É apenas a terceira vez que eternizo uma derrota aqui. A primeira vez foi para homenagear Zagallo, olha a curiosidade, quando conquistou seu último título como técnico, apesar da derrota contra São Paulo. A segunda, uma briga e uma derrota lá no Uruguai, mas no final a classificação no caminho da Copa Mercosul de 1999. Hoje é diferente, o torcedor rubro-negro espera a derrota do próprio Flamengo.
A situação inusitada se explica com a situação aleatória do Fluminense. Campeão da Copa Libertadores no ano passado, Fluminense luta hoje contra o rebaixamento. E Flamengo, já classificado na Liberta, joga hoje contra Criciúma, rival do Fluminense nessa luta. A derrota do Flamengo ajuda Criciúma, afunda Fluminense, ajuda o próprio Flamengo, ou ao menos sua torcida. O Filipe Luís já deixou claro que Flamengo vai jogar para vencer, o que acho certo vindo do treinador. A torcida é diferente, pode esperar, desejar, até sonhar com a derrota, com o Flu na Série B.
Por incrível que parece, a situação já aconteceu no passado. No Brasileirão de 1996, Flamengo jogou na penúltima rodada contra Criciúma no Heriberto Hülse, olha a coincidência. Criciúma já lutava contra o rebaixamento e venceu 2×0, acabando com qualquer chance de Flamengo de ir nas quartas de final do Brasileirão. O campeonato acabava ali mas faltava um jogo, em casa, ou quase, contra Bahia. E Fluminense estava na zona de rebaixamento, com um ponto a menos que Criciúma e Bahia. E Bahia era justamente o último adversário de Flamengo, precisando da vitória para rebaixar o Fluminense, para fazer a alegria do torcedor rubro-negro.
Assim aconteceu uma cena bizarra para o último jogo, Flamengo jogando em casa no São Januário, já é estranho. O estádio vascaíno era quase vazio, com apenas 736 pagantes, mas tinha a presença de torcedores do Fluminense torcendo pelo Flamengo, de rubro-negros torcendo contra o próprio time. No 24 de novembro de 1996, Joel Santana escalou o Flamengo assim: Fábio Noronha; Fábio Baiano, Juan, Ronaldão, Gilberto; Fabiano, Pingo, Caíco, Iranildo; Romário, Marco Aurélio Jacozinho. Apesar da presença do Baixinho, era longe de ser o melhor time possível do Flamengo, para a alegria do torcedor rubro-negro.
Jogo começou “bem” entre aspas para o Flamengo, na metade do primeiro tempo, Fabiano fez falta dura e acabou expulso, deixando o Flamengo com apenas 10 jogadores em campo. Na arquibancada, desespero do torcedor tricolor, alegria e zoações do flamenguista, que até grita “vai Bahia”. E na Bahia, ao mesmo tempo, o Fluminense do técnico-jogador Renato Gaúcho fazia o papel dele depois de não fazer durante o campeonato todo, abria o placar contra Vitória, sonhava com a permanência.
No segundo tempo, com hora de jogo, Bahia aproveitou da apatia da defesa rubro-negra para abrir o placar com gol de Edmundo, não o Animal, mas um homônimo, um quase anônimo do futebol brasileiro, mais uma bizarrice desse jogo. No São Januário, alegria do torcedor rubro-negro, ainda mais quando 15 minutos depois, Fábio Baiano fez outra falta e também acabou expulso. Flamengo, com 9 jogadores em campo, desistia de vez da vitória, de salvar o Fluminense, ainda mais depois da vitória de Criciúma.
No final, vitória do Bahia no São Januário, grito de alegria do flamenguista, grito de desespero e choro do tricolor, rebaixado pela primeira vez. O Renato Gaúcho falou da “podridão” do futebol e foi o caso. A CBF aproveitou do caso Ivens Mendes para cancelar o rebaixamento e salvar o Fluminense, que passou por mais vergonhas e outros rebaixamentos até o final do século, para a alegria do torcedor rubro-negro.








Deixe um comentário