Flamengo joga hoje contra o Racing com o objetivo de uma classificação para mais uma final da Copa Libertadores. Flamengo e Racing já se enfrentavam antes da criação da Copa Libertadores, até por motivos nobres. Em 1955, o ilustre presidente rubro-negro Gilberto Cardoso, aliás, se não o maior, um dos maiores presidentes da história do Flamengo, faleceu de uma parada cardíaca no Maracanazinho, assistindo a um jogo de basquete entre Flamengo e Sírio.
E Gilberto Cardoso quase antecipou a própria morte, deixando para a eternidade uma das frases mais fortes, e mais exatas, sobre o Flamengo: “O Flamengo, o flamenguismo, para ser mais exato, é uma cardiopatia. O Flamengo dá febre, dá meningite, dá cirrose hepática, dá neurose, dá exaltação de vida e de morte. O Flamengo é uma alucinação”. Na morte do presidente, a Manchete Esportiva escreveu: “Podia-se escrever no túmulo que se abriu, sábado, em São João Batista: ‘Aqui jaz Gilberto Cardoso, assassinado por uma vitória’. E nenhuma legenda mais exata, nenhuma legenda mais fiel. Pois o que matou o grande presidente rubro-negro foi um violento, um glorioso, um triunfal espasmo […] Não tenhamos dúvida, este homem levou como última lembrança terrena a imagem da apoteose rubro-negra. Gilberto Cardoso já dera tudo pelo seu clube, só lhe faltava dar a vida. Vai, Gilberto, abençoar o Flamengo na eternidade!”.
Depois da morte, Gilberto Cardoso conseguiu a façanha de reunir para um torneio no Maracanã quatro arquirrivais: Flamengo e Vasco do Rio, Racing e Independiente de Avellaneda. E mais, os times jogaram juntos, um combinado Flamengo x Vasco contra um combinado Racing x Independiente. Em 23 de dezembro de 1955, o time carioca, jogando com a camisa rubro-negra, derrotou o time argentino por 3×1, com um gol de Paulinho e dois de Dida. O resultado deu dois pontos para os cariocas e o Torneio Gilberto Cardoso prosseguiu com uma rodada dupla: Vasco x Independiente e Flamengo x Racing.
Na preliminar, a vitória ampla de Independiente por 4×1 sobre Vasco deu medo de outra goleada argentina no Maracanã. O Racing era o vice-campeão argentino e Flamengo tinha muitos desfalques, entre eles Índio, Rubens, Pavão e Paulinho. Em 27 de dezembro de 1955, o técnico Fleitas Solich escalou Flamengo assim: Chamorro; Leone, Servílio; Jadir, Dequinha, Jordan; Joel, Duca, Zagallo, Esquerdinha, Dida.
No Maraca, Flamengo começou o jogo de maneira cautelosa. No dia seguinte, escreveu o Diário da Noite: “Flamengo soube se armar para enfrentar o Racing. Sabendo que não estava com a força máxima e também alertado pela brilhante atuação do Independiente, o Flamengo iniciou a partida quase que inteiramente preocupado com a sua defesa. Assim é que Joel e Zagallo jogaram sempre dentro de seu próprio campo, ajudando a defesa e procurando lançar com profundidade à Dida e Esquerdinha”. Aliás, como ponta recuado, já percebemos a inteligência tática e a participação de Zagallo na modernização do futebol.
Ainda no primeiro tempo, Flamengo teve mais um jogador lesionado e Esquerdinha teve que ceder seu lugar para Babá. A falta de sorte deu sorte, Flamengo tinha uma dezena de craques na frente. Escreveu no dia seguinte o Jornal dos Sports: “Volta o Flamengo ao ataque. Babá recebe o couro, dribla um adversário e atira cruzado violentamente. Domínguez defendeu e soltou para Dida entrar e mandar às redes aos 34 minutos de jogo”. Logo depois, Dida quase fez o segundo, de bicicleta. “A contagem permaneceu no escore mínimo até o fim do período, traduzindo com pouca fidelidade o que realmente era a superioridade do Flamengo”, julgou o Correio da Manhã.
No início do segundo tempo, a dupla Dida – Babá voltou a funcionar, como descreveu o Jornal dos Sports: “Dida recebe de Milton e centra para Babá, de cabeça, encobrir o goleiro a marcar o segundo tento do Flamengo aos 12 minutos do segundo tempo”. Babá, um gigante de apenas 1,54 m de altura, fez uma “cabeçada espetacular” e colocou Flamengo perto da vitória. No final do jogo, Flamengo quase deixou escapar o sucesso. Rodríguez fez um gol para o Racing, Servílio salvou de cabeceio e no finalzinho, Chamorro fez uma “defesa sensacional” num chute poderoso de Bianco. O juiz inglês Charles Williams apitou, o Flamengo venceu.
“Flamengo, vingador terrível”, manchetou o Jornal dos Sports, em relação a goleada sofrida pelo Vasco. Faltava o jogo contra Independiente para vingar mais uma vez Vasco e sobretudo, para homenagear o maior e mais flamenguista presidente de todos, Gilberto Cardoso.







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