Morreu ontem o grande jornalista Léo Batista, aos 92 anos, num domingo, dia de futebol, dia de gols do Fantástico. Léo Batista teve mais de 70 anos de carreira profissional, ainda participando recentemente de um programa da Globo. Para mostrar sua longevidade, basta lembrar que ele narrou a estreia de Garrincha no Botafogo, em 1953. Foi o primeiro jornalista a anunciar o suicídio do presidente Getúlio Vargas em 1954 e 40 anos depois, deixou um país inteiro órfã, anunciando a morte de Ayrton Senna. Léo Batista fez parte da história do futebol brasileiro, do esporte, do Brasil em geral.
Eu, como historiador de futebol, procuro de forma cotidiana jogos antigos de futebol. Muitas vezes, fui no YouTube para ver os gols de jogos marcantes ou não tão marcantes e, mesmo antes de conhecer o nome dele, numa época já distante, eu vivia esse rosto tranquilo e amigável, ouvia essa voz marcante. Para mim, era isso Léo Batista, dois programas marcantes, os gols do Fantástico, para a atualidade que vira arquivo com o tempo, de 1974 até 2007 para Léo Batista, e Baú do Esporte, para voltar aos jogos históricos, já eternizados, ainda lembrados. Antes de criar Francêsguista, criei um outro blog com o mesmo objetivo de lembrar jogos eternos, times históricos e ídolos, mas sobre o futebol brasileiro de uma forma mais geral. Tanto Gols do Fantástico como o Baú do Esporte foram fontes preciosas de informações. E o nome de meu blog, já querendo informar que eu era francês, foi “Baú Francês”, nome parecido (ao menos na minha cabeça) a pão francês, mas também uma homenagem ao programa Baú do Esporte, que já fazia o que eu queria fazer.
Vamos então para hoje a uma matéria do Baú do Esporte dos anos 2000, e como Léo Batista era torcedor apaixonado do Botafogo, vamos para um Flamengo x Botafogo de 1979, um ano histórico no Francêsguista. No início do ano, teve um campeonato carioca especial, separado do campeonato estadual que aconteceu no final do ano. Na matéria, Léo Batista lembra que, para a última partida do campeonato, Flamengo entrou já de faixas de campeões, para enfrentar Botafogo, e a novidade do Maraca era o placar eletrônico, que marcou uma geração inteira. Na frente de 158.477 espectadores, Zico fez dois gols, mas Botafogo chegou ao empate e “deu uma leve carimbada na faixa rubro-negra”. Mesmo assim, Flamengo conquistou o campeonato de maneira invicta.
E Flamengo continuou a não perder, até chegar aos 52 jogos invictos, igualando o recorde de Botafogo, estabelecido um ano antes. E o próximo adversário do Flamengo foi justamente Botafogo. E a matéria lembra, Flamengo perdeu 1×0, gol de Renato Sá, ele que já tinha colocado um fim à série do Botafogo em 1978 quando jogava no Grêmio. Eu não tinha nascido mas é uma frustração para mim de Flamengo não ter conseguido bater o recorde, em cima do próprio Botafogo. Provavelmente foi um alívio para Léo Batista. A matéria da Globo esqueceu, no segundo turno, outro Botafogo x Flamengo, Renato Sá abriu de novo o placar, mas Flamengo virou, se vingou, ganhou com doblete de Cláudio Adão.
No terceiro turno, Flamengo precisava de um empate na última rodada em cima do Botafogo para ser campeão. Em caso de derrota, tinha um triangular final com Vasco e Botafogo. E Flamengo jogava sem seu maior astro, Zico, machucado em razão do excesso de jogos, foram 70 jogos em 1979 com Flamengo, mesmo faltando um mês de competição. No 4 de novembro de 1979, para completar o tricampeonato carioca, Cláudio Coutinho escalou Flamengo assim: Cantarele; Toninho, Rondinelli, Manguito, Júnior; Andrade, Paulo César Carpegiani, Adílio; Reinaldo, Júlio César, Cláudio Adão.
O jogo foi equilibrado, com maior oportunidade de gol para Adílio, de camisa 10, que chutou na entrada da grande área, mas o goleiro Borrachinha tirou a bola da gaveta. Léo Batista lembrou que Renato Sá, herói de outro Flamengo x Botafogo, acabou expulso pelo folclórico e polêmico José Roberto Wright, apesar da reclamação do lateral Vanderlei Luxemburgo, na época Wanderley, que pendurou as chuteiras no Botafogo depois de passar quase toda a carreira no Flamengo. Tantos personagens históricos, lembrados pelo Batista… No final, sem fazer gol, sem tomar também, Flamengo buscou o empate que precisava para ser campeão pela 20a vez, para ser tricampeão pela terceira vez, e beber “o tradicional chope na Gávea, embalado pelo som da Charanga” como concluiu a matéria Léo Batista. Com programas assim, com grandes jornalistas como Léo Batista, a história, do Flamengo em particular, do futebol brasileiro em geral, segue viva, e pequenos escritores como eu, podemos pesquisar, escrever sobre nossa paixão, coberta pelo Léo Batista durante mais de 7 décadas, marcando não só uma geração, mas gerações inteiras. Pode descansar em paz eterno Léo, porque, como você falou na hora da morte de Pelé e Zagallo, “só morre de verdade quem nunca mais é lembrado”.








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