Jogos eternos #296: Flamengo 3×1 Bayern 1994

Flamengo está nas oitavas de final do Mundial dos clubes e fez sua parte, até mais, fechando a fase de grupos no primeiro lugar. Infelizmente, com algumas surpresas nos outros jogos, pegou um chaveamento mais difícil, com Bayern de Munique nas oitavas, talvez Paris nas quartas, Real Madrid na semi, Manchester City na final. Apesar da dificuldade, vejo o Bayern como um dos times mais poderosos do torneio, dá para sonhar alto, ainda mais porque Flamengo ganhou o único Flamengo x Bayern da história até aqui, em 1994.

O jogo de 1994 não aconteceu nem no Brasil nem na Alemanha, muito menos nos Estados Unidos, que ao mesmo tempo acolhia a Copa do Mundo, com a conquista do Tetra da Seleção. O jogo aconteceu na Malásia, para a inauguração do estádio Shah Alam. Flamengo estreou no Torneio Internacional de Kuala Lumpur com empate 0x0 contra a seleção olímpica de Austrália. Expulso no primeiro jogo, Charles Baiano cedeu seu lugar ao Magno, que fez um dos gols na vitória 2×1 sobre Leeds United. Flamengo estava na final, contra um gigante europeu, o Bayern de Munique. No 23 de julho de 1994, valendo título, o eterno técnico Carlinhos escalou Flamengo assim: Adriano; Henrique, Gélson, Rogério, Marcos Adriano; Fabinho, Marquinhos, Hugo Rodrigo Mendes; Sávio, Charles Baiano.

Por sua vez, o Bayern andava sem seus jogadores que foram aos Estados Unidos para a Copa, os alemães Lothar Matthäus e Thomas Helmer, o colombiano Valencia e o campeão do mundo Jorginho, que brilhou durante 5 anos com o Manto Sagrado antes de ir na Alemanha. Mesmo assim, o Bayern tinha em campo algumas promessas como Ziege, Hamann e Scholl e um craque na frente, o francês Jean-Pierre Papin, Bola de ouro em 1991. Para GloboEsporte, a então promessa rubro-negra Sávio explica: “A gente sabia que o time do Bayern era forte. Era o atual campeão alemão, mas eles estavam sem o Jorginho, que estava com a Seleção na Copa do Mundo, e sem um outro jogador que também estava na Copa. Mas era um time bom, forte. Para mim, com 20 anos, era uma oportunidade muito grande. Eu só queria jogar. Não queria saber quem estava do outro lado”.

No estádio Shah Alam, com publico de mais de 65 mil, o jogo começou mal para o Mengo. Aos 17 minutos, Papin driblou o goleiro Adriano e foi derrubado. O juiz apitou pênalti e ainda expulsou Adriano. Como o goleiro titular Gilmar estava na Copa, Carlinhos sacou o Rodrigo Mendes para a entrada do terceiro goleiro, Fábio Noronha, de apenas 18 anos e que fazia assim seu primeiro jogo com o Flamengo! Sem tremer, Papin converteu o pênalti e a situação ainda piorou para o Flamengo, com a lesão de Charles Baiano, principal nome do Flamengo no primeiro semestre de 1994. A goleada era temida.

Mas Flamengo é Flamengo, e o Manto Sagrado pesa mais que qualquer outra camisa. “Há de chegar o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores, nem de técnicos, nem de nada. Bastará à camisa, aberta no arco. E diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável” escreveu uma vez o escritor tricolor Nelson Rodrigues. Aos 30 minutos, com jogada ensaiada, Rodrigo Lourenço fez golaço de falta e empatou no jogo.

E aos 30 minutos, agora do segundo tempo, Marquinhos fintou um e chutou cruzado, a bola foi desviada e enganou o goleiro, morrendo na rede. Flamengo virou e no final do jogo, a estrela de Sávio brilhou mais uma vez. O Anjo Loiro puxou o contra-ataque e venceu o goleiro, decretando o placar final, 3×1. Flamengo conquistava a taça, ganhava o prêmio de 20 mil dólares, vencia um gigante europeu, de virada, com um a menos, de forma heroica. Para fechar, deixo a palavra para um dos craques do jogo, ao lado do goleiro estreante Fábio Noronha, nosso craque da Gávea, Sávio: “O nosso time era muito jovem, a base do time era jovem e formada no Flamengo. Ganhamos moral com a vitória com o Leeds. Fomos para final, sofremos um pênalti. O Adriano foi expulso e entrou o Fábio Noronha, que foi um dos melhores jogadores em campo. Ele pegou para caramba durante o jogo. Nós ganhamos de 3 a 1, com um jogador a menos, mas foi uma pressão muito grande deles. Até pelo que foi o jogo, com um jogador a menos desde o começo, a gente não esperava muito esse resultado. Mas quando acabou, parecia que tinha sido um título de um campeonato importante. Apesar de ter sido um torneio, foi de virada, um jogador a menos e contra o Bayern, foi um jogo bem legal. E, para mim, foi o meu primeiro torneio internacional e o meu primeiro jogo contra um grande da Europa. Foi super importante”.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”