Flamengo começa um dos meses mais importantes da temporada, jogando em seguida contra quatro times do G-6: Cruzeiro, Bahia, Botafogo e Palmeiras. Ainda no final do mês, tem os dois jogos da semifinal da Libertadores, com o sonho ainda vivo de conquistar uma dupla Brasileirão – Copa Libertadores, como em 2019.
Em 2014, porém, o cenário era diferente. Eram tempos de restrições financeiras, com um time bem modesto, que começou muito mal o Brasileirão: apenas uma vitória em 9 jogos. Depois de uma derrota 3×0 contra o próprio Cruzeiro, Flamengo passou a parada para a Copa na penúltima colocação do Brasileirão.
Na Europa, eu torço pelo Real Madrid desde a final da Liga dos campeões de 2000, um amor consolidado com Ronaldo Fenômeno e Zinédine Zidane, depois com Cristiano Ronaldo e Karim Benzema. O ano de 2014 começou como um sonho com a Décima finalmente conquistada e acabou em pesadelo com o 7×1. Só podia piorar e passei semanas tremendo, quase antecipando, que Flamengo ia cair para a Série B pela primeira vez neste ano de 2014 maldito.
Porém, Flamengo se recuperou depois da Copa e mesmo sem mostrar um grande futebol, voltou a vencer. Ocupava o meio da tabela, mas muito mais perto do Z-4 do que do G-4. Eu respirava, mas com dificuldades, ainda tremendo um rebaixamento depois de um Brasileirão de 2013 já sufocante. Flamengo ainda precisava vencer todos os jogos, ou quase. E o próximo adversário era temido, era o atual campeão, ainda líder disparado e futuro campeão, o Cruzeiro.
Em 12 de outubro de 2014, o técnico Vanderlei Luxemburgo escalou Flamengo assim: Paulo Victor; Léo Moura, Marcelo, Wallace, Anderson Pico; Víctor Cáceres, Márcio Araújo, Canteros; Éverton, Alecsandro, Eduardo. Um time bem limitado, com jogadores que davam ansiedade e até agonia. Porém, apesar da diferença técnica entre os dois times, tinha esperança, já que Cruzeiro andava com vários desfalques importantes: o convocado na Seleção Éverton Ribeiro e os lesionados Ricardo Goulart, Júlio Baptista, Borges e Dagoberto.
Era uma tarde de sol no Maracanã, o que nem sempre combina com uma vitória do Mengo. Já teve vários domingos ensolados frustrados com o Flamengo. O Mengo dominou o início do jogo e aos 15 minutos, Márcio Araújo ganhou uma bola, na parte do campo de Cruzeiro. Abriu na direita para Alecsandro, que cruzou. A bola foi desviada primeiramente pelo Manoel, o outro zagueiro Dedé chegou antes do Fábio e saiu mal, fazendo um belíssimo gol contra. Cruzeiro reagiu e passou a dominar o resto do primeiro tempo. Só não empatou por causa de um gol feito perdido pelo artilheiro do campeonato, Marcelo Moreno. Os Deuses do futebol pareciam ser rubro-negros nesta tarde de sol carioca.
No segundo tempo, foi a vez do outro zagueiro cruzeirense, Manoel, de falhar feio. Numa bola longa de Léo Moura, Manoel fez mal a proteção para a chegada de Fábio, Canteros teve tempo de roubar a bola e chutar no gol vazio. Cinco minutos depois, num contra-ataque rápido, Alecsandro cruzou da direita. Gabriel, que entrou depois do intervalo, chegou e tocou de primeira para o terceiro gol do Flamengo. O Maracanã explodiu de alegria, bem como o técnico Vanderlei Luxemburgo.
Flamengo, com seus craques como Canteros, Alecsandro e Gabriel, com a ajuda dos zagueiros adversários, amassava o líder Cruzeiro, conseguia uma segunda vitória consecutiva. Respirava mais na tabela e se distanciava definitivamente de um rebaixamento antes muito ameaçador. Assim, para fechar, uma escrita sagrada do gênio e visionário Nelson Rodrigues: “Para qualquer um, a camisa vale tanto quanto uma gravata. Não para o Flamengo. Para o Flamengo a camisa é tudo. Já tem acontecido várias vezes o seguinte: quando o time não dá nada, a camisa é içada, desfraldada por invisíveis mãos. Adversários, juízes, bandeirinhas tremem, então, intimidados, acovardados, batidos. Há de chegar talvez o dia em que o Flamengo não precisará de jogadores nem de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa, aberta no arco. E diante do furor imponente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável”.








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