Ídolos #38: Filipe Luís

Ídolos #38: Filipe Luís

Filipe Luís começa uma nova fase da carreira. Era uma certeza que um dia ia se tornar o técnico do Flamengo. A dúvida é se ele vai ser um grande treinador, mas já junta uma galera de grandes nomes que foram técnicos do Flamengo depois de brilhar com o Manto Sagrado: Zagallo, Carlinhos, Jayme de Almeida, Paulo César Carpegiani, Andrade. Já ídolo do Flamengo, falta a Filipe Luís se eternizar na grande galeria dos técnicos rubro-negros.

Filipe Luís nasceu no 9 de agosto de 1985, no Santa Catarina, terra de imigrantes europeus, como poloneses, italianos e austríacos, origens do próprio Filipe Luís. Aprimorou seu futebol com futsal, que praticou até os 14 anos. Virou um jogador com técnica limpa e domínios certos. Começou a carreira profissional no Figueirense, onde foi bicampeão catarinense antes de ir na Europa, no Ajax Amsterdam, onde sequer jogou. Passou na reserva do Real Madrid e finalmente chegou na primeira divisão da Espanha com o Deportivo La Coruña, terra de brasileiros, como Rivaldo, Bebeto ou ainda Djalminha.

Na Coruña, Filipe Luís virou titular absoluto, teve uma série impressionante de 66 jogos da Liga como titular, entre o 2 de dezembro de 2007 e o 23 de janeiro de 2010. A série foi interrompida contra o Athletic Bilbao, quando Filipe Luís abriu o placar e no mesmo lance do gol, se chocou com o goleiro do Bilbao e quebrou o perônio. O lateral-esquerdo só voltou nos dois últimos jogos da temporada a faltou a Copa do Mundo de 2010, tinha estreado com a Seleção no último jogo das eliminatórias, quando Dunga o botou em campo contra a Venezuela.

Referência na Espanha, Filipe Luís assinou com o Atlético de Madrid e virou uma referência na Europa inteira. Já no primeiro jogo com o Atlético, Filipe Luís fez uma assistência para Diego Costa marcar o único gol da partida e ainda foi eleito melhor homem do jogo. O primeiro gol de Filipe Luís chegou na mesma temporada, numa vitória 3×0 sobre a Real Sociedad. Sobretudo, o lateral brasileiro ganhou muitos títulos com o time de Diego Simeone: a Liga Europa 2012 contra o Athletic Bilbao de Marcelo Bielsa, a Supercopa da UEFA semanas depois contra Chelsea com show de Falcão, a Copa da Espanha contra o Real Madrid de José Mourinho, no Santiago Bernabéu. Muito títulos para um time que ganhava nada nos anos 2000.

E mais, no auge do Barcelona de Messi e do Real Madrid de Ronaldo, o Atlético de Madrid conquistou a Liga espanhola de 2014, a primeira do clube desde 18 anos, com 3 pontos a mais do Barcelona e do Real Madrid. Os dois gigantes ultrapassaram os 100 gols no campeonato, mas a defesa do Atlético Madrid foi vazada apenas 26 vezes em 38 jogos. Ao lado dos companheiros Courtois, Godín e Juanfran, Filipe Luís foi eleito na seleção ideal da Liga.

Para a Copa de 2014, Filipe Luís ficou apenas na lista de suplentes, atrás de Marcelo e Maxwell. A Seleção ainda tinha uma qualidade absurda na lateral-esquerda. Logo depois, realizou um sonho e assinou no Chelsea, para jogar a Premier League. E foi campeão, conquistando um título que não vinha desde 2010 para os Blues. Porém, Filipe Luís participou de apenas 15 jogos, 9 como titular. Jogador de classe, mostrou que também era homem de classe, afirmando que Azpilicueta merecia a titularidade. Filipe Luís participou da League Cup, até fazendo gol contra Derby County nas quartas de final, mas não jogou a final, também vencida pelo Chelsea.

Depois de um ano na Inglaterra, voltou no Atlético de Madrid, voltou a conquistar títulos, porém ficou no banco, tanto na final da Liga Europa 2018 que na Supercopa da UEFA, também em 2018, conquistadas contra Olympique de Marselha e o Real Madrid. Com a Seleção, jogou as Copas América de 2015 e 2016 e disputou 4 jogos da Copa do Mundo de 2018, mostrando a mesma classe que no Atlético. Na amarelinha, fez 2 gols, contra o Peru em 2015 e contra a Bolívia em 2016, bem servido pelo Neymar. Ainda brilhou na Copa América de 2019 conquistada pelo Brasil, mas sem o mesmo espaço no Atlético, buscou novos desafios. Era a hora de voltar ao Brasil.

