Jogos eternos #259: Flamengo 2×1 Fluminense 1965

Flamengo e Fluminense se enfrentaram mais uma vez na final do campeonato carioca. Dos últimos 6 decisões do campeonato carioca, foram 5 vezes o Fla-Flu, sendo que em 2024 teve Fla-Flu na semifinal. Mas há mais de 100 anos que o Fla-Flu move a cidade, comove o torcedor. O Fla-Flu foi final, foi decisão, foi jogo decisivo. Hoje é uma final, porém ainda sem campeão no fim dos 90 minutos. Em 1965, tinha outro Fla-Flu, com Flamengo perto do título, ainda sem poder erguer a taça, exibir a faixa.

O campeonato carioca de 1965 era especial antes do apito inicial, era o campeonato do quarto centenário de Rio de Janeiro. Para tentar conquistar o título, o 15o de sua história, Flamengo contratou uma dupla de atacantes vindo do futebol paulista: Silva Batuta e Almir Pernambuquinho. Flamengo tinha a concorrência dos tradicionais, Vasco, Botafogo, Fluminense, mas foi Bangu que foi o melhor, aplicando até um 3×0 no Flamengo que ainda era invicto até aqui. Flamengo se recuperou com vitória 1×0 sobre Vasco, gol de Silva Batuta, outro sucesso 1×0 contra Bonsucesso, outro gol de Silva Batuta. “Amigos, eu costumo escrever que cada brasileiro já foi rubro-negro em alguma encarnação passada. Pensei nisso quando o Silva se rebelou contra o empate premeditado. E ao impacto do ‘goal’, vi torcedores de outros que viraram súbitos rubro-negros” escreveu Nelson Rodrigues depois do gol de Silva contra Vasco.

O campeonato do IV Centenário se decidia entre Flamengo e Bangu. Fluminense só podia atrapalhar, jogando contra Flamengo na penúltima rodada e contra Bangu na última rodada. No 12 de dezembro de 1965, para o 202o Fla-Flu da história, o técnico argentino Armando Renganeschi escalou Flamengo assim: Valdomiro; Murilo, Ditão, Jayme Valente, Paulo Henrique; Carlinhos, Fefeu; Neves, João Daniel, Silva Batuta, Rodrigues. Uma palavra para o técnico Armando Renganeschi, que participou, com a camisa do Fluminense, do famoso Fla-Flu da Lagoa de 1941, eternizado pelo Mário Filho.

No Maracanã, com mais de 62 mil pagantes, Flamengo começou melhor o Fla-Flu. Teve gol perdido de Silva Batuta, gol mal anulado de João Daniel. Pouco depois, Neves aproveitou de uma falha do goleiro tricolor Édson Borracha para abrir o placar. Porém, Flamengo ficou na frente apenas 4 minutos, Samarone empatou aos 16 minutos do primeiro tempo com belo gol. E o Fla-Flu foi decidido já no primeiro tempo, para o rubro-negro. O Jornal do Brasil escreveu: “O gol da vitória foi marcado por Silva, aproveitando um cruzamento de Murilo, na marca do pênalti, depois de matar no peito, levar vantagem com Valdez, que desequilibrou-se, e vencer Édson com chute rasteiro e indefensável”.

Além do golaço, Silva jogava uma maravilha, como homenageou o grande Armando Nogueira: “Trata-se de um atacante que demonstra em cada movimento, em cada jogada, o mais puro senso de futebol coletivo, não se permitindo nunca se sobrepor ao conjunto com filigranas ou dribles desnecessários. Domingo pude observar uma vez mais como é prático o futebol de Silva: ele sai da área para receber a bola em zonas vazias, toca a bola de primeira, insinua-se para a finalização, tudo isso feito com grande realismo e aplicação, sem desperdício, nem de energia, nem de tempo”. Silva Batuta era o herói do Fla-Flu, quase do campeonato, quase nas mãos do Flamengo, que precisava de um empate contra Botafogo para ser campeão.

E nem precisou. No dia anterior da decisão, agora com grande jogo do goleiro Borracha, Fluminense derrotou Bangu, ofereceu o título ao Flamengo. Um final feliz depois de um grande Fla-Flu, ao menos de um grande Flamengo. “Nesse Fla-Flu, só o Flamengo existiu e o Tricolor foi paisagem” escreveu o tricolor Nelson Rodrigues. Um Fla-Flu que seria considerado final para os tricolores caso vencessem, que não é para nós, nem é decisão, só jogo decisivo. Afinal, o mais importante era isso, Flamengo campeão do Rio, campeão do IV Centenário.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”