Em 1957, o eterno Mário Filho, o pai do Fla-Flu, escrevia: “Com o Fla-Flu sucede isso: parece que a gente os viu a todos, pelo menos os mais importantes. O que se poderia chamar as datas históricas do Fla-Flu. Não se dá o mesmo com os outros jogos. Pode-se lembrar um desses outros jogos. Quem não se recorda do Flamengo x Vasco de 23, do América x Vasco de 29? Mas os outros jogos se separam em lembranças esparsas, isoladas, que não se ligam. O Fla-Flu dá a impressão de que é o único match com história”. Assim, antes do Fla-Flu de hoje, vou para outro Fla-Flu, ao mesmo tempo um qualquer Fla-Flu e o único Fla-Flu. E como fazia um tempinho que não fui na melhor Era do clube, volto para um jogo de 1982.
A competição era o campeonato carioca, mas precisamente o primeiro turno, a querida Taça Guanabara. Flamengo era então tetracampeão da Taça e ainda andava bem em 1982: 6 vitórias e uma derrotinha contra o Americano. Com um jogo a mais, Vasco era o líder, com um pontinho a mais, e Fluminense estava logo atrás, com 5 vitórias, um empate e uma derrota. Era um dos períodos de ouro do futebol carioca, ainda mais para o Flamengo. No 29 de agosto de 1982, para mais um Fla-Flu decisivo, o técnico Paulo César Carpegiani escalou Flamengo assim: Cantarele; Leandro, Marinho, Mozer, Júnior; Vítor, Andrade, Zico; Wilsinho, Adílio, Tita.
Para o Fla-Flu, o Maracanã lotou com 122.142 presentes e uma renda de mais de 66 milhões de cruzeiros, recorde do campeonato. No campo, Flamengo era superior e concretizou a superioridade aos 17 minutos, com um reserva tão bom que era cotado para jogar a Copa de 1982, Vítor. O meia recebeu de Leandro, fintou do pé esquerdo, acelerou e deixou para Adílio. O chute de Adílio foi desviado e voltou nos pés de Vítor, que fintou mais uma vez de pé esquerdo e mandou com o pé direito a bola na rede, indefensável para o goleiro tricolor. “Vítor, o futebol de raça, técnica e elegância” elogiou no dia seguinte o Jornal do Brasil, que elegeu Vítor o melhor do jogo.
“A partir dos 18 minutos, quando Vítor marcou o primeiro gol, o Flamengo ficou absoluto em campo e fez o que bem entendeu com o adversário. Um futebol alegre, rápido, descontraído e envolvente. Foi assim que o Mengão levou a sua galera ao delírio, tal a facilidade com que passou a superar a defesa do Flu” escreveu agora o Jornal dos Sports. Dez minutos depois do primeiro gol, mais uma grande jogada do Flamengo, iniciada por Leandro, que invadiu a grande área no lado direito e cruzou alto. Adílio cabeceou e a defesa do Fluminense defendeu parcialmente. A bola voltou nos pés de Adílio, que acionou o trio magico no meio de campo. Adílio de trivela para Zico, um domínio e mais um passe de trivela, para Andrade, de dois toques também. Andrade dominou e arriscou de longe, o chute saiu bem e morreu na rede.
E sete minutos depois, ainda no primeiro tempo, Lico, que entrou no lugar do machucado Wilsinho, invadiu a grande área, passou entre dois defensores, e deixou na direita para o gol fácil de Marinho. Três gols em 17 minutos, era muito fácil para o Flamengo. “A superioridade do Flamengo foi tão grande que na metade do primeiro tempo, o Fluminense já era um time desesperado, inteiramente entregue e derrotado. Se forçasse, em vez de 3 a 0, a vitória do Flamengo poderia ter sido por um resultado bem maior” escreveu o Jornal do Brasil.
No segundo tempo, a superioridade do Flamengo foi igual, porém essa vez sem os gols. “Flamengo manteve o domínio técnico e tático e prosseguiu no seu show de bola. Com 3 a 0 no placar, o time do Flamengo aproveitou para dar mais uma exibição de técnica, alta categoria e virtuosidade de seus jogadores, com jogadas de alto nível. Não fossem as várias oportunidades de gol perdidas, poderia até aumentar a goleada” prosseguiu o Jornal dos Sports. No meio do segundo tempo, Zico mandou um chutaço de fora da área, mas a trave salvou o Fluminense. Sem importância no placar final, Flamengo vencia “um dos clássicos mais fáceis da historia do futebol carioca” segundo o Jornal dos Sports, vencia o Fla-Flu de tantas datas históricas, o único match com história.








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