Jogos eternos #300: Flamengo 3×2 Botafogo 1995

Para a crônica #100, escrevi sobre um Flamengo x Vasco de 1983 e para a #200 sobre um Fla-Flu de 2006. Para a crônica #300 dos jogos eternos, vou então do terceiro rival e vou cortar os anos 1983-2006 no meio, hoje eu vou de um Flamengo x Botafogo de 1995.

O ano de centenário do Flamengo começou bem, samba da Estácio de Sá no Carnaval, contratações de Branco e sobretudo de Romário, o maior jogador do mundo. No campeonato carioca de 1995, o Baixinho estava em grande forma, com 11 gols em 11 jogos, mas por causa de uma contusão no cotovelo, quase ficou fora da decisão da Taça Guanabara contra Botafogo. O atacante botafoguense Túlio Maravilha, nesta hora artilheiro do campeonato com 17 gols, provocou: “Essa dor de cotovelo dele é porque está perdendo espaço para mim”. Romário respondeu de forma ainda leve: “Ele não é ninguém para tirar onda com a minha cara” e partiu para o jogo, com uma proteção no cotovelo.

No 23 de março de 1995, valendo título da Taça Guanabara e mais um ponto para o octogonal final, o técnico Vanderlei Luxemburgo escalou Flamengo assim: Emerson; Fabinho, Agnaldo, Jorge Luiz, Marcos Adriano; Charles Guerreiro, Válber, Marquinhos, William; Sávio, Romário. O jogo no Maracanã começou num ritmo alto, Márcio Theodoro quase abriu o placar para Botafogo, que vinha de 7 vitórias consecutivas. Aos 7 minutos, Romário usou a inteligência e o corpo para lutar contra Wilson Gottardo e conseguir o pênalti, que claro, cobrou ele mesmo. No seu estilo particular, com calma e tranquilidade, com raça e habilidade, Romário colocou a bola no cantinho e abriu o placar.

Botafogo teve uma oportunidade de empatar, mas Túlio chutou para fora. Quem colocava dentro do gol era o maior artilheiro, o melhor centroavante, o Baixinho. O lance decisivo começou com matada de peito de Romário, que tabelou com Marquinhos e abriu de trivela na esquerda. A bola chegou até Sávio, que cravou a falta, mas com inteligência, o juiz deixou o jogo seguir. William cruzou, o Baixinho pulou, cabeceou e aumentou a dor de cabeça para os botafoguenses, agora dois gols atrás. Romário partiu para comemorar com a geral ainda antiga e raiz, mandou calar a torcida do Botafogo ou o próprio Túlio. Com apenas 22 minutos de jogo, a taça estava quase nas mãos rubro-negras.

O jogo mudou uma primeira vez aos 33 minutos, Agnaldo e Túlio se desentenderam e o juiz expulsou os dois. No final do primeiro tempo, Romário quase fez o terceiro, depois de aplicar dois dribles desconcertantes sobre Márcio Theodoro, mas a bola passou em cima da trave. Ainda não era a hora do hat-trick. No início do segundo tempo, Botafogo passou a dominar quase inteiramente o jogo, porém sem fazer gol. Ainda não era a hora de esquentar completamente o jogo.

No gramado do Maracanã, um urubu aparaceu, o jogo se equilibrou, mas o 2×0 no placar permaneceu. Até a entrada no jogo do botafoguense Adriano. Faltando 15 minutos para o final do jogo, num tiro indireto, Adriano venceu a barreira flamenguista e o goleiro, e colocou fogo no Maraca. Pior ainda para o Flamengo quatro minutos depois, quando o juiz assinalou um pênalti para Botafogo. Adriano cobrou e empatou. O destino era a prorrogação, mas pelo roteiro, pela fisionomia do jogo, a vitória do Botafogo talvez era ainda mais provável.

Romário apareceu muito pouco no segundo tempo, a não ser uma falta bem batida, mas bem defendida pelo Wagner. Nélio, que como Adriano também entrou no jogo, lançou Romário na profundidade. O zagueiro Márcio Theodoro interveio na primeira vez e se atrapalhou na segunda vez, oferecendo a bola para Romário. Claro, o Baixinho não perdoou, fintou uma vez, uma segunda vez, e colocou a bola no cantinho, para o terceiro gol dele, o terceiro do Mengo. O geral e as arquibancadas explodiram.

No finalzinho, Adriano cobrou muito bem uma outra falta, mas Emerson espalmou para escanteio. Depois de última falta sobre Romário, o juiz pegou a bola e apitou o fim do jogo. Com uma atuação tenebrosa de seu artilheiro do dia e da eternidade, Flamengo conquistava a Taça Guanabara. O ano do centenário começava muito bem, uma pena que acabou tão mal.

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O autor

Marcelin Chamoin, francês de nascimento, carioca de setembro de 2022 até julho de 2023. Brasileiro no coração, flamenguista na alma.

“Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte”