A decisão do campeonato carioca de 2025 entre Flamengo e Fluminense é o quinto capítulo das finais do campeonato desde 2020. Deu Flamengo em 2020 e 2021, deu Fluminense em 2022 e 2023. Empate. No retrospecto geral, com os dois times chegando na decisão como possibilidade de conquistar o título, Fluminense lidera com 7 troféus contra 6 para o Flamengo. Hoje, com a vitória 2×1 na ida, Flamengo precisa de um empate para ser campeão e igualar Fluminense no retrospecto entre os dois times, segundo a imprensa e a própria federação carioca, não importa a reclamação dos tricolores.
Em 2020, primeiro dos 5 capítulos, Flamengo também venceu 2×1 na ida, também podia igualar Fluminense nas decisões, na época para um 5×5, também podia buscar o bicampeonato. Era a época difícil do Covid, o campeonato foi paralisado em março e voltou 3 meses depois, com portões fechados. Campeão da Taça Guanabara, Flamengo perdeu a decisão da Taça Rio nos pênaltis, contra o próprio Fluminense. No jogo de ida da final, Flamengo venceu 2×1, com gols de Pedro e Michael, dois reservas habituais. A titularidade de Pedro para o jogo de volta era definida, já que Gabigol foi expulso no final do jogo. Assim, no 15 de julho de 2020, o técnico Jorge Jesus escalou Flamengo assim: Diego Alves; Rafinha, Rodrigo Caio, Léo Pereira, Filipe Luís; Willian Arão, Gerson, Arrascaeta; Éverton Ribeiro, Bruno Henrique, Pedro.
A primeira flecha do jogo foi do Mengo, Arrascaeta fez o passe na profundidade, Bruno Henrique driblou o goleiro, mas não teve tempo de chutar. Na sequência, Pedro, ainda de camisa 21, chutou para fora. Fluminense reagiu com dois chutes, mais depois, foi só Flamengo ou quase. Willian Arão chutou de longe, Léo Pereira chutou fraco, Pedro chutou sem espaço, Arrascaeta chutou para fora. Flamengo dominava, dominava, mas não fazia o gol. No final do primeiro tempo, Pedro quase fez o golaço. Num passe na profundidade de Éverton Ribeiro, Pedro fez um domínio absurdo e chutou cruzado, mas bola flirtou apenas com a trave. Seria um dos gols mais bonitos das finais do campeonato carioca, pela beleza plástica do domínio, pelo instinto do artilheiro.
Porém, no intervalo ainda era 0x0 e apesar de uma bela cobrança de falta de Gerson, o segundo tempo ficou mais morno. Flamengo tinha a vantagem, mas não conseguia assegurar o placar, a taça. Esse roteiro matou muitos times. O Flamengo não. Não posso me reprimir de citar mais uma vez o grande escritor tricolor Nelson Rodrigues: “Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E, diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável”. Mesmo com um Maracanã vazio, vestido apenas de bandeiras nas arquibancadas, o peso do Manto Sagrado valia mais.
No tempo adicional, Michael inflamou o jogo com dribles e conseguiu um escanteio. O franzino camisa 19 tinha fogo nas pernas, até subiu nas costas de Hudson num lance insólito. Michael ainda tentou uma bicicleta, sem conseguir pegar perfeitamente a bola. E no final do final, chegou a hora do Manto Sagrado, chegou a hora do título. Egídio saiu mal a bola, Vitinho, que entrou em campo pouco antes, recuperou e chutou. Com a ajuda de São Judas Tadeu, a bola foi desviada pelo Nino e enganou o goleiro Muriel, irmão de Alisson. Era o gol da vitória, do Fla-Flu, da Taça.
Vitinho fazia mais uma vez o gol do título, depois de já decidir o campeonato carioca um ano antes, contra Vasco. Vitinho não rendeu tudo o que podia render, mas foi decisivo na hora certa, tem seu lugar na história. Porém, o herói do bicampeonato não era Vitinho, ou Michael, que provocou uma confusão no final com pedaladas e dancinha, nem era Pedro ou Gabigol, mas era o Manto Sagrado, capaz de alegrar famílias inteiras, aquecer qualquer alma rubro-negra e esquecer um pouco os momentos difíceis do Covid.
Porém, a final também foi o final da Era Jesus. Dois dias depois do título, Jorge Jesus confirmou sua saída do clube, o que não era surpresa, com a pandemia que ameaçava tudo. Um final doce e azedo de uma Era que foi para mim apenas superada pelo Flamengo de 1978-1983. Foram 412 dias com o português no comando, 57 jogos, 129 gols marcados, 43 vitórias, 10 empates, 4 derrotas e 5 títulos. Isso mesmo, Jorge Jesus conquistou o Brasileirão, a Libertadores, a Recopa, a Supercopa e finalmente o campeonato carioca, conquistou mais títulos que perdeu jogos, e alegrou a Nação com um futebol ofensivo, moderno e exigente. Por tudo isso, muito obrigado Mister.








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