Estou agora de férias no Brasil e pensava escrever uma crônica em relação ao Flamengo sobre o mês inteiro no Rio de Janeiro. Porém, o jogo de ontem me obriga a mudar os planos e já escrever sobre nosso Flamengo.
Quando vou para o Brasil, geralmente escolho as datas em função dos jogos do Flamengo. Não foi diferente em 2024. Vi que entre outubro e novembro tinha a possibilidade de um Fla-Flu, meu clássico favorito no futebol, também tinha um jogo contra Juventude com mais facilidade para conseguir ingresso, também a eventualidade, comprei o voo quatro meses atrás, de um jogo da Copa Libertadores e da Copa do Brasil, acho que na época nem era para ser a final, mas uma semifinal ou quarta de final. Enfim, deu tudo errado na Copa Libertadores, deu muito certo na Copa do Brasil.
Eu me tornei sócio do Flamengo uma primeira vez em 2019, ano de glórias para o Flamengo com o Brasileirão e a Copa Libertadores, para ser um dos fundadores do consulado Fla Paris. Sendo estrangeiro, tive que usar um CPF fictício para conseguir. Quando cheguei ao Brasil em 2022 para morar um ano no Rio de Janeiro, minha conta de sócio-torcedor era invalidada por causa do CPF falso. Tive que criar outra conta, usando meu agora verdadeiro CPF e mais uma vez me tornei sócio, em 2022, outro ano de glória para Flamengo com a Copa do Brasil e a Copa Libertadores. Voltei na França e 2023 e quando o clube mudou os planos, parei de ser ST, sem perceber. Quando percebi, tentei me tornar de novo sócio, não consegui, entrei em contato com o SAC, que me falou que precisava de um telefone brasileiro para me tornar sócio. Um absurdo quando pensa que precisa ser sócio para criar um consulado ou embaixada no exterior.
Enfim, ainda não sócio, ou mais preciso, não mais sócio, consegui ingresso para o Fla-Flu e o jogo contra Juventude na Norte, meu lugar onde assisti 25 jogos do Flamengo em um pouco menos de um ano entre 2022 e 2023. Mas para o jogo da final contra Atlético Mineiro, sabia que será impossível conseguir um ingresso sem ser ST. Então, comprei um chip brasileiro e voltei a ser sócio do Flamengo em 2024, espero mais um ano de glória para o Flamengo, sem Copa Libertadores sim, com Copa do Brasil sim. Anotei a data e hora de abertura do meu plano para os ingressos, dei uma aula de francês no topo da Rocinha e em vez de voltar de pé, peguei um mototáxi para voltar mais rápido no meu quarto, no horário marcado. Voltei na hora, liguei o celular e o computador para não perder o momento, e não tinha mais ingresso na Norte, o que não foi surpresa para mim. Mas ainda tinha em outros setores, ainda era possível para mim assistir a uma segunda final da Copa do Brasil depois da edição vencedora de 2022.
Ainda tinha ingresso para a Este ou a Sul e fiquei na dúvida. Às vezes me decepcionei com o clima da Norte e a falta de apoio, e até cogitei assistir a um jogo na Sul, com menos torcidas organizadas, mas às vezes mais cantos. Era uma opção, até a mais barata. Outra opção era a Este. Eu vi pouco do Flamengo entre 2022 e 2023. Não que não estava aqui, bem ao contrário, porém quando eu vou na Norte, assisto ao jogo com a Fla Manguaça, nas últimas fileiras do Maraca, quase no teto. Mais bandeiras na frente de meus óculos e minha visão parcial, mais cantos e olhos para a torcida, e falto muitas coisas em campo. Assim, o ingresso na Este me permitia de aproveitar do clima do Maracanã, que talvez ia me decepcionar, achei que tinha faltado apoio da torcida na final contra o Corinthians em 2022, e por uma vez, ver bem o jogo entre dois grandes times, um jogo que podia ser jogaço em campo. Foi a opção escolhida, comprei o ingresso por 200 reais, já era sócio, e só faltava esperar o dia do jogo.
