Jogos eternos #203: Flamengo 1×0 Corinthians 2010

Flamengo joga hoje contra o Corinthians e não pode perder nem empatar. A temporada é bem frustrante e a conquista da Copa do Brasil virou obrigação. Antes de um jogo de mata-mata contra o Corinthians, com jogo de ida no Maracanã, eu escolho para a crônica do dia um jogo de Copa Libertadores, em 2010.

Eu falei na última crônica que o grande ídolo de minha infância era Ronaldo Fenômeno e que senti uma grande frustração, dor, raiva quando ele assinou com o Corinthians. Nem a chegada de Adriano Imperador e a conquista do hexa foram suficientes para aliviar essa raiva que sentia na minha alma rubro-negra. Esperava o reencontro entre Flamengo e Corinthians, Adriano e Ronaldo. No Brasileirão de 2009, na ida Ronaldo não jogou, na volta Adriano não jogou. Tinha que esperar 2010 para o duelo de dois dos maiores centroavantes da história do futebol brasileiro.

E o duelo aconteceu num jogo de mata-mata, na Copa Libertadores. A traição de Ronaldo até fez me afastar um pouco do futebol brasileiro e não acompanhei tanto as temporadas de 2009 e 2010 como as de 2007 e 2008, meus primeiros amores. Mas o amor do Mengo era maior e depois das eliminações traumáticas nas Copas Libertadores de 2007 e 2008, Flamengo se classificou, também de forma dramática, para a fase final da Copa Libertadores de 2010.

Em 2009, os clubes mexicanos de San Luis e Chivas Guadalajara tiveram de desistir das oitavas de final por causa da pandemia de gripe H1N1. Assim, os dois clubes mexicanos foram classificados diretamente para as oitavas de final da Copa Libertadores de 2010 e tinha apenas 6 dos 8 melhores segundos colocados que se classificavam para a fase final. Sob vaias da torcida, Flamengo venceu de virada 3×2 Caracas e teve que esperar o dia seguinte e uma combinação de 3 resultados para ir nas oitavas, como o último colocado. Sem sorteio na época, o destino foi o time com a melhor campanha, que reinou na primeira fase com 5 vitórias e um empate, o destino foi o Corinthians, o destino foi Adriano x Ronaldo.

Eu agora perdoei o Ronaldo Fenômeno mas em 2010, ainda estava no auge de meu ódio. Eu estava louco e ansioso ao mesmo tempo para esse Flamengo x Corinthians. O Corinthians andou como favorito para o jogo, e tinha mais, a torcida deles estava louca para conquistar pela primeira vez a Copa Libertadores, no ano do centenário do clube. E nossa torcida só queria provocar o Ronaldo, até com a contratação de travestis para assistir ao jogo, Ronaldo foi pego num motel de Rio de Janeiro com travestis em 2008. E mais, o Maracanã vivia seus últimos jogos antes de ser fechado e destruído na alma para a Copa de 2014. Era um jogaço antes do apito inicial.

E o pré-jogo confirmou isso. O Maracanã pegou fogo, com cantos provocativos ao Ronaldo, mas sobretudo, com show da Nação, com cantos, sinalizadores e fumaça. Mesmo com o futebol ruim na temporada, mesmo uma chuva impressionante, a torcida respondeu presente, com 62.247 pagantes. “O Maraca é nosso, vai começar a festa”. E foi festa. No 28 de abril de 2010, o técnico Rogério Lourenço escalou Flamengo assim: Bruno; Léo Moura, David Braz, Ronaldo Angelim, Juan; Rômulo, Maldonado, Willians, Michael; Vágner Love, Adriano. A forte chuva no início do jogo impediu uma boa qualidade técnica do jogo, mas aos 10 minutos, um chute de Léo Moura que flirtou com a trave acordou o Maracanã. “Mengo, Mengo, Mengo”, que saudade eu tenho do verdadeiro Maraca.

No primeiro tempo, o gramado do Maracanã virou piscina e teve poucas jogadas de perigo. Num cruzamento de Juan, Léo Moura não conseguiu cabecear. Tenho saudade dessa dupla de laterais também. Num lançamento de Michael, Vágner Love invadiu a grande área mas Chicão foi perfeito no carrinho, quem sabe o mergulho. Michael foi bem menos preciso no carrinho e foi duas vezes advertido pelo juiz. Assim foi expulso, deixou Flamengo com apenas 10 homens em campo, já no primeiro tempo. Mesmo com o placar de 0x0, era um jogaço, não na qualidade técnica, mas na intensidade, no drama, no roteiro. O primeiro tempo acabou assim, nada de gol no Maraca, que ainda esperava vibrar com um gol do Mengo, uma bola perdida do Ronaldo Fenômeno, pouco acionado no primeiro tempo.

No início do segundo tempo, a chuva parou e o gramado melhorou. O goleiro Bruno saiu bem nos pés de Moacir, preservou o 0x0. Na hora de jogo, a falta longa de Juan parou no travessão, Adriano tentou o voleio, mas bola passou um pouco em cima do travessão. O Maraca vibrava, vivava, esperava o gol, a jogada certa, o lance decisivo. Pouco depois, Willians abriu na grande área para Juan, mais rápido que Moacir, que cometeu o pênalti claro. Na cobrança, Adriano correu, chutou forte, no contrapé de Júlio César. O Maracanã explodiu, sinalizou, exibiu a bandeira de Nosso Didico. Flamengo 1×0 Corinthians, Adriano 1×0 Ronaldo.

Dez minutos depois, Adriano quase fez o segundo, mas Júlio César desviou o cabeceio no travessão. No final do jogo, Ronaldo, sob vaias da torcida rubro-negra, driblou um e cruzou, mas os corintianos Iarley e Jorge Henrique se atrapalharam. No minuto seguinte, Ronaldo saiu do campo, sob ainda mais vaias, que eu achava merecidíssmas. Foi minha vitória, o Ronaldo Fenômeno seguia em branco no Maracanã, onde nunca fez gol na carreira. E o jogo acabou assim, com vitória 1×0 do Flamengo. Era, no Maraca na chuva, dia de Adriano, dia de Mengo, dia da Nação.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”