Sem jogo hoje, eu vou de um jogo aniversário, de exatamente 50 anos atrás. Queria escrever sobre esse jogo um pouco antes, no Mundial de clubes, com a possibilidade de um Flamengo x Paris nas quartas de final, com meu coração dividido, de torcedor terceirizado. Infelizmente, Flamengo perdeu contra o Bayern nas oitavas e adiou a eternização desse jogo.
Há pouco, escrevi que na Europa, eu torcia pelo Real Madrid, desde meus 8 aninhos e a final da Liga dos campeões de 2000, um amor reforçado com os Galáticos de Ronaldo e Zidane. Mas também torço pelo PSG. Hoje pode estranhar, mas na época Paris não lutava com os gigantes da Europa. Na minha França natal, depois dos primeiros amores com o Mônaco, também em 2000, fiquei sem realmente torcer por um clube francês. Mas eu tinha um carinho pelo PSG por causa de ser o clube da capital, o Parque dos Príncipes e claro, a ligação com o Brasil. Gostei da época com Ronaldinho, da campanha na Liga dos campeões em 2004/2005, da temporada 2005/2006… Depois, comecei a acompanhar de perto o Flamengo, e com a queda dos Galáticos e a lesão de meu ídolo Ronaldo no Milan, foi só Flamengo, apenas Flamengo, sempre Flamengo.
Em 2010, me mudei para a Cidade Luz e comecei a realmente torcer pelo PSG, um time que tinha como estrela Nenê e coadjuvantes Giuly, Makélélé, Hoarau e Sakho. Um amor reforçado com a chegada dos cataris e dos grandes craques, alguns brasileiros. Também voltei a seguir de perto o Real Madrid com a segunda versão dos Galáticos. De novo, eu voltava ao futebol europeu, de novo tinha o coração dividido, de torcedor terceirizado.
Bem antes disso, em 1975, o Paris SG era um clube muito recente, ainda criança, de apenas 5 anos. Flamengo já era gigante, um vovô de 80 anos. E partiu para uma excursão na França para cumprir uma cláusula na venda de Paulo César Caju na França um ano antes. Também tinha a ideia de ser convidado para o prestigioso Torneio de Paris no ano seguinte, depois de uma primeira participação já na segunda edição do torneio, em 1958.
O Paris SG tinha seu craque, o argelino Mustapha Dahleb, oriundo de Béjaïa, na Cabília. Como apaixonado pela história do futebol e o clube, é um nome bem conhecido para mim. Já o Flamengo tinha vários craques, com o maior de todos, Zico. Tinha até o irmão de Zico, o também craque Edu Coimbra. Porém, estava machucado e voltou ao Rio de Janeiro no dia seguinte do jogo. Em 8 de outubro de 1975, o técnico Carlos Froner escalou Flamengo assim: Renato; Júnior, Rondinelli, Jayme de Almeida, Rodrigues Neto; Liminha, Tadeu, Zico; Paulinho, Luisinho, Luiz Paulo.
No Parque dos Príncipes, jogando em casa e com o apoio do público, Paris dominou o início do jogo. “No entanto, a partir dos 10 min, o time brasileiro passou a forçar os lançamentos longos, conseguindo fazer 1 a 0, aos 13 min. A jogada começou com Zico, que lançou Paulinho pela direita. O ponteiro foi à linha de fundo e centrou para a área, onde Luisinho tocou de cabeça para marcar. O goleiro Pantelic ainda chegou a tocar na bola, mas não evitou que ela chegasse às redes”, escreveu no dia seguinte o Jornal dos Sports.
O Paris SG voltou a tomar conta do jogo, ainda sem fazer gol. O goleiro rubro-negro Renato brilhou, espalmando para escanteio um chute do português Humberto Coelho. Renato fez outras grandes defesas em frente de Tokoto e Zico perdeu a chance de ampliar para o Mengo no final do primeiro tempo.
Para o segundo tempo, sem vídeo do jogo, apenas vou citar o Jornal do Sports: “No segundo tempo, o Flamengo melhorou seu rendimento, principalmente em função de Zico, que conseguiu fugir da marcação cerrada e organizou boas jogadas com Tadeu. O Paris Saint Germain caiu um pouco de produção e somente conseguiu seu primeiro bom ataque aos 20 min, quando M’Pelé cabeceou bem e Renato fez defesa difícil. O Flamengo fez 2 a 0 aos 22 min, num lance em que Zico partiu com a bola desde o meio-campo e deu um passe para Tadeu, que lançou Luisinho na área. O atacante apenas tirou Pantelic da jogada e marcou. Daí em diante, apesar da luta do time francês em busca de um gol, o Flamengo teve maior liberdade para atuar, criando ainda outras grandes oportunidades, que foram desperdiçadas por Paulinho e Luisinho. A partir dos 30 min, principalmente, o domínio do Flamengo foi total”.
O Jornal dos Sports manchetou “Mengo foi uma festa em Paris” e ainda precisou “Mengo vence e torcida aplaude: 2 a 0 no Saint-Germain”. Nas atuações, elogiou Renato, Júnior, Luisinho, Tadeu “o grande destaque da equipe, além de organizar as jogadas de ataque, esteve sempre presente nos lances defensivos, tudo com a melhor técnica”, e claro, Zico: “muito marcado, mesmo assim conseguiu participar de vários lances de grande categoria, inclusive o do segundo gol”.
Antes de jogar contra um combinado de jogadores PSG/OM, coisa improvável hoje, Flamengo vencia o primeiro confronto da história com o Paris Saint-Germain. Perdeu o segundo em 1979 apesar de um gol de Zico e empatou em 1991, com classificação rubro-negra nos pênaltis para a final do Torneio de Paris. Com um retrospecto equilibrado, o quarto jogo ainda se fez esperar. Mas pude antever com a possibilidade no Mundial de clubes, em caso de outro confronto, meu coração dividido, de torcedor terceirizado, ficará só Flamengo, apenas Flamengo, sempre Flamengo. Uma vez Flamengo, Flamengo além da morte.







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