Tive que mudar a crônica do dia, escrita no início para homenagear o Bola de Ouro do povo, Vinícius Júnior. Era o grande favorito e fiquei em choque quando soube que não ganhará, até demorei para acreditar. Não tem sentido Vinícius Júnior não ganhar o Bola de Ouro, ganhou a Liga e a Liga dos campeões sendo protagonista nas duas competições, até com gol na final contra o Borussia. Segundo a própria FIFA, os principais critérios são “desempenhos individuais, caráter decisivo e impressionante”, “desempenhos e conquistas da equipe” e “classe e jogo limpo”. Ou seja, não tem sentido Vini não ganhar. Rodri fez uma excelente temporada, mas bem em baixo do desempenho de Vinícius Júnior. Os antis vão reclamar da falta de classe e jogo limpo, quando Vinícius Júnior foi muitas vezes vitima da violência dos adversários, e pior, do racismo nas arquibancadas. Vini não ganhar é uma das grandes injustiças da história do Bola de Ouro e difícil não ver ele se tornar um dos símbolos da luta contra o racismo ser mais inconveniente que uma vantagem na hora de contabilizar os votos. Enfim, no 28 de outubro, dia do torcedor flamenguista, Vinícius Júnior tem que viver esse absurdo. Não é ainda do mundo inteiro, mas o menino é nosso, cria da Gávea, garoto do Ninho, Vinícius Júnior sempre será o orgulho do torcedor rubro-negro.
Vinícius Júnior é um de meus jogadores favoritos e até o preferido com Neymar tratando apenas dos jogadores ainda em atividade. E foi meu ídolo até antes de se tornar profissional. Sempre fico atento aos jogadores da base, quero ver antes de todos o novo craque, quero saber do futuro ídolo antes dos primeiros passos. E na base, Vinícius me marcou como ninguém antes, como ninguém depois. Virei fã do jogador e acompanhei os próximos passos, a Copinha, Vinícius Júnior brilhando muito com 4 gols e 5 assistências, o campeonato sul-americano sub17, Vinícius Júnior brilhando muito com 3 chapéus seguidos, artilharia, prêmio de melhor jogador e título de campeão.
Faltava a estreia como profissional e com apenas 16 anos, Vinícius Júnior já vestia o Manto Sagrado, na estreia do Brasileirão de 2017 contra o Atlético Mineiro de seu ídolo Robinho, que ele ultrapassou em todos os sentidos. Duas semanas depois da estreia, Vini já assinava com um dos maiores clubes do mundo, o Real Madrid. Lembro que meu amigo francês Tintin falou que os 45 milhões pagos pelo Real eram um absurdo e eu respondi na hora que provavelmente valia a pena. Fácil de dizer com o exemplo que deu certo, mas acho que tenho uma sensibilidade para ver quem é craque e para quem pode ser profissional sim, mas ficando longe das maiores honras, dos prêmios mais prestigiosos. E Vinícius Júnior, já antes de ser profissional, era da primeira categoria, era jogador de primeira categoria.
Logicamente, ainda muito jovem, Vinícius Júnior começou muitos jogos no banco de reservas e entrava em campo para desequilibrar, os adversários sim, mas ainda não os jogos. Com também lógica, Vini poucas vezes era decisivo. O primeiro gol como profissional chegou contra Palestino na Copa Sudamericana, um jogo eterno no Francêsguista. Na partida seguinte, jogou 20 minutos contra o Atlético Mineiro, na primeira rodada do segundo turno do Brasileirão. No jogo seguinte, contra Botafogo na Copa do Brasil, um duplo pesadelo para Vinícius Júnior: entrou em campo mas teve que ser substituído apenas 8 minutos depois por causa da expulsão do goleiro Muralha. E mais grave, nos camarotes do Engenhão, sua família sofreu injurias racistas da parte de um torcedor do Botafogo.
Três dias depois, Vinícius Júnior estava de novo em campo, agora como titular, pela primeira vez desde 2 meses, sempre saindo do banco nos últimos jogos. O técnico Reinaldo Rueda, campeão da Copa Libertadores em 2016 com o Atlético Nacional, comandava apenas seu segundo jogo no Flamengo, e fez algumas mudanças entre os dois jogos da semifinal da Copa do Brasil. No 19 de agosto de 2017, para o jogo contra a lanterna Atlético-GO, Reinaldo Rueda escalou Flamengo assim: Diego Alves; Pará, Réver, Rafael Vaz, Rhodolfo; Willian Arão, Márcio Araújo, Lucas Paquetá; Éverton Ribeiro, Geuvânio, Vinícius Júnior.
Na Ilha do Urubu, adorava esse estádio apesar da pequena capacidade e da localização ruim, primeiro milagre foi de Felipe, que defendeu um chute de Márcio Araújo, bem colocado na grande área. N a cobrança de falta, mais colocada que forte, de Lucas Paquetá, Felipe defendeu de novo. Num cruzamento de Éverton Ribeiro, Vinícius Júnior cabeceou, mas bola foi para fora. Ainda não era a hora da estrela do Ninho de brilhar. Flamengo também foi ameaçado e num chute de Walter, esse mesmo, Diego Alves fez a defesa perfeita. No final do primeiro tempo, mais uma cobrança de falta, agora de Éverton Ribeiro, mais uma defesa de Felipe, ainda 0x0 no intervalo.
E o segundo tempo pertenceu a um craque, ainda em formação, Vinícius Júnior. Bem lançado pelo Márcio Araújo, Vini partiu em velocidade, deixou para trás, muito para trás, o William Alves e foi perfeito na finalização, colocando de pé esquerdo a bola entre a trave e o pé de Felipe. Em seguida, quase fez de cabeça o doblete. O Vinícius Júnior tinha muita estrela.
Vinte minutos depois do primeiro gol, Vinícius Júnior mostrou mais uma vez toda sua velocidade, sua classe, seu poder de decisão. De novo bem lançado, agora pelo Lucas Paquetá, Vini antecipou a saída do goleiro e o eliminou com um drible sensacional antes de deixar a bola no gol vazio. Aliás, um gol que relembra o que ele fez 7 anos depois quando fez um hat-trick contra o Barcelona na Supercopa da Espanha, também lembra o golaço de Romário contra o Uruguai em 1993. O Brasil tinha um novo craque, o mundo um novo rei, ainda não era coroado.
Vini, vidi, vici. Com esse doblete na Ilha da Guanabara, separada apenas pela baia de Guanabara da cidade de São Gonçalo onde Vinícius Júnior cresceu, o garoto colocava seu nome na mapa do futebol e rebatia as críticas que ele já sofria, talvez por ser jogador do clube mais odiado do Brasil, talvez por ser negro, talvez por ser talentoso demais. Vinícius Júnior continuou a brilhar, humilhar adversários, fazer golaços, dentro e fora do campo. Mas também continuou até hoje a sofrer críticas e injustiças. Parabéns Vinícius, você é para nós o melhor do mundo e quando vai trazer o hexa, os antis não terão outra escolha a se curvar ao seu talento.








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