Jogos eternos #254: Flamengo 5×1 Bangu 1955

O Carnaval de Rio de Janeiro se aproxima e Flamengo busca o bicampeonato depois de conquistar o campeonato carioca de 2024. Setenta anos atrás, o bicampeonato já era uma realidade. No início de 1955, o Rolo Compressor derrotou Vasco e conquistou o campeonato carioca de 1954. Para o último jogo do campeonato, contra Bangu, o clima era de festa só.

E a festa começou antes do jogo, antes da entrega das faixas, com o primeiro desfile de uma escola de samba no Maracanã. E o destino quis que a escola foi minha favorita, a Mangueira. Não tenho a mesma paixão pelo Carnaval que sinto pelo futebol, mas se eu sou torcedor de uma escola de samba, é da Mangueira. Não sei se é por causa das cores, por causa de uma coisa que tenho na minha alma, mas é a Mangueira. E neste dia, no Maracanã, tinha o futebol e a samba, o Flamengo e a Mangueira juntos, duas paixões do brasileiro.

Uma semana antes, a Mangueira perdeu por muito pouco, apenas dois pontos, o Carnaval, ficando atrás do campeão Império Serrano. No seu livro Almanaque do Flamengo, Roberto Assaf escreve: “No dia 27 de fevereiro, o Maracanã, pela primeira vez em cinco anos de história, serviu de palco para o desfile de uma escola de samba. A Estação Primeira de Mangueira apresentou-se antes do jogo de entrega das faixas aos campeões cariocas de 1954. A verde-e-rosa evoluiu ao som do enredo As Quatro Estações do Ano, de Alfredo Português, Jamelão e Nélson Sargento […] A torcida lotou boa parte do estádio e cantou sucessos do Carnaval encerrado havia cinco dias, especialmente Maria Escandalosa, de Klécius Caldas e Armando Cavalcanti. Agitando as arquibancadas estava o folclórico torcedor conhecido como Capitão Mengo, que fundara o bloco carnavalesco Regimento Rubro-Negro, e que durante a folia daquele ano lançara a marchinha Quero tricampeonato, na qual homenageava o presidente do clube, Gilberto Cardoso, e o técnico do time, Fleitas Solich. ‘Doutor Gilberto quero tricampeonato / Mister Solich quero ser tricampeão / 42, 43, 44 / imitando, é uma boa imitação / Mengo tu és o maior, Mengo, tu és do farol / ser Flamengo é viver num desacato / ser Flamengo, como o Capitão’, dizia a letra”.

A Mangueira desfilou no Maraca na frente da Miss Brasil, Martha Rocha, que, como a escola de samba, perdeu por muito pouco uma eleição, da Miss Universo 1954. A história virou outra marchinha de Carnaval, composta por Pedro Caetano, Alcyr Pires Vermelho e Carlos Renato, que alegaram que “Por duas polegadas a mais / passaram a baiana pra trás / por duas polegadas / e logo nos quadris / tem dó, tem dó, seu juiz!”. Ao lado da Martha Rocha, as famosas atrizes americanas Elaine Stewart e Ginger Rogers, e o prefeito do Rio de Janeiro, Alim Pedro, assistiram ao desfile, com participação de atletas de várias modalidades do Flamengo. “Não pode se dizer que tenha sido uma festa organizada, mas foi uma festa tipicamente rubro-negra, em que prevaleceu a espontaneidade das manifestações” escreveu o jornal O Cruzeiro. Apenas faltava a vitória – quem sabe a goleada, do Flamengo para ter uma festa completa.

No 27 de fevereiro de 1955, o técnico paraguaio Fleitas Solich escalou Flamengo assim: Garcia; Tomires, Servílio; Luís Roberto, Dequinha, Jadir; Rubens, Paulinho, Índio, Evaristo de Macedo, Benítez. E depois do show do pré-jogo, deu show em campo, deu goleada do Mengo. Contra Bangu, o quarteto ofensivo, apoiado por um Rubens já em conflito com Fleitas Solich, deixou sua marca, com um gol para cada atacante: Benítez, Paulinho, Índio, Evaristo de Macedo. Destaque para Índio que fazia seu 18o gol do campeonato, insuficiente para tirar a artilharia do botafoguense Dino. Edson fez gol contra, e Calazans, irmão do ídolo banguense Zózimo, descontou para Bangu. No final, goleada 5×1 do Mengo e alegria na geral. O Maracanã vibrava com o Flamengo, cantava um Carnaval que não acabava nunca.

No livro Maracanã, da tragédia à glória, Sérgio Leitão escreve: “A festa rolou até de madrugada. Nas arquibancadas, o ‘Samba Rubro-Negro’, grande sucesso do compositor Wilson Batista, era cantado a plenos pulmões pela galera”. Para a última marchinha da crônica, não posso deixar de lembra a letra: “Flamengo joga amanhã / eu vou pra lá / vai haver mais um baile, no Maracanã / o Mais Querido / tem Rubens, Dequinha e Pavão / eu já rezei pra São Jorge / pro Mengão ser campeão”. Era um dia de felicidade no Maracanã, lá tinha a imortalidade do Mengo, mais uma vez campeão, ao som da Mangueira, da beleza da música brasileira, da alma do povo brasileiro.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”