Ídolos #40: Silva Batuta

Ídolos #40: Silva Batuta

A segunda parte da década de 1960 foi um período de poucos títulos para o Flamengo. Mas mesmo assim, o Flamengo nunca foi carente de ídolos, sembre soube criar uma ligação de raça, amor e paixão com alguns de seus jogadores. Sem nenhuma dúvida, Silva Batuta foi um deles.

Wálter Machado da Silva nasceu no 2 de janeiro de 1940 em São Paulo, no bairro de Liberdade. Cresceu num família pobre e viveu dramas bem cedo. Aos 7 anos, seu pai morreu e 10 dias depois seu irmão também morreu. O ainda não Silva Batuta trabalhou ainda garoto e teve pouco tempo para se divertir. “O futebol não era muito presente na minha vida de garoto. Eu gostava de jogar, mas para me divertir. Não sonhava em ser jogador. Queria era ser militar” explica Silva na sua biografia escrita pelo Marcelo Schwob. Foi um dos únicos garotos brasileiros a não sofrer com a derrota da Seleção na Copa do mundo de 1950 e começou a jogar peladas no Nadir Figueiredo, time da fábrica de vidro onde trabalhava, e no Aristocrata, time de jogadores negros.

Um olheiro o levou para um teste no São Paulo. Apesar da vida difícil, Silva tinha estrela. Em 1957, assinou seu primeiro contrato profissional, com o acordo da mãe pois ainda era menor. Participou de alguns jogos do campeonato paulista e conquistou seu primeiro título num time que tinha como ídolos Mauro, De Sordi, Maurinho, Canhoteiro e claro, Zizinho, o Mestre Ziza. Silva jogava pouco e o técnico húngaro Béla Guttmann, que sabia tudo da bola, avisou os dirigentes: “Jamais cometam a loucura de vender este jogador”. Depois de um empréstimo no Batatais, Silva foi vendido no Botafogo de Ribeirão Preto. Em 3 anos, num time modesto, fez vários gols importantes e acabou vendido no Corinthians em 1962.

No primeiro ano, fez 28 gols em 30 jogos no campeonato paulista, números incríveis, insuficientes para ser artilheiro, Silva ficou atrás dos 37 gols de Pelé e dos 32 de Coutinho. Silva foi até comparado ao próprio Pelé no estilo de jogo. Infelizmente para ele, tinha o verdadeiro Pelé no Santos e Silva ganhou nenhum título com o Corinthians. Entrou em conflito com o técnico Oswaldo Brandão e fez seu último jogo no clube no final de 1964. Foi procurado por diversos clubes do Rio de Janeiro e finalmente foi transferido no Flamengo em maio de 1965. Na sua eterna coluna Na Grande Área, Armando Nogueira escreveu: “Pelo que vi em alguns jogos, acho que o rapaz vale um sacrifício. Do que lembro no Maracanã e no Pacaembu em jogos de expressão, esse Silva é dos melhores atacantes da nova geração paulista: incisivo, hábil, dinâmico, ótimo chutador e capaz de executar uma jogada de penetração que aprendeu evidentemente em Pelé”.

Na sua estreia no Flamengo, já mostrou que tinha alguma coisa de Pelé, que estava no lugar certo. No Minas Gerais, fez 2 gols, inclusive um golaço, e uma assistência. “Com a camisa do Flamengo, um dos mais bonitos foi em Ponte Nova contra o Primeiro de Maio, logo na minha estreia. Ganhamos por 5×1. Abri a contagem. Recebi uma bola na intermediária do adversário e fui avançando. Driblei três jogadores. Na área, antes que o goleiro tivesse tempo de esboçar a defesa, chutei no canto direito sem muita força” explicou depois Silva. No mês de julho do mesmo ano, chegou outro atacante vindo do futebol paulista, Almir Pernambuquinho, também comparado ao Pelé, até chamado de “Pelé branco”. Flamengo perdeu antes disso alguns ídolos, Gérson, Henrique Frade e Dida em 1963, Espanhol em 1964. A Nação tinha agora novos ídolos, carismáticos e decisivos. Falou Silva sobre Almir Pernambuquinho: “No Flamengo tive uma das mais agradáveis surpresas de minha vida: jogar com Almir. Grande companheiro, super inteligente e talentoso”.

