capa do jogo Pro Evolution Soccer 6 e era imparável no jogo. Tinha rapidez, potência, técnica. Mas não era exagerado, Adriano era propriamente em campo um jogador de videogame. Eu era apaixonado pelo futebol brasileiro e pelo todos (ou quase) os jogadores brasileiros, mas minha maior referência ainda era o Ronaldo Fenômeno. Quando foi também jogar em Milão, não acompanhei mais o Real Madrid e sim o AC Milan. Quando se machucou mais uma vez gravemente no joelho, parei de assistir o futebol europeu.
No início de 2008, o futebol era para mim apenas rubro-negro, apenas Flamengo. Era o centro de meu mundo, e nos arredores, tinha o futebol brasileiro em geral. Na época, Adriano lutava com a tristeza da morte do pai, contra a depressão e o alcoolismo. Ganhou peso e perdeu futebol. Fiquei feliz quando anunciou sua volta ao Brasil. Minha alegria era ver no Brasil antigos ídolos, Romário, Edmundo, Adriano, Denílson e outros, mesmo longe do Flamengo, onde também jogaram. Adriano jogou no São Paulo FC e foi bem, voltou na Internazionale e foi mal.
Em 2008, meu ídolo Ronaldo Fenômeno vestiu o Manto Sagrado, como simples torcedor. Assistiu a um jogo do campeonato carioca contra Botafogo, se declarou ao clube e falou sobre o sonho de jogar no Flamengo. Eu ficava louco de imaginar meu ídolo no clube de meu coração, era a combinação perfeita, mas a volta à realidade foi brutal, Ronaldo assinou com o Corinthians, contra o Flamengo. Tive a oportunidade de ver o que era mais importante, meu ídolo ou meu clube. Fiquei com o Flamengo e passei a odiar Ronaldo. Para minha tristeza e raiva, ele foi bem no início de 2009 e até me distanciei um pouco do futebol brasileiro por causa da dor que isso me provocava.
Mas reencontrei a felicidade ao mesmo tempo que Adriano, que voltou ao Brasil no início apenas para um jogo das eliminatórias da Copa de 2010. E ficou em casa, o agente Gilmar Rinaldi avisou: “O Adriano está no Rio com a família e não volta para a Itália”. Pouco depois, Adriano detalhou um pouco mais: “Resolvi dar um tempo na minha carreira, pois perdi a alegria de jogar. Não sei se vou parar dois ou três meses, para repensar minha carreira. Não gostaria de voltar a Itália. Lá a pressão é muito grande. Quero viver em paz, aqui no Brasil. Estou fazendo isso pensando em minha felicidade”. Pensou na sua própria felicidade e a da avó, quando foi perguntado onde voltaria a jogar no país: “Se eu for jogar no Brasil, tem que ser no Flamengo. Senão a minha avó me mata!”.
E Nosso Didico pensou na felicidade da Nação, assinou com o Mengo. Parecia um sonho, que se dane o Fenômeno, meu ídolo é um Imperador. Flamengo começou o Brasileirão de 2009 com uma vitória, um empate e uma derrota, mas tinha mais importante, o Imperador voltou, o bom filho voltou em casa. Adriano reestreou contra o Athletico Paranaense, no 31 de maio de 2009, o técnico Cuca escalando Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, Ronaldo Angelim, Airton, Juan; Willians, Toró, Kléberson, Ibson; Emerson Sheik, Adriano.
O Imperador jogou com a camisa 29, a mesma que a de seus inícios no Flamengo em 2000, e recebeu uma mais que merecida homenagem da torcida. Era Maraca lotado, 68.217 pagantes, 71.762 presentes, uma festa antes do apito inicial, com rosto do Imperador voando no céu carioca. “Voltei para minha casa, porque foi de onde eu saí, onde fui criado, e para tentar reconquistar a minha felicidade. Já estou muito feliz em estar aqui, ao lado de pessoas que me viram crescer, me acompanham no futebol desde pequeno. Sempre senti essa vontade de voltar ao Flamengo. E nada melhor do que estar aqui, perto da minha família” falou Nosso Didico antes do jogo.
Adriano voltou acima do peso, mas acima de tudo rubro-negro. Cada toque de Adriano era uma explosão de felicidade para a Nação. Jogo começou bem, com a grande dupla de laterais rubro-negros, Juan cruzou para o cabeceio de Léo Moura, mas goleiro defendeu. Dois minutos depois, Juan de novo cruzou, para Adriano, que por pouco não abriu o placar. Ainda não era o momento da maior felicidade. Na direita, Willians cruzou, Adriano cabeceou, goleiro defendeu. A Nação ainda tinha que esperar. Ainda nos primeiros 15 minutos, Juan cruzou mais uma vez, e Adriano apareceu livre para abrir o placar, mas o zagueiro do Athletico Antônio Carlos chegou primeiro e fez contra, adiou a festa rubro-negra. Mesmo assim, a Nação explodiu de felicidade e ousia sonhar mais, queria o gol de seu ídolo, de seu Imperador.
No final do primeiro tempo, Adriano quase fez assistência, com bom passe para Toró, que chutou no meio do gol, sem maior perigo para Vinícius. E maior felicidade chegou no Maraca. No início do segundo tempo, Emerson Sheik abriu na direita para Léo Moura, que cruzou de primeira. Adriano se livrou do Rhodolfo, pulou, cabeceou, golaçou. Como o Imperador que era, Adriano reinou em campo e foi coroado pela torcida, pela Nação, que conhecia sua maior alegria, gol do Flamengo, gol do Adriano. Nada mais importava, não as quase assistências que fez Adriano para Léo Moura e Éverton Silva, não importava o futebol europeu, o Ronaldo no Corinthians, muito menos o gol de pênalti de Rafael Moura para o Athletico Paranaense, que não impediu a vitória rubro-negra. Só importava a felicidade da Nação e do Nosso Didico.
O Maracanã cantou, pulmou, almou: “Festa na Favela” e “O Imperador voltou!”. Até a Itália ficou feliz, a Gazzetta Dello Sport manchetou: “L’Imperatore è tornato”, o Imperador voltou. O Imperador voltava a escrever sua história e reencontrar sua felicidade, como o próprio Adriano falou no final do jogo: “Foi muito importante fazer o gol. Não tem dinheiro que traga tanta felicidade. Recuperei a alegria de jogar, mas sei que ainda posso fazer muito mais. Vamos devagar e com humildade”. Adriano fez muito mais, perdeu dinheiro, mas não perdeu a humildade e ganhou o mais precioso da vida: a felicidade de ser campeão pelo Flamengo.








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