No domingo, comi uma feijoada na Rocinha e já fui em direção ao Maracanã, ou melhor no Bode cheiroso. Tempo para tomar uma cerveja só, mesmo com uma hora adiantado, estava nervoso como sempre antes de uma decisão e queria entrar o mais rápido possível no Maracanã. Um amigo até me zoou, perguntando se era eu que tinha a chave do Maracanã, mas era isso, fui lá, não meu lugar de sempre, mas na Este. Tempo de tomar mais uma cerveja e entrar na arquibancada, onde consegui um bom lugar para aproveitar da festa da torcida e do jogo em campo. A entrada dos times foi muito emocionante, até com lágrimas no meu rosto. Não é a primeira vez que choro no Maracanã por causa do Flamengo, mas é a última dessa temporada, volto na França na semana que vem e já é meu último jogo do ano no Maraca. Queria um final feliz.
Na Norte, tem um canto que eu gosto muito, entre aspas. Sempre estou ansioso para o minuto 10 e o canto para os garotos do Ninho. Quando estou na Norte, até espero não ter lances perigosos no momento para não atrapalhar o canto. Na Este, a empolgação é bem menor e quase não consegui cantar. O campo prevalece. Ainda mais aos 10 minutos e 50 segundos, quando Wesley se aproximou do gol do Atlético, deixou para Michael, para Gabigol, que chutou. Éverson defendeu, Arrascaeta chegou, cabeceou, abriu o placar. Alegria no céu, em campo e na arquibancada, um abraço para todos os irmãos desconhecidos flamenguistas perto de mim na Este, um gol para os garotos do Ninho, um gol para toda a Nação.
Mesmo com saudades da Norte e vontade de estar lá, adorei assistir ao jogo na Este, o clima era legal e consegui ver o jogo em melhores condições. Mas mesmo assim, achei que Gabigol estava impedido quando foi lançado no cara-a-cara com Éverson no final do primeiro tempo. Olhei para oo bandeirinha, que não levou, gol de Gabigol, mais um olho no juiz, ainda nada de impedimento, e uma explosão contida de alegria para mim. Tinha quase certeza que Gabigol era impedido e preferi esperar antes de ser feliz. Meu vizinho achava que Gabigol tinha esperado o momento certo para ficar em posição legal. E foi. O VAR mostrou gol legal, validou o lance, validou minha alegria. Agora uma explosão pura no Maracanã, uma certeza de felicidade no meu coração, mais abraços de minha parte para o idoso, o gordo, a mulher, o pai, o filho no colo com o braço quebrado, para todo flamenguista na Este, no Maraca, no mundo.
No segundo tempo, teve o que eu tremia, a torcida mais calma, que apoiava pouco, empurrava não suficiente. Flamengo precisava fazer a diferença em campo. E Michael roubou a bola, deixou para Gabigol, o predestinado. No momento, achei que foi lento na finalização, mas não, foi perfeito, de novo sem chance para Éverson, de novo no gol, de novo gol do Gabigol. Mais uma alegria para a Nação, talvez ainda mais para mim. Sempre fui fã do Gabigol e mesmo com uma (ou duas) temporadas ruins, queria acreditar na recuperação do Gabigol. Quando fez o gol do 6×1 contra o Vasco, no ápice da polêmica com a camisa do Corinthians, eternizei o jogo no dia seguinte, queria ver a volta do Gabigol, agora camisa 99. Não foi o caso, Gabigol ficou na reserva com Tite, mas ficou titular no meu coração. Para mim, é top 5 dos ídolos do Flamengo e nada vai apagar as duas Copas Libertadores que decidiu, e todas as outras finais em que fez gol. Até perdi a conta das finais com Gabigol decisivo.
Perdi a conta mas tem que acrescentar mais uma, a final da Copa do Brasil de 2024. E o canto “O Gabigol voltou” no Maraca foi icônico, cantei com toda minha voz, meus pulmões, meu amor. O jogo de volta não vai ser fácil e talvez o gol de Alan Kardec, que não impediu a festa no Maraca ou a alegria no meu coração rubro-negro, serve para alertar sobre o perigo do jogo em BH. Falta 90 minutos para ter um final de 2024 feliz, para ter o Flamengo campeão, para eu voltar na França, com tristeza no coração de deixar Rio, mas felicidade na alma, com um pensamento leve e profundo: o Gabigol voltou.








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