Em cada lugar do Brasil, tem ao menos um flamenguista. Tem em cada canto, no Norte e Nordeste para as regiões, Minas Gerais e Paraná para os estados, e muitos outros. Mas talvez, provavelmente, o estado, fora do Rio de Janeiro, que respira mais o Flamengo é Bahia. E hoje, 8 de janeiro, faz 76 anos que se jogou o primeiro Fla-Flu na Bahia, em Salvador.
Flamengo é diferente, é o time pode dizer do povo, da massa, da nação, é o time do brasileiro. Começou a conquistar o brasileiro não fluminense, fez sua primeira excursão em 1914 no Paraná, foi jogar em São Paulo em 1915, conheceu o Nordeste em 1925 com uma excursão no Pernambuco. E o Fla-Flu é o clássico brasileiro mais conhecido, mais mítico, fora do Brasil. Se jogou em 13 diferentes estados do Brasil, até se jogou na Espanha. O primeiro Fla-Flu fora do Rio de Janeiro aconteceu em 1942, um 0x0 no Pacaembu de São Paulo. Em 1947, outro Fla-Flu fora do Rio, outro empate, agora 1×1, em Recife. “Ninguém pode duvidar do prestígio que este clássico goza no seio da torcida guanabarina e dos estados. E como prova flagrante, insofismável, está aquela enorme massa de povo que se acotovelou para presenciar o embate entre estes dois titans do esporte nacional” escreveu na época o Jornal Pequeno. E dois anos depois teve outro Fla-Flu, até outros Fla-Flus, no Nordeste.
No início de 1949, Flamengo voltou mais uma vez no Nordeste e continuou a conquistar o povo, o brasileiro. Voltou em Fortaleza, que tinha descoberto um ano antes quando jogou contra os maiores times da cidade, Ceará, Ferroviário e Fortaleza. Em 1949 no Ceará, teve Fla-Flu e apesar de um gol do (então) ídolo rubro-negro Jair Rosa Pinto, teve goleada do Fluminense, 5×2 com 4 gols de Simões. Dois dias depois, teve outro Fla-Flu no Nordeste, agora na Bahia.
Flamengo conhecia bem a Bahia e Salvador, foi lá pela primeira vez em 1932, quando o futebol ainda era amador. Durante anos, Flamengo fez magia goleando os dois grandes times de Salvador, 7×2 contra Vitória em 1932, 5×2 contra Bahia em 1938, 7×2 contra Bahia em 1946, 5×2 contra Vitória em 1947. Flamengo sempre foi vitorioso na Bahia, conquistou o povo baiano e jogou mais uma vez em 1949, agora contra o rival mais conhecido, também carioca, Fluminense. No 8 de janeiro de 1949, o técnico Kanela escalou Flamengo assim: Doly; Norival, Newton Canegal; Biguá, Modesto Bria, Jaime; Luisinho, Durval, Gringo, Jair Rosa Pinto, Hélio. Destaque para a famosa linha “Biguá, Bria, Jaime”, quase um mantra, um poema, uma oração, que ofereceu ao Flamengo o primeiro tricampeonato carioca entre 1942 e 1944.
Uma palavra também para o técnico rubro-negro, Kanela, talvez, provavelmente, o maior técnico brasileiro da história do basquete. Para afirmar isso, basta dizer os títulos de Kanela: com a seleção nacional, bicampeão mundial 1959 e 1963, duas medalhas de bronze nos Jogos Olímpicos de 1960 e 1963 e com Flamengo 12 campeonatos estaduais, inclusive um dedacampeonato carioca entre 1951 e 1960. Com todo merecimento, deu seu nome ao ginásio do Flamengo na Gávea. Porém, Kanela começou sua carreira como técnico de futebol, inclusive foi ele que reposicionou o meio-campista Domingos na zaga quando jogava no Bangu. No final de 1948, Kanela estreou como técnico do Flamengo, já num Fla-Flu, já com vitória, na época na Gávea.
No início de 1949, o Fla-Flu aconteceu em Salvador, no estádio de Graça, maior estádio de Bahia antes da inauguração da Fonte Nova em 1951. A torcida baiana via mais uma vez Flamengo de perto e agora não tinha dúvida. O adversário não era Bahia, Vitória ou outro time baiano, era Fluminense. Agora não tinha nada de misto, só tinha uma opção, torcer pelo Flamengo, amplamente e plenamente. E para a alegria da torcida no Graça, o Fla-Flu foi apenas Fla. O rubro-negro venceu 5×0 com 2 gols de Durval, nordestino de Alagoas que fez 123 gols em 132 jogos no Flamengo, 2 gols de Hélio, carioca que fez 58 jogos no Flamengo entre 1946 e 1952, e um gol de Gringo, outro nordestino perto da Bahia, no Sergipe. Flamengo goleava e vencia a Taça Câmara Municipal de Salvador, oferecida pela Câmara, mais uma prova da importância do futebol.
Só não foi a maior goleada da história do Fla-Flu porque em 1945 Flamengo derrotou Fluminense por 7×0 no São Januário. Mas em 1949, sem Maraca mas com rádio, o palco era Graça, Fluminense ficou sem graça, e a torcida baiana conhecia mais uma vez a graça, a alegria, a benção de torcer para o Flamengo, o maior do Brasil, a paixão do Nordeste.








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