Com a ajuda de Almir, chamado de “Careca” por motivos óbvios e a chegada do técnico argentino Armando Renganeschi no banco, Silva continuou a fazer gols, conquistou a torcida e ganhou novo apelido, Silva Batuta. Explica Marcelo Schwob no seu livro Silva, o Batuta: o craque e o futebol de seu tempo: “Na Gávea, Silva não parava de causar boa impressão com sua técnica, seus piques, cabeçadas e chutes de esquerda e direita, presença de área, além da precisão na cobrança de faltas e, acima de tudo, com sua liderança entre seus companheiros e pelo respeito que impunha aos adversários, que logo lhe traria o apelido criado pelo locutor Jorge Curi: O Batuta. Na verdade, o apelido teria surgido num jogo contra o Vasco em que Silva saíra contundido, mas ficou no banco de reservas de costas para o campo e de frente para a torcida para animá-la como se fosse um regente de orquestra”.

Silva Batuta também conquistou a imprensa, como a Revista do Esporte, que já em 1965 pediu sua convocação na Copa: “O futebol de Silva é sua carta de apresentação no escrete. As arrancadas de Silva tem entusiasmado a torcida do Flamengo. Silva sabe matar com muita classe uma bola no peito. Considerado um dos mais importantes reforços conseguidos pelo futebol carioca nos últimos tempos, Silva está crescendo como ídolo da torcida do seu time com suas atuações. Sua produção tem sido de tão boa qualidade que já se fala nele como futuro companheiro de Pelé na Copa de 66 na Inglaterra”. No segundo turno do campeonato carioca, fez o único gol do jogo contra Vasco para classificar Flamengo no turno final. Alias, foi um golaço na gaveta do goleiro Gainete, como descreveu o eterno Nelson Rodrigues: “Foi um tiro mortífero, tão inapelável, que o goleiro não esboçou um gesto, não exalou um suspiro, não piscou um olho. A bola já sairá dos pés de Silva com a predestinação das redes. O gol foi trabalho dele, intuição dele, imaginação dele […] Houve quem dissesse: ‘Silva não jogou nada!’. Só jogou três ou quatro segundos na jogada do gol. Exato. Só o perna de pau tem de se virar os 90 minutos. O craque, não”. No turno final, Silva fez mais um gol para levar o Fla-Flu e uma semana depois, Flamengo entrou em campo já campeão, graças à vitória do Fluminense sobre Bangu no dia anterior. Silva, artilheiro do Flamengo na campanha, foi eleito melhor jogador do campeonato com 37 votos, bem na frente dos 20 para Murilo.

Silva continuou a fazer gols em 1966, inclusive um hat-trick contra Fluminense, Almir Pernambuquinho fez o outro gol rubro-negro na vitória 4×1. Armando Nogueira viu um “Fla-Flu sem Flu” e o Jornal do Brasil escreveu sobre Silva Batuta: “Com uma atuação excelente contra o Flu, Silva consolidou sua posição de maior ídolo da torcida do Fla e para continuar assim, quer agora se transferir em definitivo para o clube”. Para começar o ano de 1966, Silva fez 10 gols em 14 jogos e logicamente foi na Inglaterra para a Copa do mundo. Fez 5 jogos na preparação, mas participou apenas do último jogo da Copa, quando o Brasil estava quase eliminado, e ainda se machucou durante o jogo. “A derrota na Copa de 66 foi uma das minhas maiores decepções no futebol. Havia muita desorganização. Algumas convocações foram políticas. Vários jogadores não tinham condição de jogo” explicou depois o Batuta.

No seu primeiro jogo de volta ao Flamengo, Silva fez o único gol da partida contra Vasco na Taça Guanabara. Flamengo chegou até a final do torneio, na época separado do campeonato carioca, mas apesar de mais um gol de Silva, perdeu contra Fluminense. No campeonato carioca, Flamengo venceu a final do primeiro turno, de virada contra Bangu, com gols de Silva Batuta e Almir Pernambuquinho, os dois ídolos da Nação. Dois dias depois, Flamengo estava em Avellaneda para um amistoso de prestígio contra a Seleção argentina. Depois da abertura do placar dos argentinos, Flamengo reagiu e buscou o empate. Escreveu Marcelo Schwob: “Gildo cobrou corner da direita, Almir saltou sem tocar na bola que chegou a Silva pela esquerda que mergulhou na bola num peixinho espetacular, colocando-a nas redes de Roma”. Assim, Silva Batuta começava a tocar música para os hinchas argentinos. No campeonato carioca, Silva fez 12 gols, alguns decisivos, mas Flamengo perdeu na final 3×0 sobre Bangu, jogo que ficou marcado pela briga generalizada iniciada pelo Almir. E pior, o Barcelona comprou o passe de Silva, Batuta não era mais do Mengo.

Na sua estreia no Barcelona, Silva fez 2 gols contra Botafogo no Torneio de Caracas, que vale mundial até para a diretoria do Botafogo, mas que não passa mais do que um torneio amistoso de prestígio, uma reclamação que apenas apequena o Botafogo. E Silva podia justamente jogar apenas os jogos amistosos no Barcelona, sem possibilidade de jogar no Espanhol. No Troféu Ibérico, Silva fez gol contra o Sporting e reencontrou em seguida Flamengo. O Mengão abriu o placar com gol de Fio Maravilha, que substituiu o Batuta em campo e nos corações dos torcedores rubro-negros. No final do jogo, um pênalti para Barcelona, Silva pegou a bola para cobrar, Jayme Valente indicou ao goleiro Marco Aurélio onde Silva iria chutar, sem realmente saber. Silva bateu, perdeu o pênalti e pediu sua saída do clube espanhol. Sem possibilidade de voltar ao Mengo, assinou com o Santos de Pelé.

Na sua estreia no Santos, Silva fez o gol da vitória sobre Guarani, aproveitando do passe de Pelé. Porém, com um estilo de jogo semelhante ao Pelé, teve que jogar fora da posição, mais como pivô. “No Santos existe Pelé e ninguém o tirará do pedestal. Lá eu fiquei por baixo” explicou Silva em 1970. Fez 11 gols em 19 jogos com Santos, mas jogou apenas a metade do campeonato paulista, suficiente para conquistar o torneio, também suficiente para pedir sua saída do clube. E finalmente o destino foi Flamengo, que teve um ano bem ruim em 1967 com apenas 22 vitórias em 70 jogos. E ainda antes da sua volta oficial ao Mengo, Silva Batuta não só falou, mas mostrou amor de verdade ao clube rubro-negro: “Para ser franco, eu sempre tive a intuição de que mais cedo ou mais tarde eu voltaria. Isso porque me sinto mais confiante e certo de ser ídolo quando estou na equipe do Flamengo. Gosto muito da confiança que a torcida tem em mim e da maneira como ela me recebe. Foi no Flamengo que atingi a minha melhor forma técnica e foi aqui que fiz muitos amigos. Nunca cheguei a me afastar do Flamengo, mesmo após vendido ao Barcelona. O Corinthians, que era dono do passe, fez tudo sem comunicar ao Flamengo e a mim. Nesse período, fiquei um pouco abatido, pois não sabia de fato a que clube pertencia, o que afetou minha forma física e técnica. Ainda bem que no Barcelona não fiquei muito tempo. Quando percebi a dificuldade de jogar na Espanha, por causa da lei dos estrangeiros, comecei a pedir aos dirigentes que me transferissem […] Ainda no Santos, quando percebi que o Flamengo tinha condições de pagar ao Santos e ao Barcelona, resolvi viajar algumas vezes para o Rio e apoiar o presidente Veiga Brito na negociação com o Barcelona”.

A reestreia de Silva no Flamengo foi um sonho, talvez até mais, uma coisa surreal. Primeiro jogo do Flamengo no Maracanã da temporada, mais de 86 mil torcedores no Maraca, goleada 5×1 contra o Cruzeiro de Tostão e Dirceu Lopes, 2 gols de Silva Batuta, um de canhota, outro de falta, geral cantando a samba “Voltei, aqui é o meu lugar” de Osvaldo Nunes. No intervalo, Silva, cansadíssimo, pediu sua substituição e se declarou mais uma vez ao Mengo: “Essa torcida me deixa maluco. Quando ela começa a gritar, sou até capaz de morrer em campo. É por isso que prefiro não voltar no segundo tempo. Sei que ainda não estou bem fisicamente e peço à torcida que tenha paciência para esperar a minha volta em melhor forma física. Juntos, vamos viver muitos momentos de plenitude. Nascemos um para o outro”. Quatro dias depois, entrou em campo contra Racing, campeão do mundo alguns meses antes contra o Celtic de Jock Stein, não impediu a derrota do Mengo, mas brilhou aos olhos dos argentinos.

Na reestreia no campeonato carioca, Silva Batuta fez o único gol contra Bangu. Dez dias depois, fez 3 gols e uma assistência na goleada 5×0 sobre São Cristóvão. Contra Campo Grande na Gávea, Silva perdeu um pênalti, mas fez o gol da vitória faltando 4 minutos para o final do jogo. Fez 2 gols na vitória 4×2 no Fla-Flu e fez os 3 gols do jogo contra Bonsucesso, virando artilheiro do campeonato com 11 gols. Porém, Batuta se machucou e faltou o final do campeonato, conquistado pelo Botafogo do Roberto, artilheiro com 2 gols a mais que Silva. Voltou para a estreia da Taça Guanabara, com gol sobre America e decidiu quase sozinho o Fla-Flu: vitória 2×1, 2 gols de Silva Batuta, o maestro, líder e artilheiro do Flamengo.

Flamengo partiu para uma excursão e jogou a terceira edição do prestigioso torneio Joan Gamper, organizado pelo Barcelona. Na estreia, Silva brilhou mais uma vez, fez o único gol do jogo contra o Athletic Bilbao, de uma bicicleta sensacional, uma jogada reservada aos craques, que lembrava mais uma vez Pelé. No dia seguinte, na decisão contra o Barcelona, mais um jogo eterno, mais um gol de Silva, infelizmente Flamengo perdeu a decisão por um placar incrível de 5×4. O time seguiu na África e jogou outro torneio prestigioso, a Copa Mohammed V no Marrocos. Na semifinal, Flamengo jogou contra o FAR de Rabat, time das forças armados do Marrocos e último campeão nacional. O placar era 1×1 quando Paulo Henrique cobrou um lateral rápido para Silva, que driblou um zagueiro e fez o gol. Na tribuna de honra do estádio Marcel Cerdan, o Rei Hassan II, filho de Mohammed V, não gostou e desceu no campo para mandar o juiz anular o gol. Ordem do Rei, dito e feito, o juiz voltou atrás. Palavra final para Silva, que fez o gol da vitória minutos depois, sem o Rei poder dizer nada.

Flamengo estava na final e jogava contra um adversário poderoso, o Racing argentino, último campeão mundial. E de novo Silva Batuta mostrou toda sua classe e seu repertório de mestre de futebol. Silva fez 2 gols na vitória 3×2 e deixou mais uma vez grande impressão para a imprensa argentina. De volta ao Brasil, Flamengo perdeu a final da Taça Guanabara contra Botafogo e no Torneio Roberto Gomes Pedrosa, ficou na penúltima colocação de seu grupo. Em 10 jogos, Silva, que jogava mais recuado em campo, não fez nenhum gol e foi criticado pela torcida, sempre exigente mesmo com seus maiores ídolos. Sem dinheiro para comprar o passe ao Barcelona, Flamengo deixou sair Silva Batuta, que fez seu último gol com o Manto Sagrado no início de 1969, no Suriname contra Robin Hood.

A destinação para Silva foi a Argentina e o Racing, contra quem já tinha brilhado com o Manto Sagrado. Na Argentina, o Batuta fez jus às comparações ao Rei Pelé, fez seu primeiro gol no seu segundo jogo no clube, voltou ao Maracanã para um amistoso contra Flamengo, voltou a marcar, agora contra Flamengo. Na Recopa Sudamericana de 1968, Silva fez 2 gols contra o Santos de Pelé, mas não foi suficiente, o Peixe venceu 3×2. No ano seguinte, Silva voltou a fazer doblete contra o Santos, ainda com Pelé em campo, que tinha feito 10 dias antes o gol 1.000, e agora o Batuta saiu com a vitória 2×1. Porém, o Racing perdeu o jogo decisivo contra Peñarol e deixou escapar o título. No campeonato argentino, o time de Avellaneda foi surpreendentemente eliminado na semifinal contra Chacarita, mas Silva foi artilheiro do campeonato metropolitano com 14 gols. Até hoje, Silva Batuta é o único brasileiro a ter sido artilheiro do campeonato argentino. Em 1981, uma enquete de El Gráfico o colocou como oitavo maior jogador da história do clube.