Em julho de 2019, Filipe Luís foi anunciado no Flamengo e foi mais um da geração de 1985, com Rafinha, Diego Alves e Diego Ribas, o amigo quase irmão que incentivou a contratação de Filipe Luís, ao lado do presidente Rodolfo Landim. Ao lado de Rafinha, Filipe Luís se juntou ao Gerson e Pablo Marí como reforços no meio da temporada de 2019. Flamengo estava mudando de patamar. Depois de 14 anos na Europa, Filipe Luís voltava no Brasil, ainda jogando em alto nível. Eu só não sabia se tinha muito o ADN do Flamengo, eu me encanto mais com laterais esquerdos mais ofensivos, como Júnior ou Juan no Flamengo, Roberto Carlos ou Marcelo no futebol brasileiro. Mas Filipe Luís me conquistou com a publicação de uma foto ao lado do Vô, Filipe Luís bem jovem, vestindo um Manto Sagrado bem antigo. “Sentimento que passa de pai para filho, de vô para neto”, publicou. Do Rio para o mundo, do Maraca para a glória eterna.

Filipe Luís também me conquistou em campo, com atuações seguras, com classe, qualidade técnica, profissionalismo, liderança. Na estreia, perdeu 3×0 contra Bahia, mas depois, foram só vitórias ou empates no pior dos casos, até se eternizar no clube com a conquista da Libertadores, no Milagre de Lima. Fez seu primeiro gol com o Manto Sagrado em 2020, no Fla-Flu do campeonato carioca, depois de uma assistência absurda de Gabigol. O segundo gol também foi num Fla-Flu, agora no Brasileirão. Também fez gol contra Santos e conquistou mais um Brasileirão no início de 2021. Ganhou a admiração de um outro lateral-esquerdo, o vascaíno Pedrinho: “É um gênio. Ele não tem velocidade, força, não tem drible. Mas joga mais do que todo mundo, só com a cabeça”.

Em 2022, fez seu quarto e último gol no Flamengo, em mais um clássico, na vitória 2×1 sobre Vasco. Na final da Copa do Brasil contra o Corinthians, a decisão foi para a disputa de penalidades, Filipe Luís foi o primeiro a bater para Flamengo e perdeu. Sem consequências, depois de última cobrança de Rodinei, Flamengo foi campeão, Filipe Luís conquistava um dos únicos títulos que ainda lhe faltava no Flamengo. Dez dias depois, ainda era titular para mais uma final de Copa Libertadores, contra o Athletico Paranaense, mas saiu machucado depois de apenas 20 minutos de jogo. Sem consequências, Flamengo foi campeão e teve despedida de festa para Diego Alves e Diego Ribas.

Filipe Luís renovou o contrato por mais um ano e era o último remanescente da geração 1985. Provavelmente o mais flamenguista também. Inteligente como sempre, preparou a pós-carreira ainda jogando, seguindo cursos da CBF e conseguindo a Licença A. Em 2023, jogou menos numa temporada melancólica para o Flamengo e pendurou as chuteiras depois de jogo contra Cuiabá no Maracanã, onde recebeu homenagem ao lado de Rodrigo Caio, outro ídolo de 2019. Com o Manto Sagrado, Filipe Luís fez 176 jogos, ganhou um total absurdo de 132 vitórias, conquistou um total ainda mais absurdo de 10 títulos, fez 4 gols, fez 9 assistências, fez a alegria do torcedor já consagrado, ajudou o Flamengo a conquistar mais torcedores, meninos que sonhavam e vibravam com um Flamengo vencedor. “Sentimento que passa de pai para filho, de vô para neto”.

Logo no início de 2024, Filipe Luís virou técnico da base no Flamengo, com o amplo apoio da Nação, conquistando com o time Sub-17 a Copa Rio contra o rival Vasco. Passou a dirigir o time Sub-20 e conquistou um título ainda mais importante, inédito para o clube, a Copa Intercontinental Sub-20 contra o Olympiacos. Era só uma questão de tempo antes de Filipe Luís virar técnico do time principal do Flamengo. Acontece agora, de novo com o amplo apoio da Nação. A dúvida é se ele vai se tornar um grande técnico do Mengo. A certeza é que ele foi um dos maiores laterais da história do Flamengo.

No início de 2024, uma enquete com 50 jornalistas elegeu os maiores laterais da história do Flamengo. Leandro e Júnior são quase hors-concours. Não podemos esquecer outras grandes duplas de laterais, Jorginho e Leandro no final dos anos 1980, Léo Moura e Juan nos anos 2000. Gosto de duplas de laterais, e Filipe Luís também formou uma ao lado de Rafinha. Na hora da despedida de Filipe Luís, tinha eternizado no Francêsguista o ídolo de Filipe Luís, outro lateral-esquerdo de classe e técnica limpa, Athirson, outro candidato. Também não podemos esquecer os jogadores mais antigos, Biguá, Jordan, Paulo Henrique. Na enquete do GloboEsporte, Filipe Luís ficou atrás de Júnior e Leandro, claro, mas ficou em terceiro, seus 342 pontos bem na frente dos 259 de Léo Moura e 193 de Jorginho. Meu voto pessoal seria 1 – Leandro e 2 – Júnior. Depois, minha dúvida seria entre Jorginho e Filipe Luís, talvez Jordan. Bem que não tive que escolher, prefiro ficar na dúvida. Minha certeza é que Filipe Luís foi um dos maiores laterais do Flamengo, fez mais que honrar o Manto Sagrado, foi e ainda é ídolo rubro-negro.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”