No último jogo, Flamengo goleou o Corinthians e tomou a liderança do Brasileirão de 2025. Já campeão carioca e da Supercopa do Brasil, a expectativa é de uma grande temporada. Outro ano histórico, eternizado no Francêsguista, foi em 1979, quando o Flamengo era liderado pelo seu maior craque, Zico.
Se o Flamengo já perdeu em 2025, o time de 1979 ainda era invito no final do mês de abril. Não perdia desde o mês de outubro de 1978 e chegava aos 43 jogos invictos, ameaçando o recorde do Botafogo, que ficou 52 jogos invictos. Flamengo chegava já como campeão a última rodada do campeonato carioca, que em sequência seria chamado de campeonato carioca especial com a criação de um outro campeonato com inclusão de mais times fluminenses. O último adversário, justamente Botafogo, podia apenas quebrar a série invicta do Flamengo, além de se vingar da derrota 3×0 sofrida no primeiro turno.
Assim, a cidade de Rio de Janeiro partiu para um carnaval antes mesmo do apito inicial. Nas ruas cariocas, teve trio elétrico, batucada, bandeiras e tudo que era Flamengo. O Mengão podia se tornar o primeiro time da Era Maracanã a se ser campeão carioca invicto. Mesmo campeão, só a vitória interessava, ou mais precisamente, a derrota era proibida. O Maracanã ficou cheio, com 158.477 pagantes, quase todos rubro-negros. Do lado da torcida botafoguense, tinha faixa lembrando o 6×0 de 1972 em favor do Botafogo. Para os botafoguenses, restava o passado, para nós, o presente e o futuro. No 29 de abril de 1979, o técnico Cláudio Coutinho escalou Flamengo assim: Cantarele; Toninho Baiano, Nelson, Rondinelli, Júnior; Paulo César Carpegiani, Adílio, Zico; Tita, Luisinho, Reinaldo.
Flamengo dominou o início do jogo, obrigando o goleiro Luís Carlos a fazer algumas defesas. O placar ainda era 0x0 e precisava de algum jogador para fazer a diferença. Claro, Zico, o maior jogador do Brasil, nesta altura já o maior artilheiro da história do Flamengo. Em 1979, Nosso Rei já tinha feito 31 gols em 24 jogos, porém passou em branco no jogo precedente, um 1×1 no Fla-Flu. Estava com fome de gols. Aos 30 minutos, pegou a bola e como maestro do time, fez o passe para Adílio. A bola ficou indecidida e Zico, como craque de raça, sempre acreditando nas jogadas, mesmo as perdidas, chegou, pegou de primeira, sem pulo, no fundo das redes.
Botafogo estava disposto a impedir a vitória rubro-negra, a não deixar o Mengo ser o primeiro campeão invicto da Era do Maraca. Num bom cruzamento de Clóvis, Gil cabeceou e empatou. No final do primeiro tempo, Flamengo aplicava seu jogo característico, de toques rápidos, de passes curtos e precisos, bola chegou até Zico, cercado por três botafoguenses. Teve tempo de chutar, bola foi bloqueada e teve outra indecisão na entrada da grande área. E de novo, Zico, que já sobrava na técnica, sobrou na raça também, chegou, chutou, desempatou. Depois do jogo, Zico tentou esclarecer o lance: “Eu driblei Wescley, chutei, a bola bateu na mão de Renê, espirrou, tocou na do Osmar, confusão, sobrou para mim, concluí de bico”. No Jornal do Brasil, o craque da literatura João Saldanha explicou: “No primeiro tempo, destacadamente, o Flamengo esteve superior apesar de seus gols terem saído de forma inesperada e com a marca de craque de Zico, que sabe aproveitar os detalhes, cada falha, e está sempre de olho no gol”.
No início do segundo tempo, Luisinho aproveitou uma falha de Nelson para ir no cara-a-cara com Cantarele e empatou. Botafogo buscava a vitória, Flamengo buscava o título invicto, que finalmente chegou com multiplicação de passes do time em campo e gritos “bicampeão” da torcida na arquibancada e na geral. Flamengo era o bicampeão, brilhando com um time coletivo. Porém, uma figura sobrava no time: Zico, artilheiro do campeonato carioca pela terceira vez consecutiva, igualando o recorde de Quarentinha no final dos anos 1950. E mais, com uma média absurda, 26 gols em 17 jogos, que repetirá ainda em 1979, para o tricampeonato, a tetra-artilharia. Para fechar, deixo as palavras de Daílton Crispim no Jornal dos Sports após o 2×2 contra Botafogo: “A gente só tem uma palavra para definir Zico: MONSTRO. O que está fazendo em campo é covardia. Há muito tempo, no Brasil, um jogador não desequilibrava tanto uma partida”.








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