Criticado por suas idas e voltas ao Brasil, Silva voltou definitivamente no Rio, agora no Vasco, que não vencia o campeonato carioca desde 1958. Claro, Silva voltou a fazer seus gols, mas não foi convocado para a Copa do mundo de 1970, Zagallo preferindo o botafoguense Roberto Miranda. Semanas depois, fez o único gol do jogo contra Flamengo, que tirou o rubro-negro da luta para o título. Ainda no Maracanã, Silva abriu o placar contra Campo Grande e fez 2 gols contra o America. No jogo do título, Vasco venceu o Botafogo de Zagallo e colocou fim a um jejum de 12 anos. Artilheiro do time cruzmaltino com 10 gols, Silva comemorou: “Vencemos porque jogamos com fibra, com amor e paciência nos momentos difíceis. Porque nós todos fomos amigos: jogadores, técnicos e dirigentes”.

A temporada de 1971 foi mais difícil para Silva, que foi emprestado ao Botafogo, mas lá também teve pouco espaço. Voltou no Vasco onde fez dupla com o gênio Tostão, estreando num empate 2×2 contra Flamengo. Escreveu Marcelo Schwob: “O primeiro gol (12 minutos), o mais bonito da partida, já mostrava o entendimento natural do ataque do Vasco. Tostão foi à ponta esquerda, driblou seu marcador e cruzou de forma precisa para Silva, que chutou com precisão e fez”. Fez 13 gols em 1972 e depois passou por Colômbia, Rio Negro e Venezuela. E assim acabou melancolicamente a carreira de um dos maiores atacantes de sua época. Fala o próprio Batuta: “A polícia passava, pedia documentos e mandava colocar as mãos na cabeça. Devo ter feito mais de dez jogos em 3 meses. As viagens eram de ônibus em estradas ruins e com precipícios. Um perigo só. E tinha assalto no caminho! Ao mesmo tempo, jogando eu sentia o peso da idade. Eu já estava começando a respeitar os beques… Senti que era hora de parar. Na época da Copa do Mundo de 1974, pensei naquilo tudo. Era demais. Eu já tinha sido jogador de seleção. Tinha disputado uma Copa. Estava longe da família. Não merecia aquilo e tinha minha família me esperando. Já tinha alguns meses nesse sofrimento e decidi simular uma contusão e voltar para o Brasil. E nunca mais voltei”.

Depois da carreira, Silva trabalhou nas divisões de base do Flamengo e até tentou ser advogado. Ainda Silva: “Cheguei a fazer estágio num escritório de advocacia, mas acabei não seguindo este destino e deixei a profissão. Preferi voltar às origens. Sou apaixonado pelo Flamengo. Então, resolvi dar expediente de novo aqui”. Batuta era isso, uma história de amor recíproco com o Flamengo, até seus filhos, Waltinho e Wallace, jogaram no Flamengo. Silva fez grandes duplas, com Rivelino no Corinthians, Almir no Flamengo, Pelé no Santos, Tostão no Vasco, mas sua maior dupla foi ele mesmo com o Manto Sagrado. Mesmo depois de parar definitivamente de tocar musica, Silva nos deixou em 2020 aos 80 anos, foi um exemplo da paixão rubro-negra. Não importa os gols, 69 para Silva, os jogos, 132 para Silva, os títulos, o campeonato carioca de 1965 como destaque para Silva, tem com alguns jogadores, como Silva, como Almir e tantos outros, uma coisa a mais, uma coisa impalpável mas implacável, uma coisa entre o jogador e a torcida, que, como falou o Batuta na sua volta ao clube, “nasceram um para o outro”.

Uma resposta para “Ídolos #40: Silva Batuta”.

  1. Avatar de Jogos eternos #251: Flamengo 2×1 Bangu 1966 – Francêsguista, as crônicas de um francês apaixonado pelo Flamengo

    […] da cidade de Rio de Janeiro, Flamengo contratou uma dupla de atacantes carismáticos e habilidosos, Silva Batuta e Almir Pernamquinho. Depois de passar no Sport, Vasco, Corinthians, Boca Juniors e na Itália, […]

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”