Jogos eternos #278: Flamengo 5×0 Bonsucesso 1979

Há pouco tempo, escrevi sobre o 2×2 contra Botafogo de 1979, que consagrou Flamengo como o primeiro campeão carioca invicto da Era Maracanã. O torneio tinha os 6 melhores times do campeonato carioca de 1978 e os 4 melhores do campeonato fluminense, que se reuniram em 1979. A Confederação Brasileira de Desportos julgou o critério injusto e obrigou a FERJ a organizar um novo campeonato carioca, ainda em 1979, agora com 18 clubes.

O que virou depois o campeonato carioca Especial tinha acabado com um 2×2 contra Botafogo, com 2 gols do artilheiro Zico, com Flamengo campeão invicto. Depois, Flamengo jogou quatro amistosos entre o Distrito Federal, Rio Grande do Norte e Bahia, e ainda era invicto, agora eram 48 jogos consecutivos sem perder. O novo campeonato carioca, e a promessa do tri, começaram ainda em 1979, contra Bonsucesso. No 13 de maio de 1979, dia da Lei Áurea, o técnico Cláudio Coutinho escalou Flamengo assim: Cantarele; Toninho Baiano, Manguito, Rondinelli, Júnior; Paulo César Carpegiani, Adílio, Zico; Tita, Reinaldo, Cláudio Adão.

O Flamengo era o franco favorito contra Bonsucesso e precisou de apenas 12 minutos para abrir o placar. Cláudio Adão abriu na direita para Reinaldo, que cruzou, Zico chegou, bateu de primeira, fez a alegria da geral. Artilheiro do campeonato carioca especial de 1979 com os números absurdos de 26 gols em 17 jogos, Zico já abria sua conta e mirava um quarto título consecutivo de artilheiro, que se concretizou meses depois, quase com a mesma média, 34 gols em 26 jogos.

Flamengo dominava o jogo de forma absoluta, mas esperou o segundo tempo para fazer o segundo gol. Reinaldo cobrou o escanteio, o Deus da Raça Rondinelli chegou, cabeceou, não no gol, mas de forma inteligente para a segunda trave, para a cabeçada de Zico, para o segundo gol de Nosso Rei. Claro, Zico não era só artilheiro, era também o cérebro do time, o maestro, o criador das jogadas. Na metade do segundo tempo, Zico recebeu na entrada da grande área, e sem pensar, deixou de calcanhar para a chegada de Adílio, que dominou de pé esquerdo, deixou de trivela com o pé direito, para o chute de Cláudio Adão, para o terceiro gol do Mengo.

No final do jogo, outra jogada rápida, típica do Flamengo de Coutinho. Tabelinha entre Adílio e Zico, de um toque para Cláudio Adão, para outra tabelinha com Zico, e dupla tabelinha para Cláudio Adão, que chutou, bola foi bloqueada por um zagueiro, mas Flamengo, além de ser um time de talento, era um time de sorte, bola sobrou até os pés de Adílio, que fez o gol fácil. “O Flamengo de Cláudio Coutinho é uma equipe forte na defesa e no ataque, genial no meio campo. Um time que dosa momentos de irresistível velocidade com outros de toques de bola da melhor qualidade. Um time que joga pelos flancos ou pelo meio, dependendo onde estejam os melhores espaços” escreveu no dia seguinte o Jornal dos Sports.

E no finalzinho, outro escanteio de Reinaldo, o jovem Tita chegou e fez o gol para decretar o placar: 5×0 para Flamengo. “Continua o Flamengo dando cartas de mão no futebol carioca. Mostrando o que deve e precisa ser feito em outros clubes. Principalmente, repetimos, a aceitação de que futebol não é só para homens, como se costuma dizer, há muito tempo. Hoje, futebol é coisa de craques. Como a galera gosta” ainda escreveu o Jornal dos Sports.

Flamengo completou o tricampeonato carioca, infelizmente com uma derrota contra Botafogo que impediu o rubro-negro de ultrapassar o próprio Botafogo, empatando o recorde com 52 jogos consecutivos. A dominação ficou no momento apenas regional, infelizmente Flamengo foi goleado contra Palmeiras no Maracanã e perdeu a oportunidade de conquistar seu primeiro Brasileirão que parecia já certo. Assim, o time de 1979, histórico no Francêsguista, ficou atrás do time de 1981, mas já tinha a forma de jogar, de toques rápidos, de craques inspirados, de gols bonitos. E tinha o maior craque, Zico, na sua maior forma de artilheiro, com 81 gols na temporada. Assim, fecho a crônica com a observação do Jornal dos Sports sobre a atuação de Zico contra Bonsucesso: “No momento é o jogador que desequilibra qualquer partida. Normalmente, será sempre o melhor dos jogos do Flamengo. Então, nós aqui do JS pedimos licença ao seu Antunes e a dona Tidinha para colocar Zico fora de julgamento. A partir de agora, para nós ele é hors-concours”.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”