Jogos eternos #247: Corinthians 0x3 Flamengo 1999

O jogo eterno de hoje é de um lance só. Há pouco, nas vésperas da Supercopa do Brasil contra o Botafogo, escrevi sobre o 4×4 no Torneio Rio – São Paulo, uma chuva de gols com um duelo de artilheiros entre Romário e Bebeto, cada um marcou um gol. Em seguida, Flamengo venceu na competição hoje extinta o Corinthians e perdeu contra o São Paulo. Em ambos os jogos, Romário passou em branco. Mais letal que Romário, é um Romário que não marcou no jogo precedente. Dois jogos então, nem fala. Hoje é um jogo de 2 gols do Baixinho, mas de um lance só.

Com 4 pontos em 4 jogos, Flamengo precisava de um milagre para se classificar na semifinal do Torneio Rio – São Paulo. E o adversário era poderoso, tinha sido algumas semanas antes campeão brasileiro, vencendo Cruzeiro na final, depois de um jogo desempate, com gols de Edílson e Marcelinho Carioca. Os dois craques estavam novamente em campo para enfrentar Flamengo no Pacaembu, depois de ameaçar de não jogar por falta de pagamentos do Corinthians. No 7 de fevereiro de 1999, o técnico Evaristo de Macedo escalou Flamengo assim: Clemer; Pimentel, Ronaldo, Fabão, Athirson; Jorginho, Vagner, Beto, Iranildo; Leandro Machado, Romário.

Aos 4 minutos, Romário salvou uma bola da lateral e fez o passe atrás para Pimentel, que cruzou. De primeira, Leandro Machado voleiou no travessão, bola voltou nos pés de Beto, que mandou a bola no fundo das redes. Mas esse jogo não é um jogo de 3 gols, é um jogo de um lance só. E menos de dois minutos após o gol de Beto, o lance eterno. Romário recebeu no lado esquerdo, entrou na grande área, marcado por Amaral, que sabia do perigo, só não sabia como o evitar. Vinte anos depois, com sua resenha e humildade de costume, Amaral lembrou o lance para GloboEsporte: “Olhei para a bola, só que parecia um foguete, a bola foi pra lá e voltou. Eu fui atrás da bola e na hora que voltei, Romário já tinha passado. E eu: ‘pelo amor de Deus, não faz o gol, não faz o gol’”. O drible era desconcertante, inesquecível, mas precisava do gol para se tornar eterno. E claro, Romário fez. “Quando o goleiro saiu, qualquer bola por cima acaba entrando. Esse lance é um dos gols mais bonitos que eu fiz na minha carreira” explicou o artilheiro.

É um dos gols que mais assisti na minha vida. Do Flamengo tem poucos gols que assisti mais, talvez só o gol de Pet contra Vasco e o gol de Gabigol no Milagre de Lima. Tem o instinto do driblador, a pureza do elástico, talvez o drible mais emblemático do futebol brasileiro. E claro, o instinto do artilheiro, a beleza no toque leve para transformar a jogada numa pintura. Também, o lance não teria sido tão emblemático sem o defensor, Amaral, que sempre levou na boa as zoações, colocou mais risadas num futebol ainda raiz, alegre e bonito. O drible foi tão foda que até pegou o grande zagueiro corintiano Gamarra, que fazia a cobertura e caiu um pouco no drible de Romário. O “gol elástico no Amaral” fica no meu top 3 de gols do Baixinho, talvez com o gol contra o Uruguai em 1993 e no 5×0 contra o Real Madrid, pela importância dos jogos. Ou seja, apesar de muitos golaços de Romário com o Manto Sagrado, alguns já eternizados aqui, contra Gama, Coritiba e o Atlético Mineiro em 1998 ou a Ponte Preta em 1999, o “gol elástico no Amaral” é meu gol favorito do Baixinho no Flamengo.

O jogo contra o Corinthians era de um lance só, não importava o final, mesmo que Flamengo ganhou 3×0 com tranquilidade. No início do segundo tempo, Vagner acelerou no meio da defesa e achou Romário, que fintou, driblou o goleiro e mesmo num ângulo fechado, achou o caminho do gol. Em qualquer outro dia, seria um golaço, mas Romário já tinha deixado sua marca de gênio num lance anterior, eternizando o jogo com um lance só.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”